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Tia Surica lança CD com homenagens ao samba de raiz

Na coletânea ‘Conforme Eu Sou’, sambista regrava 12 canções de Manacéia, compositor da Portela morto em 1995, e que completaria 100 anos em 2021

Por CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA
Atualização:

Está lá, no encarte do disco: “Agradeço pelo respeito à sonoridade dos sambas do meu tempo”. É Tia Surica, louvando a produção de Paulão Sete Cordas em Conforme Eu Sou, seu terceiro trabalho, lançado de forma independente – na marcante foto da capa, a matriarca da Portela aparece, compenetrada, ainda aos quatro anos de idade, época em que recebeu da avó o apelido que a acompanharia por toda a vida.

Matriarca e integrante da velha guarda da Portela,Tia Surica Foto: WILTON JUNIOR / ESTADAO

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“O samba de hoje perdeu um pouco de sua identidade. O respeito à sonoridade quer dizer dar continuidade ao verdadeiro samba, aquele que a gente sabe que agoniza, mas não morre”, resume, parafraseando o clássico de outro baluarte, o mangueirense Nelson Sargento (1924-2021). “Continuo sendo do jeito que sou e fazendo samba do meu jeito”, resume. 

A idealização do CD nasceu como parte dos festejos de seus 80 anos, em 2020, mas o projeto só foi concretizado em 2021. Nele, Tia Surica (nascida Iranette Ferreira Barcellos) regrava 12 canções de Manacéia, homenageando o músico e compositor Manacé José de Andrade (1921-1995), portelense ligado aos primeiros anos da Azul e Branco de Madureira, que faria 100 anos em 2021. “É uma homenagem oportuna no ano que seria do seu centenário. Convivi muito com ele e com a sua família. Aliás, levei muita bronca dele, que foi quem me levou e me integrou na Velha Guarda da Portela e de certa forma é responsável pelo que eu sou hoje, fazendo sucesso depois de velha”, brinca a sambista.

“Eu já conhecia o repertório, já conhecia todas as suas composições, mas não foi muito fácil escolher, algumas músicas que eu gostava tiveram que ficar de fora.” Dentre as 12 canções que privilegiam o melhor partido alto “raiz” figuram Manhã Brasileira, gravada por Zeca Pagodinho em seu álbum Uma Prova de Amor, de 2008, e Flor do Interior, singela homenagem a Clara Nunes, a “Clara Guerreira”, outra mítica figura ligada à Portela. E, claro, o grande hit de Manacéia, a bela e saudosista Quantas Lágrimas, esmagador sucesso radiofônico nos anos 1970 na interpretação de Cristina Buarque (ex-de Hollanda), que por sinal tem participação especial em Conforme eu Sou, na faixa Inesquecível Amor. “Não poderia nunca deixar uma coisa linda como Quantas Lágrimas de fora”, assegura Tia Surica.

Em Carro de Boi, com a qual fecha o trabalho em companhia dos contemporâneos da Velha Guarda, Tia Surica escancara devoção e agradecimento ao falecido compositor homenageado. “Eu já conhecia toda a relação dela com essas canções. Vi isso literalmente no quintal do Manacéia, a Tia Surica era praticamente da família”, conta Paulão Sete Cordas (na carteira de identidade, Paulo Roberto Pereira de Araújo), arranjador e produtor musical que já produziu dois discos da Velha Guarda da Portela, nome virtualmente conectado a trabalhos de Zeca Pagodinho.

HARMONIA. Dirigir Tia Surica no estúdio em Conforme Eu Sou, ele diz, foi um processo natural. “Procurei valorizar as harmonias, as introduções, a levada surdo-tamborim. Conheço muito bem a linguagem do Manacéia, então privilegiei uma harmonização à moda dele. Ficou com uma linguagem fidedigna, próxima à da Velha Guarda da Portela.” Com a retomada proporcionada pela vacinação, Tia Surica reabre nos primeiros meses de 2022 a agenda suspensa pela pandemia, e que inclui shows em várias capitais, como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Porto Alegre, nessa ordem.

E, na esteira de Manacéia, já projeta voltar ao estúdio para homenagear outros bambas da galeria de sua escola de coração. Nomes como Monarco, Candeia, Zé Keti, Chico Santana e até um certo Paulinho da Viola. Não em um único CD, mas sim em trabalhos individuais. “São todos compositores históricos da Portela. Quero fazer um disco dedicado a cada um deles.”

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