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Como a Casas Bahia chegou à recuperação extrajudicial

Família Klein volta a estar entre principais acionistas em 2019; gestão profissionalizada toca reestruturação que busca focar empresa no varejo tradicional

Por Carlos Eduardo Valim
Atualização:

A Casas Bahia, que entrou em recuperação extrajudicial neste domingo, 28, é atualmente uma empresa de capital pulverizado, apesar de sua longa relação com a família fundadora Klein. A recuperação extrajudicial é uma negociação entre a empresa devedora e seus credores para renegociar dívida, sem depender de uma intervenção da Justiça.

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A empresa renegocia dívidas de R$ 4,1 bilhões. O pedido de recuperação já foi pré-acordado com os principais credores, Bradesco e Banco do Brasil, que detêm 54,5% dos débitos.

Atualmente, a família Klein possui cerca de 24% das ações da empresa, mas apenas Raphael Klein, neto do fundador, Samuel Klein (1923-2014), possui assento no conselho de administração.

A rede de varejo, especializada em eletroeletrônicos e móveis, foi criada em 1952, a partir das vendas como mascate do empresário Samuel, nascido na Polônia e que fugiu do extermínio nazista durante a Segunda Guerra, antes de se estabelecer em São Caetano do Sul (SP).

Loja da Casas Bahia em São Paulo Foto: Alex Silva/Estadão

Em 2009, a família Klein vendeu o controle da empresa para o Grupo Pão de Açúcar (GPA), do empresário Abilio Diniz (1936-2024), que fundiu a operação com as suas outras marcas de vendas de eletroeletrônicos (Ponto Frio e Extra), resultando na formação da Via Varejo. Os Klein, no entanto, mantiveram a propriedade dos imóveis onde estavam instaladas as lojas e parte das ações.

O caminho para a pulverização do comando ficou aberto quando o grupo francês Casino assumiu o controle do GPA, depois de uma disputa empresarial com Diniz. Sem interesse de diversificar os negócios além do varejo alimentício, o Casino, do empresário franco-argelino Jean-Charles Naouri, e a família Klein promoveram uma grande venda de ações em bolsa, no fim de 2013.

Samuel Klein, o fundador da rede varejista, faleceu em 2014 Foto: Kathia Tamanaha/Estadão

Naquela época, a Via Varejo já tinha ações cotadas na Bolsa de Valores de São Paulo, mas que representavam apenas 0,6% do capital. Então, no fim de dezembro, a empresa realizou uma oferta secundária de maior porte, que ficou conhecido como o IPO da Via Varejo, já que seria, na prática, a primeira vez que uma fatia considerável de suas ações passaria a ser negociada abertamente em bolsa. Com a operação, a empresa passou a ter 25,6% do seu capital em livre negociação.

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Seis anos depois, em 2019, Michael Klein, o primogênito de Samuel, voltou a ser o maior acionista individual da Via Varejo, ao comprar ações da empresa. Hoje, ele detém pouco menos de 10% das ações, que somadas às de sua irmã, Eva, e dos seus filhos Raphael e Natalie, somam 24% em mãos da família.

Reestruturação

O Grupo Casas Bahia registrou no quarto trimestre de 2023 um prejuízo líquido de R$ 1 bilhão, 513,5% maior do que no mesmo período do ano anterior. Foi o sexto trimestre consecutivo em que os resultados líquidos da empresa ficaram no negativo. O último em que registrou lucro foi no segundo trimestre de 2022, de R$ 16 milhões.

A venda total bruta no quarto trimestre de 2023 foi de 10,976 bilhões, uma queda de 12% ante um ano antes.

No ano passado, a Casas Bahia fechou 55 lojas. Além disso, reduziu estoques em R$ 1,2 bilhão em relação ao quarto trimestre de 2022. As despesas de pessoal caíram 18%, também na mesma base de comparação.

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Os números são resultado de uma reestruturação iniciada com a chegada de Renato Franklin, em abril de 2023, para o posto de CEO, vindo da locadora de veículos Movida. A escolha do executivo foi do presidente do conselho de administração, Renato Carvalho, da Laplace Finanças, o conselheiro independente que, em dezembro de 2022, substituiu no posto Raphael Klein. Fontes relatam que o alinhamento entre Carvalho e os acionistas principais dá respaldo à estratégia empreendida pela atual gestão.

Além dos cortes de custos, em setembro do ano passado, a Via Varejo anunciou que voltaria a se chamar Casas Bahia e que teria ações negociadas na B3 com o código BHIA3.

Dois anos antes, a Via Varejo (com código VVAR3) já havia sido renomeada como Via (VIIA3) para indicar que rumava para além do negócio de varejo. Mas na última reestruturação, ela tem buscado retornar às origens, não só com a retomada do nome de sua mais conhecida marca, mas também com a recuperação de slogans antigos, posicionamento de mercado, identidade visual e até com a volta o antigo garoto-propaganda do grupo, que remonta a épocas mais prósperas.

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A crise da empresa, prejudicada também pela alta da Selic, já parecia clara em agosto do ano passado, quando suas ações caíram cerca de 60%, sobretudo após um follow on (nova emissão de ações) mal-sucedido. A empresa buscava levantar R$ 1,1 bilhão, mas conseguiu apenas R$ 623 milhões, com um desconto de 28% no preço das ações em relação ao dia anterior.

Michael Klein, maior acionista da Casas Bahia Foto: Felipe Rau/Estadão

Segundo Michael Klein, em entrevista ao Estadão, a crise tem relação com uma tentativa de crescimento acelerado da empresa durante a pandemia de covid, com investimentos massivos em comércio eletrônico.

“Na época, era melhor se voltar para o comércio eletrônico. Passou a pandemia e a empresa continuou priorizando o online. Mas o cenário mudou, com a entrada de novos competidores, como Amazon, Shopee e Shein”, disse. “A nova diretoria resgatou o papel original do varejo, de fazer o crediário físico, presencialmente, via entrevista.”

Em entrevista no ano passado, Renato Franklin foi na mesma linha. “Estávamos gastando muito dinheiro para construir muitas coisas. Isso é uma briga insalubre e que queima dinheiro sem parar. Se você vai para o lado, para fora disso, que sempre foi nosso diferencial como Casas Bahia, estamos num oceano azul”, disse.

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