Exageros à parte, o fato é que a distância entre homens e mulheres, principalmente no mercado de trabalho, continua enorme, apesar do ligeiro recuo na desigualdade nos últimos anos. Segundo estudo feito pelo IBGE com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), no quarto trimestre do ano passado as mulheres ainda recebiam 20,5% menos que os homens no Brasil -- na comparação com 23,4% em 2012.
O estudo, que leva em conta a faixa específica de 25 a 49 anos, constata que o rendimento médio mensal dos homens no fim de 2018 era de R$ 2579 e o das mulheres, de R$ 2050. E esse descompasso tem origem tanto na remuneração inferior por hora trabalhada quanto na menor jornada exercida pelas mulheres. Jornada fora de casa, é bem verdade, porque dentro de casa ela é bem mais extensa, incluindo as tarefas de dona de casa e mãe e, para completar, as tarefas de cuidar dos idosos.
Justamente em razão dessa disparidade, a proposta para a reforma da Previdência prevê a fixação de uma idade mínima para a aposentadoria das mulheres inferior à dos homens -- por enquanto, 62 frente a 65 anos, com chances de cair ainda mais.
É quase inacreditável que, a essas alturas, ainda seja necessário manter políticas públicas em favor da redução das desigualdades entre homens e mulheres. Na campanha presidencial, por exemplo, o tema foi recorrente na plataforma de vários candidatos. Até Bolsonaro, conhecido por suas declarações tidas como misóginas, tentou se descolar dessa imagem, mas sem se comprometer com uma ação afirmativa pró-mulheres.
O argumento simplista, quase simplório, era de que bastaria cumprir a lei, que já determina a igualdade entre as condições oferecidas a homens e mulheres no mercado de trabalho. Como se isso fosse suficiente para eliminar o problema. Tomara que, nos próximos anos, a lenta redução nas desigualdades dê lugar a uma virada radical nesse quadro. A ponto de transformar bombons e flores no que são exatamente -- meros presentes e não símbolos de uma "desvalorização" das mulheres.