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Clima de tensão já muda previsão de crescimento

Por Agencia Estado
Atualização:

Nos bancos de investimentos de Wall Street os recentes problemas políticos do governo e as más notícias da economia já provocam uma reavaliação dos cálculos sobre um novo ciclo de crescimento sustentado que vários analistas esperavam para o segundo semestre. Mas a sensação de desencanto ainda não é o dado dominante da percepção sobre o Brasil. Por enquanto, permanece a disposição favorável que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu gerar nos centros de decisão política e financeira nos Estados Unidos ao reafirmar as linhas mestras da política econômica do antecessor. "Não há mudança na visão da administração, que permanece positiva", avalia Michael Zarin, responsável pela América Latina no escritório de planejamento político do Departamento de Estado. "Obviamente, reconhecemos que o governo está enfrentando dificuldades internas, mas isso é normal e surpreendente seria se isso não estivesse acontecendo." Círculo virtuoso As concessões feitas pelo governo na negociação da reforma da Previdência e a possibilidade de um adiamento de sua aprovação afetam os cálculos em Wall Street, mas não há sinais fortes de perda de confiança. "Creio que alguns investidores começam a reexaminar a tese do círculo virtuoso", disse Michael Gavin, estrategista para América Latina do banco de investimento UBS Warburg. Mas isso, segundo ele, deve-se menos ao desempenho político do executivo do que "a excessiva timidez" do Banco Central em reduzir os juros. José Barrionuevo, do Barclays, mantém sua aposta num ciclo de crescimento sustentável no próximo ano. "Mas o fato de Lula ter feito concessões na reforma da Previdência logo de início sugere que ele, talvez, seja politicamente menos forte que imaginávamos", diz Barrionuevo. "Isso pode levar a uma reavaliação das chances de aprovação da reforma, que é crucial porque o mercado comprou a idéia de que o choque de confiança virá das reformas." Já para Paulo Vieira da Cunha, do HSBC, a baixa dos títulos da dívida brasileira não representa indícios de uma mudança de disposição do mercado em função das más notícias das últimas semanas. "A queda dos papéis brasileiros e dos mercados emergentes em geral reflete os sinais de retomada da economia americana, que está reorientando fluxos para os EUA", explicou. "Como o mercado mudou, os analistas precisam uma explicação e, ao buscá-la, constatam que o Brasil está pior hoje do que estava há dois ou três meses." Isso não quer dizer que não haja problemas. "Mas eles não estão na política macroeconômica, que vai muito bem", diz o economista. "Essa conquista teve um preço, que foi o de uma política monetária forte, que reforçou o regime de metas de inflação e que começa e continuará a ser afrouxada." Isso, diz ele, explica porque não houve até agora perda de confiança.

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