Gandini ainda não repassou a alta do dólar aos preços, mas não sabe até quando será possível manter essa situação. Ele diz temer pelas 137 concessionárias da marca e seus 7 mil funcionários. "A matriz (na Coreia) tem ajudado um pouco, mas o desconto que precisamos para compensar as perdas é tão grande que não temos nem como pedir."
Segundo ele, um carro que supostamente custa US$ 100 mil tem de ser vendido a R$ 250 mil se for importado dentro da cota de 4.800 veículos que a marca tem direito a trazer sem o IPI extra. Fora da cota, o preço vai a US$ 490 mil só por conta de impostos. "Agora multiplique tudo isso por dólar de R$ 3,25", diz o executivo.
"O efeito do dólar é na carne, no sangue", diz o presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa), Marcel Visconde. Segundo ele, o pior da situação atual é não saber a direção que a cotação da moeda americana vai tomar.
Visconde diz que a maioria dos importadores ainda não está repassando os efeitos da valorização aos preços, mas isso ocorrerá em algum momento. "Num ambiente de demanda fraca, é difícil repassar preços ao consumidor". As vendas totais de importados no primeiro bimestre caíram 27% em relação a 2014, para 13,2 mil unidades.
Cotas
Gandini esteve recentemente com o ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, para pedir uma revisão do sistema de cotas. No caso da Kia, a proposta é triplicar o volume atual, para algo próximo a 15 mil unidades por ano.
O executivo lembra que, quando o regime de cotas foi criado, o dólar estava em R$ 1,60, por isso a medida "até fazia algum sentido naquele momento". Mas agora, com a cotação disparando e a restrição das cotas "é inviável a importação de automóveis".
O grupo chegou a vender 80 mil carros em 2011, volume que caiu para 48 mil em 2012, para 29 mil em 2013 e despencou para 24 mil em 2014. "Em 2015 espero repetir o ano passado, mas, do jeito que está, será difícil", afirma Gandini.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.