ESPECIAL PARA O ESTADÃO - O complexo Cidade Matarazzo está situado a uma quadra da Avenida Paulista. A proximidade com o cartão postal de São Paulo, no entanto, transcende a geografia. Ambos são uma alegoria de épocas e movimentos econômicos que marcam a metrópole. A avenida já foi palco das mansões de barões do café. Posteriormente, com a industrialização, foi um marco de modernização, atraindo negócios e edifícios comerciais e residenciais para seu entorno. Hoje, fervilha por conta das atividades profissionais, serviços, bares, restaurantes que giram ao seu redor, e do polo cultural que se tornou.
Fruto da determinação do imigrante italiano e industrial Antonio Maria Matarazzo, o complexo ocupa um terreno de cerca de 30 mil metros quadrados. Nele, ergueu o Hospital Umberto I, em 1904, a Capela Santa Luzia, em 1922, e a Maternidade Condessa Filomena Matarazzo, em 1943.
No total, são 10 edifícios tombados pelo Patrimônio Histórico. “Uma vila construída em arquitetura toscana do século 20″, segundo informa o site do local.

Em 2003, após a desativação total de suas instalações, a área ficou abandonada até ser adquirida, em 2007, pelo empresário francês Alexandre Allard, que colocou em prática a transformação do local, por meio do consórcio formado pela RFM Incorporações e Sergio Porto Engenharia.
Hoje, une passado, com a preservação dos prédios históricos, e a modernidade ao reunir áreas comerciais, uma unidade do super luxuoso Hotel Rosewood, apartamentos, áreas verdes e em setembro ainda vai entregar mais um ponto cultural para a região, a Casa Bradesco. A previsão é que o complexo tenha 34 pontos de gastronomia,
Capela
A conservação da capela e da maternidade enquanto as obras do complexo eram executadas no subsolo renderam ao consórcio o prêmio Soluções Tecnológicas do Master Imobiliário. “A complexa operação e os muitos desafios técnicos foram superados com um conjunto inédito de soluções tecnológicas que contribuíram sobremaneira para o sucesso do projeto”, diz a Justificativa do Júri.
Durante o processo, a capela chegou a ficar suspensa por pilares a uma altura de 30 metros do solo, enquanto eram construídos 8 pisos abaixo dela. A maternidade também passou por processo semelhante.
“Uma vez cravados esses pilares, fizemos uma laje em cima deles para apoiar a capela”, revela José Romeu Ferraz Neto, presidente e cofundador da RFM.

“Foi um desafio muito grande sustentar e executar a obra. O altar tem o chamado tombamento zero, ou seja, o mármore não podia nem mesmo trincar ou sair do lugar. Usamos jato de água para tirar a terra, porque não podia haver nenhuma vibração, que pudesse afetar a capela”, diz Marcio Moraes, cofundador da RFM.
“Quando se faz uma fundação com tubulão (método empregado na obra), às vezes há um vazio de concreto que não é possível enxergar. Poderia haver um solavanco e a capela trincar”, acrescenta. O templo foi reaberto em 2021.
Sergio Porto, por sua vez, destaca o desafio de executar um projeto do exigente arquiteto Jean Nouvell com decoração de Philippe Starck, referindo-se ao edifício que abriga o Rosewood São Paulo e o setor de apartamentos.
Escultura
Na verdade, acho que não é um prédio, é uma escultura”, diz. E chama a atenção para o fato de não haver dois apartamentos iguais. “São 120 unidades e 620 varandas diferentes”, diz Moraes.
Os jurados ressaltam a excelência, técnica e dedicação das empresas. Para eles, o Cidade Matarazzo é um megaempreendimento que resgata e qualifica seu entorno. “E se constitui como novo ícone da cidade de São Paulo”, diz o texto do júri.
Para Ferraz Neto, o projeto contribuiu para o “ressurgimento” de toda a região. “Virou ponto turístico”, afirma Moraes.