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É Tudo Godard

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Jean-Luc Godard (1930-2022) em sua passagem pela Berlinale de 1981 - Foto: Erika Rabau © Stiftung Deutsche Kinemathek / Internationale Filmfestspiele Berlin

Rodrigo Fonseca A partir desta segunda-feira, "O Desprezo" ("Le Mépris", 1963) vai passar um mês na grade da plataforma MUBI comemorando seus 60 anos, sendo que a partir do próximo dia 25 "O Acossado" (1960) passa a lhe fazer companhia. Exemplares do que de melhor os 62 anos de carreira de Jean-Luc Godard (1930-2022) renderam de (des)construtivo para o audiovisual, esses dois longas formam uma espécie de brigada semiótica com a retrospectiva que o É Tudo Verdade, o maior festival de documentários da América Latina, presta ao realizador. Quem for ao Estação NET Rio 4 às 16h30 deste sábado vai conferir "Uma Só História/ Apenas Cinema", que integram a série de TV "Histórias do Cinema" ("Histoire(s) du cinema"), exibida como longa em Cannes, em 1988, e dividida em episódios produzidos pela France 3 e o Canal +. No domingo, no mesmo horário e local, o ETV exibe "Beleza Fatal"/ "A Morte Absoluta"/ "Uma Nova Onda". A escolha dessas produções pela curadoria de Amir Labaki é parte das honrarias póstumas ao realizador franco-suíço, que se matou por suicídio assistido em 13 de setembro do ano passado. A partir da semana que vem, a Suíça também presta homenagem a ele, na maratona documental Visions Du Réel (de 21 a 30 de abril, em Nyon). Existe ainda a hipótese de um filme surpresa, de 20 minutos, construído por Godard a partir da colagem de imagens de arquivo pouco antes de sua morte, chamado "Funny Wars", ser exibido no 76. Festival de Cannes (16 a 27 de maio). Seus colaboradores habituais, Fabrice Aragno e Jean-Paul Battagia, estão finalizando o curta, definido como um ensaio sobre a overdose de signos que a internet deposita sobre nós, a cada segundo. Não bastasse isso, streamings ao alcance de um clique, além da MUBI, também estão exibindo as joias godardianas. O www.mubi.com tem ainda em seu catálogo "Masculino-Feminino", que conquistou o Prêmio da Juventude e uma menção honrosa na Berlinale de 1966. O Globoplay, em dobradinha com a Rede Telecine, tem exibido "Uma Mulher É Uma Mulher" (1961), com a atriz Anna Karina (1940-2019) no apogeu de sua potência cênica. O filme também passou pelo Festival de Berlim e saiu de lá com uma láurea especial do júri. Na Amazon Prime é possível alugar "Duas Ou Três Coisas Que Eu Sei Dela" (1967), um ponto de virada na obra do cineasta, que aquece o fogão estético onde ele vai ferver a parte mais combativa de sua carreira, iniciando uma mistura de ficção, documentário e ensaística.

Trecho da série de JLG no É Tudo Verdade: "História(s) do Cinema" - Foto: © Véga films / JLG films / Gaumont

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No império do efêmero que o mundo midiático virou sob o garrote das fake news, o cineasta responsável por injetar poesia na semiologia, saiu de cena fazendo de sua partida um espetáculo transgressor, desafiando o Tempo, deixando como legado 118 filmes (entre curtas e longas) e mais 12 produções para a TV (entre séries e especiais). Segundo familiares e amigos próximos, entre eles, a mulher do diretor, a cineasta e produtora suíça Anne-Marie Mieville, sua morte foi uma opção diante do cansaço que sentia. Levando-se em conta que há ainda anotações dele prontinhas para que Anne-Marie e seus parceiros, Aragno e Battagia, deem partida a um novo filme, batizado por ele de "Scenario". Tudo indica que vem mais coisa de Godard por aí. Ainda falando em É Tudo Verdade, o longa de encerramento do evento será uma animação em stop motion: "Proibido Para Cães e Italianos", de Alain Ughetto. Sua narrativa faz uma viagem no tempo até o início do século 20, para a vila da família Ughetto. O vilarejo ficava no Norte da Itália. Viver na região haviaficado muito difícil e os Ughetto sonhavam com uma vida melhor no exterior. Reza a lenda que Luigi Ughetto cruzou os alpes para começar uma vida nova na França, mudando assim o destino de sua amada família para sempre. Seu neto, um animador, revive essas peripécias com a ajuda de bonecos. Vai ter sessão dele em SP, na Cinemateca Brasileira, no dia 22, às 19h. No Rio, acontece uma projeção também no dia 22, às 20h, no Estação Botafogo, com repeteco no dia 23, às 20h30, no Estação NET Rio.

p.s.: Na semana que vem a "Cahiers du Cinéma" lança na França uma edição especial, em forma de dossiê, com textos riquíssimos sobre a obra de François Truffaut (1932-1984).

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