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‘Existe uma falsa ideia de que o genérico é cópia’, diz CEO da Cimed

Executivo defende a qualidade e urgência do remédio mais barato e quer ter uma fintech farmacêutica

Por Sonia Racy
Atualização:
Foto: arquivo pessoal
Entrevista comJoão Adibe MarquesCEO do Grupo Cimed

Trabalhando em família desde os 15 anos, hoje pai de cinco filhos, João Adibe Marques é visto no mercado como um empresário “fora da curva”. Começando num endereço da Praça da Sé, em São Paulo, onde disputava compradores no final dos anos 80, fez de sua empresa, a Cimed, um “case” de verticalização no setor farmacêutico, assumindo, além dos medicamentos, as áreas de embalagem e transporte. Além disso, com mais de 2 milhões de seguidores no Instagram, tornou-se um fenômeno nas redes, onde dá dicas de empreendedorismo. Em outra frente, fez da Cimed uma patrocinadora do Palmeiras, do Cruzeiro e da seleção brasileira.

Uma de suas batalhas hoje é pela expansão dos genéricos. Responsáveis por 35% do mercado farmacêutico brasileiro, ele os vê como indispensáveis num País de tantos compradores pobres. Em um balanço pela passagem do Dia do Genérico, em 20 de maio, João Adibe, como é conhecido, admitiu que desafios não lhe faltam. A começar pelo fato de que “existe uma resistência, uma falsa ideia de que o genérico é uma cópia” – como se valesse menos que o remédio original. Não faz sentido, adverte, dado o rigoroso processo de fiscalização da Anvisa.

Adibe vê no futuro um novo espaço para as farmácias, com as receitas online, viabilizadas pelas consultas eletrônicas. Nessa toada, quer fazer do Grupo Cimed também uma fintech do setor, “para financiar diretamente as farmácias”. A seguir, trechos da entrevista.

A Lei dos Genéricos completou 24 anos. O que isso significa para a saúde dos brasileiros e para o setor farmacêutico?

Significou uma grande mudança, pela maior acessibilidade de imensa parte da população aos medicamentos, que podem ficar muito mais baratos. Esse segmento ocupa hoje 35% do mercado farmacêutico do Brasil e movimenta R$ 200 bilhões por ano. Tudo o que se vende em farmácia, excluindo os hospitais, soma R$ 140 bilhões. Os genéricos estão crescendo nos últimos anos no Brasil na casa dos dois dígitos.

No 20 de maio, Dia do Genérico, você o defendeu e o promoveu numa campanha na empresa. Por quê?

Creio que ainda exista uma resistência e uma falsa ideia de que ‘genérico é uma cópia’. Mas não é. Ele passa por todo um processo de fiscalização da Anvisa. A Cimed assumiu essa bandeira e foi um sucesso. Nas nossas farmácias decidimos dar uma segunda caixa de cada genérico vendido. O movimento aumentou cinco vezes.

Cimed patrocina os times femininos de Palmeiras e Cruzeiro, e as seleções masculina e feminina de futebol Foto: Fabio Menotti / Palmeiras

Vocês verticalizaram seu modelo de atuação. Pode explicar a razão disso?

A Cimed, na verdade, é o único caso de verticalização no setor, iniciado em 1990. Conseguimos estar em praticamente todas as farmácias do País – são 80 mil, das quais 62 mil independentes, pequenas, que crescem mais que as redes. Dispomos de distribuição própria, desde a fábrica da embalagem aos medicamentos e à transportadora. O próximo passo é sermos também uma fintech, para financiar diretamente as farmácias.

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Como isso funcionaria?

A verticalização vem da estrutura de embalagem, fábrica e distribuição, certo? Hoje a gente já está dando crédito a farmácias por não ter outro intermediário. Então por que não criar uma operadora financeira para esse canal?

De que modo pensa levar avante esse projeto?

A gente já começou esse modelo. Porque a maioria das farmácias do País, essas 62 mil pequenas, e mais independentes, atuam tanto em cidades pequenas como metrópoles. E em muitos casos funcionam na prática como um posto de saúde, dependendo da região onde atuam.

Além disso, já existem em muitos lugares as consultas médicas via internet.

Sim, o que levou também às receitas eletrônicas. Novas funções. Daí que hoje a farmácia é o segundo lugar mais visitado do País depois do canal alimentar. Vende produtos de higiene e beleza também. Em alguns Estados do País, até comida.

Aos 47 anos de existência, como define a posição da sua empresa no mercado?

Nossa previsão de faturamento para 2023 é de R$ 3 bilhões. Desses, R$ 1,2 bilhão vem dos genéricos. Lançamos em média de dez a 20 produtos por ano. Nosso portfólio possui 80 moléculas, queremos chegar a 200 em três anos. No Brasil, os genéricos representam 35% do mercado, mas acreditamos muito no seu crescimento. Nos EUA, já chegam a 90%.

Vocês fabricam o produto original ou importam?

As matérias-primas são 100% importadas, o Brasil depende 99% disso. É que a China e a Índia, por causa de sua enorme população, produzem esses itens em alta escala, é impossível concorrer com eles. Veja só, o Brasil tem 300 farmacêuticas; a Índia, 4 mil.

Como vê hoje as atuações do SUS e da Anvisa?

Com o SUS, o Brasil deu uma aula de sistemas de saúde para o mundo. Sinto orgulho dos dois, porque são órgãos técnicos. No caso da Anvisa, quando se fala em regulamentação. Ela dá todo o parâmetro legal que uma empresa precisa ter. Porque é um órgão técnico, não um órgão político.

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