Luísa Sonza usa 'Doce 22' como um diário para enfrentar os acontecimentos pesados

'É possível transformar aquilo que parece ser a pior coisa do mundo em algo bom', afirmou a cantora

PUBLICIDADE

Foto do author Murilo Busolin
Por Murilo Busolin
Atualização:

“Depois de tudo que vivi e tudo que as pessoas viveram e sentiram comigo durante a divulgação do meu álbum Doce 22, senti que precisava dar um final feliz para a história. Decidi que preciso voltar a ter cor no meu dia. É essa a mensagem que eu quero passar para os meus fãs, de que é possível transformar aquilo que parecia ser a pior coisa do mundo em algo bom.” Essas são as palavras de Luísa Gerloff Sonza, artisticamente conhecida como Luísa Sonza e que, aos 23 anos, já é carinhosamente apelidada como a princesinha do pop brasileiro. Doce 22 é o irônico título do seu segundo disco, que virou uma espécie de diário aberto acerca da avalanche de acontecimentos pesados que ela enfrentou nos últimos anos.

Luísa Sonza usou as redes para comemorar um bilhão de streams de 'Doce 22' Foto: Denise Andrade/Estadão

O álbum causou tanto impacto, que recentemente bateu a incrível marca de 1 bilhão de streamings somados nas plataformas digitais, entre músicas e videoclipes. 22 foi lançado em julho de 2021, mas a cantora deixou três singles guardados para manter o projeto vivo na boca do grande público e são eles: Fugitivos, parceria com Jão; Anaconda, colaboração com Mariah Angeliq; e Café da Manhã, dueto com Ludmilla.

Luísa passou um semestre divulgando seu novo material envolta a uma persona mais sombria e agora o encerra muito mais leve, feliz e colorida. Após a descarga emocional que a acompanhou durante toda a era Doce 22, ela agora pode sorrir ao contar a sua história. “Quando assisti ao vídeo de Sua Cara (colaboração entre Major Lazer, Anitta e Pabllo Vittar, um dos maiores hits de 2017), logo pensei, é isso que eu quero fazer da minha vida. Comecei a admirar o pop no Brasil com Anitta, Ludmilla, Pabllo Vittar, Iza e isso é muito recente. Três anos depois do clipe de Sua Cara, fiz uma música e um clipe com elas, Modo Turbo, que foi o primeiro single do Doce 22”, conta.

“Por isso, iniciei esse álbum com muita energia e termino a divulgação com Café da Manhã. Todas são artistas que me inspiram e representam começos e fins grandiosos”, continua. Até o semblante durante a entrevista transparece sua atual calmaria, mas as vivências que inspiraram a produção do disco recordista foram dignas de nomear tornados. Sonza iniciou a carreira aos sete anos, cantando em festas de casamento na sua cidade natal, Tuparendi (RS), e não demorou muito para chamar a atenção de internautas quando começou a postar covers no YouTube durante a adolescência (meados de 2016).

A artista viu a sua carreira decolar após o sucesso dos singles funk-melody Devagarinho e Boa Menina. Hoje, possui dois discos de sucesso em seu portfólio, canta para uma multidão emocionada e orgulhosamente conta que se tornou amiga de suas maiores inspirações no mercado brasileiro.

A compositora já foi casada com o youtuber e humorista Whindersson Nunes e namorou o cantor Vitão, os dois artistas possuem uma legião de fãs e, como consequência, ambos os términos repercutiram em larga escala – resultando até em ameaças de morte. O caso se assemelha com o que seus ídolos e eternas princesas do pop internacional, Britney Spears e Christina Aguilera, passaram durante o amadurecimento artístico nos anos 2000. Mas, como uma boa popstar, Luísa reverteu todos os ataques em arte e transformou suas mágoas em uma sucessão de hits que encorpam a sua breve carreira.

Engana-se quem acha que a cantora produz um funk com muito mais rapidez do que uma baladinha romântica: “Tenho muito mais facilidade para criar músicas tristes que alegres. Por isso, eu me forço a ser um pouco mais feliz. Eu me forço a ser colorida, ou então vivo em um mar canceriano de muito drama e onde me afundo demais”, revela. O Doce 22 reflete sua angústia vomitada e moldada em um pop de qualidade. São faixas sinceras, provocativas, dançantes, íntimas e algumas profundamente tristes. “Eu fazendo meu trabalho, escutando só besteira” – essas são as primeiras palavras que Sonza entoa na faixa que abre o Doce 22 (Intere$$eira). São ofensas que ela lê com frequência em suas redes sociais.

Publicidade

“Eu até me emociono quando eu falo deste álbum. Fiz com todo o meu coração, é toda a minha vida. Ele me salvou de muita coisa, sou grata por ter tido a coragem e loucura de tê-lo feito”, fala emocionada. “Esse disco é um ato de transformação muito grande. Me mudou como artista e como pessoa, e eu sei que ele mudou a vida de muita gente também, pois se tornou algo coletivo.” A loira platinada sabe disputar um jogo pouco explorado no Brasil e utiliza táticas que foram realizadas com êxito por figuras carimbadas como Madonna e Miley Cyrus: elas exploraram a sua liberdade sexual em trabalhos que se tornaram referências e viradas de chave em suas carreiras, como o Erotica (1992) e o Bangerz (2013). Recentemente, Luísa foi duramente criticada por dançar no pole dance em um dos seus shows. Perguntada sobre qual motivo de o brasileiro não abraçar o pop nacional como abraça facilmente o pop internacional, ela não pestanejou na resposta.

“Eu subi no pole dance, mas não estava falando sobre pauta nenhuma, só estava querendo ser gostosa na cama. É bom que me coloquem em discussão, que pensem, reflitam e que mudem de opinião, pois esse é o verdadeiro objetivo da cultura pop. Em algum momento, as pessoas vão gostar de mim e em outros, não”, encerra a produtora. Luísa Sonza estuda todas as estratégias para que a sua carreira não seja um foguete do tipo Nasa com data para voltar. Ela entende que a carreira de um artista precisa estar de mãos dadas com números, qualidade e estabilidade.

“Eu me preocupo muito mais com a longevidade de cada lançamento, para que o projeto se torne inesquecível, se torne algo maior do que um número. É claro que grandes números fazem parte e gostamos de estar no topo, mas quero atingir o máximo de pessoas possível e quero ficar, não quero ir embora rápido”, enfatiza.Convivendo com ataques desde muito jovem, ela garante que a felicidade dos seus fãs faz valer a pena todas as lágrimas derrubadas.“Não é fácil ser artista. Tem o lado lindo de você se permitir, de amar o que está fazendo, mas tem o outro lado que, a pessoa Luísa, às vezes, acaba tomando muita porrada. Mas vale a pena estar aqui e lutar por tudo isso. Não faria nada diferente, nada”, encerra a popstar brasileira mais comentada dos últimos meses.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.