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Argentina recomeça a negociar com ‘abutres’

Ministro de Finanças viajará até os EUA para saber como está a disputa e quais são as exigências dos credores

Por Rodrigo Cavalheiro e correspondente
Atualização:

BUENOS AIRES - O ministro da Fazenda e Finanças da Argentina, Alfonso Prat-Gay, defendeu nesta quarta-feira, 13, a retomada, sem uma proposta de pagamento, da negociação com os fundos abutres. Esse foi o apelido dado pelo kirchnerismo aos credores que não aceitaram a repactuação da dívida argentina após o default de 2001 e exigem a quitação integral. Prat-Gay estimou a dívida atual em US$ 9,9 bilhões.

Enquanto representantes do governo argentino, dos fundos financeiros e mediadores se reuniam pela primeira vez em um ano e meio em Nova York, Prat-Gay argumentou em entrevista coletiva em Buenos Aires que o encontro nos EUA serviria para saber a situação da disputa e o que os credores exigem.

Ministro da Fazenda da Argentina, Prat-Gay, defende retomada de conversas Foto: Marcos Brindicci|Reuters

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“A Argentina está há 15 anos em default e é preciso resolver isso. O lixo não é nosso, mas não temos problema em terminar de limpá-lo. Só não esperem uma proposta imediata. Queremos entender a postura dos que têm essa posição e esperamos que tenham interesse em negociar de forma séria.” Na véspera, o presidente Mauricio Macri afirmou que o país queria deixar de ser catalogado como inadimplente.

Prat-Gay afirmou que a pendência saiu caro para a Argentina. Segundo seus cálculos, a dívida inicial era de US$ 2,9 bilhões e passou a US$ 9,9 bilhões, incluídos os chamados “me too”, credores que não estavam entre os 7% que recusaram a renegociação mas também podem aderir à demanda.

“Vamos resolver o mais rápido e justamente possível. Estar em litígio permanente em uma corte que escolhemos é excluir projetos de investimento próprios e estrangeiros. Brigando com os abutres não estamos fazendo um favor aos argentinos, não acreditem isso”, acrescentou Prat-Gay. A retomada de obras de infraestrutura faz parte do plano de Macri para fazer o país voltar a crescer.

Moratória. A Argentina perdeu acesso ao mercado internacional em junho de 2014, quando o juiz Thomas Griesa emitiu uma decisão favorável aos fundos, na qual paralisava o pagamento dos demais credores e colocava o país em moratória definida como parcial. O grupo de credores é liderado pelo bilionário americano Paul Singer, que detém papéis da dívida externa que ficaram fora das reestruturações em 2005 e 2010.

Enquanto economistas ligados ao governo defendem o caminho de uma solução rápida para ter acesso a créditos internacional, especialistas ligados ao peronismo consideram a questão secundária. “O acerto com os abutres não é um tema essencial para a recuperação de investimentos. Os principais problemas são a inflação, o crescimento e a falta de dólares”, diz Aldo Ferrer, ex-ministro da Economia. Para ele, partir do pressuposto de que o acerto é essencial ou inevitável dá pouca margem à Argentina. “Os fundos compraram os papéis por nada e agora querem um valor extraordinário”, critica.

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Embora o novo governo argentino tenha adotado palavras menos duras com os credores, mandou um sinal oposto ao contratar o advogado Lee Bucheit, um perito em litígios, e não em aproximações. O mediador, com quem funcionários macristas tiveram contatos informais, é Daniel Pollack, designado há um ano por Griesa.

Depois de estar próximo de fechar um acordo de pagamento de 80% da dívida, o governo de Cristina Kirchner recuou e partiu para o confronto com os credores, a quem acusava de extorsão por terem comprado títulos baratos e exigir o valor nominal. Mesmo que haja um acerto nos EUA, Macri ainda terá dificuldade para passá-lo pelo Senado, dominado pelo kirchnerismo.

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