EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Existe uma política econômica de esquerda no Brasil?

Governo se firma em estratégia do passado para agradar um País majoritariamente de centro-direita

PUBLICIDADE

Foto do author Celso Ming

Pesquisa recente do Ipec (ex-Ibope) revela que apenas 18% dos eleitores brasileiros consideram-se de esquerda.

PUBLICIDADE

Por aí já dá para ter ideia das dificuldades encontradas pelo governo Lula, que se intitula de esquerda, para colocar em prática plataforma também de esquerda, para um Brasil majoritariamente de centro-direita.

Mas a questão central consiste em saber o que seria uma política econômica que atendesse essa minoria de 18% do eleitorado. Para tentar responder a essa pergunta é preciso, primeiramente, saber o que pensa essa esquerda do Brasil e quais seriam suas principais demandas políticas. Aí, enfrentamos uma intrincada barafunda.


A velha esquerda de alma socialista quase não existe mais. Nem os remanescentes do antigo Partido Comunista do Brasil insistem em medir tudo pela luta de classes e por tentar construir a ditadura do proletariado, com tudo o que se seguisse.

Mas ainda há entre o pessoal que se considera de esquerda os que defendem diretrizes nacionalistas que às vezes se manifestam como a defesa da indústria no País – ainda que comandada pelo capital multinacional – e, nesse sentido, adotam posturas dos tempos da substituição de importações, que deram o que tinham de dar. Outros recomendam incentivos aos chamados campeões nacionais do futuro.

Publicidade

Há, ainda, as políticas protecionistas caracterizadas pela reserva de mercado, distribuição de benefícios fiscais e exigências de conteúdo local. E a defesa intransigente de estatais, embora quase sempre camufle interesses corporativos dos funcionários.

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante reunião ministerial em Brasília-DF.  Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

Podem-se acrescentar entre essas esquerdas movimentos cujo objetivo principal seja a defesa dos sindicatos. O presidente Lula, antigo líder dos metalúrgicos, tende a favorecer esse segmento, mesmo quando alega a necessidade de garantir os direitos dos trabalhadores.

Embora ainda influentes, essas tendências devem hoje ser entendidas como minoritárias entre as esquerdas que, por sua vez, já são minoritárias. Prevalece nesse campo a luta pela emancipação da mulher e dos direitos reprodutivos, pelos direitos LGBT+, da população negra e dos povos originários.

Não há união mínima entre esses grupos identitários. Brigam uns contra os outros e tentam impor suas próprias prioridades. As comunidades de afirmação racial pouco se importam, por exemplo, com a demarcação de terras ou em estabelecer cotas para mulheres.

Entre os países que mais conseguiram erradicar a pobreza e incluir populações inteiras nos mercados de trabalho e de consumo estão a China, a Coreia do Sul e outros tigres asiáticos. Mas não dá para dizer que esse resultado foi obtido com a implantação de políticas econômicas de esquerda.

Publicidade

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.