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'Acho que é um elogio', diz presidente do BNDES sobre ter sido chamado de 'garoto' por Bolsonaro

O executivo afirmou que não conversou pessoalmente com Bolsonaro depois que o presidente criticou publicamente o custo da auditoria

Por Idiana Tomazelli e Patrik Camporez
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente do BNDES, Gustavo Montezano, agradeceu nesta quarta-feira, 29, ter sido chamado de "garoto" por Jair Bolsonaro. "Acho que é um elogio", afirmou em coletiva de imprensa para explicar o gasto do banco com a auditoria da "caixa-preta" nas operações com o grupo J&F.

Na terça-feira, 28, Bolsonaro disse: "É o garoto lá, foi o garoto, porque, conheço por coincidência desde pequeno, o presidente do BNDES é um jovem bem intencionado. E ele que passou as informações disso que falei para vocês agora que são os aditivos. A ordem é não passar a mão na cabeça de ninguém. Expõe logo o negócio e resolve".

Gustavo Montezano recebeu como missão abrir a suposta caixa-preta do BNDES durante o governo de Jair Bolsonaro. Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

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O presidente também disse que "tem coisa esquisita" na auditoria. "Parece que alguém quis raspar o tacho". "(Com relação à fala do presidente) Entendi que parecia que alguém queria gastar todo dinheiro. A gente provou aqui (na coletiva de imprensa) que não foi o caso", rebateu Montezano, após exibir planilhas que detalhavam os aditivos das contratações.

"Meu entendimento em relação ao que 'está esquisito' é que era importante a gente estar aqui para esclarecer o que está esquisito. A gente fez um trabalho extenso de revisão de tudo o que aconteceu no banco para dar segurança e esclarecimento. A gente veio a público", afirmou.Ao encerrar a coletiva ele afirmou no entanto que, naquele momento, todas as questões estavam "exauridas". O executivo afirmou que não conversou pessoalmente com Bolsonaro depois que o presidente criticou publicamente o custo da auditoria. "Foi com interlocutores, não foi pessoal".

A abertura da "caixa-preta" foi uma das missões conferidas por Jair Bolsonaro ao Montezano, que tomou posse em substituição a Joaquim Levy, primeiro nomeado pelo governo para comandar a instituição. Ele se juntou a outros executivos que passaram pelo banco após o fim da gestão Dilma Rousseff e tiveram dificuldades para comprovar irregularidades na concessão dos financiamentos.

No governo Temer, Maria Silvia Bastos Marques evitou o assunto. Paulo Rabello de Castro e Dyogo Oliveira negaram sua existência. "Ou sou um completo idiota ou não existe 'caixa-preta' no BNDES", chegou a dizer Rabello.

Levy falou em "ter clareza sobre operações do passado", mas não chegou a avançar na busca por operações fraudulentas. A dificuldade foi apontada como um dos motivos para a insatisfação de Bolsonaro com sua gestão - o executivo pediu demissão após o presidente dizer em entrevista que estava "por aqui" com ele.

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A "caixa-preta" foi um dos temas dominantes na campanha de Bolsonaro. Para muitos apoiadores do presidente, a sua abertura teria potencial para malfeitos maiores do que os descobertos pela Operação Lava Jato na Petrobrás.

Logo após a vitória nas urnas, o presidente eleito se comprometeu a determinar, no início do mandato, "a abertura da 'caixa-preta' do BNDES e revelar ao povo brasileiro o que foi feito com seu dinheiro nos últimos anos".

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