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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Cannes, ABI e streamings estão de olho atento em Nelson Pereira dos Santos

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Nascido em São Paulo, mas radicado no Rio, Nelson dirigiu filmes fundamentais pra História, como "Rio, 40 graus" (1955) e "Vidas Secas" (1963), hoje ambos disponíveis em plataformas digitais Foto: MARCOS D'PAULA/AGENCIA ESTADO/AE

RODRIGO FONSECA Ronda pela Croisette a hipótese de que um filme sobre Nelson Pereira dos Santos (1928-2018) vá representar o Brasil no Festival de Cannes, possivelmente na Quinzena dos Realizadores. Só vamos saber qual é a partir do dia 13 de abril, quando o evento anunciar quais serão os títulos de sua edição número 76, agendada de 16 a 27 de maio. Sabe-se que há um longa sobre o cineasta sendo finalizado sob a direção de Aída Marques e Ivelise Ferreira, a viúva de Nelson. O projeto foi anunciado pela primeira vez em 2020, em plena pandemia, referindo-se a uma narrativa com base em entrevistas deixadas pelo diretor de "Rio 40 Graus" (1955) ao longo de sua carreira, numa cartografia das resiliências culturais do país. Quem estiver no Rio nesta Páscoa poderá (re)ver um de seus cults, em telona. No domingo, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) vai tecer loas ao diretor ao exibir um de seus títulos mais aclamados (adaptado de Machado de Assis), "Azyllo Muito Louco" (indicado à Palma de Ouro em 1970), às 19h, no Estação Net Botafogo, numa comemoração dos 50 anos do Cineclube Macunaíma. "Levei para o cinema valores que simbolizavam a força do povo brasileiro", disse Nelson em uma de suas derradeiras entrevistas ao Estadão.

Adaptação da obra confessional de Graciliano Ramos foi laureada pela Fipresci em Cannes - Crédito: poster original LC Barreto  

Há pérolas de Nelson espalhadas pelos streamings, que revelam sua importância pra invenção de um cinema moderno no Brasil. No Globoplay, além do já citado "Rio 40 Graus", há outros três títulos do realizador: "Rio Zona Norte" (1957); "Vidas Secas" (laureado em Cannes, em 1964, com o Prêmio Humanitário da Organisation Catholique Internationale du Cinéma et de l'Audiovisuel); e "Memórias do Cárcere" (Prêmio da Crítica também da Croisette, em 1984). É uma seleção memorável para quem deseja conhecer e para quem quer revisitar a obra de um diretor festejado entre seus colegas imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL) por seu empenho em prol da difusão do filme nacional em variadas latitudes. O que se encontra no streaming da Globo é sua fase de arranque, de inspiração neorrealista, nos anos 1950, com traços do que se pode chamar de pré-modernismo cinematográfico. A plataforma da TV Globo traz ainda dois diálogos de Nelson com prosa de Graciliano Ramos (1892-1953). "Continuo gostando do Graciliano da mesma forma. Outro dia estava relendo um de seus livros, 'Angústia'. Taí uma adaptação para o cinema que gostaria de ter feito", disse Pereira dos Santos ao P de Pop em 2017, em meio ao lançamento de uma caixa de DVDs com seus filmes. Na Amazon Prime, rola "Boca de Ouro" (1963), uma releitura de Pereira dos Santos para a saga de Nelson Rodrigues (1912-1980) sobre o D. Corleone de Madureira. Na mesma plataforma, é possível ver o thriller "Brasília 18%" (2006), com Carlos Alberto Riccelli. Quem sabe alguma editora não se anima a editar uma antologia dos roteiros de Nelson, entre eles os não filmados, como se projeto sobre o poeta Castro Alves.

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