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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Hal Hartley para francês (re)ver

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
 Foto: Estadão
O diretor nova-iorquino, hoje com 59 anos, desenvolve projetos para a TV Foto: Estadão

Há uns três anos, o diretor nova-iorquino foi mordido pelo bicho da televisão: dirigiu a série Red Oaks para o Amazon Studios e hoje desenvolve uma série de projetos de teledramaturgia. Mas parte do legado cinematográfico dele está sendo revisitado neste momento, a partir de um regresso de seu personagem mais famoso, Henry Fool, vivido pelo ator Thomas Jay Ryan em três longas-metragens rodados entre 1997 e 2015. A trinca formada por As Confissões de Henry Fool (Prêmio de Melhor Roteiro em Cannes, há 22 anos), Fay Grim (prêmio de júri popular no RiverRun Festival, na Carolina do Norte) e Ned Rifle (Prêmio do Júri Ecumênico no Festival de Berlim, há três anos) foi reunida num pacote de DVDs à venda pela Amazon e pelo site do cineasta (halhartley.com). O box é mais do que uma repaginação (em novas edições digitais) desses filmes: é um mergulho na tradição da estética avessa às regras de estúdio. Em recente entrevista, durante uma mostra que teve o crítico Leonardo Luiz Ferreira em seu timão, o diretor, hoje com 59 anos, falou ao Estado - por email - sobre seu reencontro com Fool e sobre o que sobrou do conceito de "alternativo" que movia sua filmografia no início da carreira.

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O que significa ser um cineasta indie? Hal Hartley:

Foi o ator e diretor John Cassavetes quem inventou essa história, sendo o 'pai' de todos nós, quando correu atrás de meios, entre favores e mobilização de seus amigos, para conseguir contar as histórias que queria - e que os estúdios não valorizavam. Falou-se muito de 'cinema independente' nos anos 1990, nos EUA, por conta de um empenho das distribuidoras europeias que investiam pesado em filmes menos formulaicos e mais adultos em busca de uma nova alternativa para seu público, oferecendo a suas plateias um cinema de prestígio intelectual. Mas o dinheiro da Europa, que vinha de uma relação de suporte cultural do governo escasseou. A TV hoje passou a suprir esse lugar.

Esse foi o saldo da série "Red Oaks"? Hartley:

Meu universo de pessoas é a baixa classe média dos EUA e elas assistem TV, onde há o desejo de se apostar em tramas diferenciadas, mais inventivas, como atração para o público. No cinema, hoje, existe o dilema do escoamento: com o avanço dos meios digitais, o barateamento das câmeras e o surgimento das tecnologias portáteis de celular, todo mundo filma, mas poucos exibem em tela grande. Na TV, existe uma janela certa. Desenvolvi recentemente alguns projetos de seriados de TV e escrevi muitos roteiros desses projetos.

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O que significa a expressão "cinema de autor" dos Estados Unidos de hoje? HARTLEY:

Talvez esse conceito faça referência à arte de prestar atenção à brechas, ou seja, encontrar o lugar certo para levantar inquietações particulares respeitando o contexto industrial. Entre os autores que mais marcaram a minha forma de amar o cinema, eu destacaria Howard Hawks e John Ford, cineastas "de mercado", mas que construíram sua obra integral em ambiente industrial. Existe uma poesia singular no olhar deles. E essa poesia se dá em meio a uma cartilha comercial, de espetáculo. A questão é saber encontrar sua voz.

p.s.: Com uma bilheteria global estimada em US$ 28 milhões,

"Dor e Glória"

, o mais recente longa-metragem do espanhol

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Pedro Almodóvar

, entra em cartaz nos EUA nesta sexta, de olho no Oscar, para si e para seu protagonista,

Antonio Banderas

, em estado de graça em cena.

p.s.2: Um convite ao Oscar para

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Jennifer Lopez

,

"As Golpistas"

(

"Hustlers"

), um dos filmes mais corajosos de 2019, diante da sanha conservadora dos novos tempos, já faturou US$ 95 milhões de carona na saga de uma grupo de strippers que usavam os cartões de crédito de seus cliente para enriquecer. O desempenho de Jennifer é a tradução do conceito de empoderamento.

p.s.3: Estima-se que

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"Um dia de chuva em Nova York"

possa abrir o Festival do Rio 2019, caso a campanha de financiamento coletivo para o evento dê certo - e vai dar. O desempenho de Elle Fanning como uma aspirante a repórter em visita à NY é hilário, sobretudo em seu breve flerte com um astro (Diego Luna) de fama GG.

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