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Bastidores do mundo dos negócios

Alta no mercado de juros dos EUA gera nervosismo e fecha janela para emissão externa

Espaço para listagem de ações de empresas na Bolsa ainda segue intacta

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Por Cynthia Decloedt (Broadcast) e Altamiro Silva Junior (Broadcast)
A mais recente oferta de títulos de dívida (bonds) do Brasil no exterior foi feita pela Aegea, que captou US$ 500 milhões em papéis com compromissos de sustentabilidade Foto: AEGEA

A expressiva alta do juro dos títulos do Tesouro (Treasuries) dos Estados Unidos nas últimas semanas, testando as máximas em 16 anos, fechou a janela para as captações externas e ao mesmo pode trazer ruídos às ofertas de ações locais este ano. A janela para ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) do ano que vem segue ainda intacta, mas sob risco de alguma tensão, a depender dos desbotamentos da política monetária do Federal Reserve até lá. Já há quem aposte em nova alta de juros na maior economia do mundo.

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Investidores esperavam que o Tesouro Nacional anunciasse uma emissão externa no final de setembro, que seria a primeira feita pelo Brasil de títulos verdes. Mas até agora a operação não saiu e nas últimas semanas, raras empresas e governos de países emergentes estão conseguindo captar no mercado internacional de dívida. Nesta sexta-feira, segundo uma fonte em Nova York, não houve nenhuma emissão no mercado de “high yield”, o das empresas de rating mais baixo, ecoando o que já havia acontecido em outros dias. “Os investidores estão pedindo um spread maior”, ressalta esta fonte.

A mais recente oferta de títulos de dívida (bonds) do Brasil no exterior foi feita pela Aegea, com a qual captou US$ 500 milhões em papéis com compromissos de sustentabilidade, à taxa de 9%. A operação foi feita no fim de setembro, já em meio à escala dos Treasuries, que ganhou impulso em meados de setembro e teve uma taxa salgada.

Magnitude e rapidez da alta pegou mercado de surpresa

“Pegou todos de surpresa, não pela direção de alta, mas pela velocidade e magnitude com que aconteceu”, disse o responsável por renda fixa da gestora inglesa Schroders, Huang Seen. Segundo ele, não há uma definição clara dos motivos que estão por trás desse movimento, o que gera cautela e aversão a risco. “A grande questão é se tudo o que estamos vendo é uma volatilidade de curto prazo, que pode ser amplificada por questões técnicas, ou se temos uma mudança estrutural de cenário”, afirma.

Essa mudança estrutural estaria levando o juro norte-americano para um patamar mais elevado do que nos últimos anos, assim como da inflação nos EUA. Esse possível “novo normal” estaria relacionado a questões macroeconômicas, como o nearshoring, que trouxe necessidade de investimentos em cadeias produtivas fora da China e próximo aos Estados Unidos, e também a movimentos de países, principalmente da China, que tem reduzido sua carteira de títulos americanos de forma importante.

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O analista de mercados emergentes e responsável por renda variável da Schroders, João Noronha observa que esse crescimento nos investimentos não aconteceu nos 15 anos de políticas de forte estímulo monetário, após a crise financeira de 2008, em que os bancos centrais estimularam as economias injetando bilhões de dólares no mercado, mas sem gerar inflação.

Demanda por investimento briga com a taxa dos títulos do Tesouro dos EUA

“A forte demanda por investimento está brigando com a taxa real dos Treasuries, que está em 1,9%, um nível super elevado no período de dez anos”, afirma. Mas, acrescenta, dado que os investimentos continuarão acontecendo, que “pode ser que seja um nível normalizado, considerando uma inflação de 2% ou 3%, a taxa estaria em 5%, onde está o juro de 30 anos”.

Nesse cenário ainda indefinido, Seen afirma que a gestora adotou estratégias de redução de exposição em alguns ativos para preservação de capital. De todo modo, Noronha acrescenta que a casa mantém o Brasil com uma alocação acima da média de outros emergentes (overweight), considerando que os ativos ainda podem se apreciar, assim como o real frente ao dólar. Para ele, os IPOs previstos não devem ser prejudicados, caso a taxa de juro brasileira não fique abaixo de dois dígitos, como o desejado.

“Se olhar no curtíssimo prazo, o humor não está bom. Mas olhando de modo mais amplo, a tendência para o ciclo de juro, que é o principal balizador do apetite para o Brasil, segue de baixa”, ressalta o diretor de um banco da Faria Lima. Este executivo observa que a curva de juros indicava há três meses a Selic ao redor de 9% no fim de 2024, mas agora está em 10,5%. “Me parece que tem bastante prêmio e se terminar em 10,5% ainda assim será um ciclo de corte de juro com impacto importante para as empresas, afirma.

Elevação é o principal assunto de relatórios de bancos e entre investidores

A alta dos juros longos americanos virou o principal assunto de relatórios de bancos e das conversas com de gestores e economistas com investidores. Em Wall Street, os relatos são de que o nervosismo causado pela elevação retirou US$ 1,5 trilhão das bolsas de valores globais, que têm registrado quedas sucessivas.

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“Não acho que estamos próximos do fim desse movimento no mercado de bonds”, disse Jim Bianco, da casa de pesquisas Bianco Research em entrevista à rede de televisão CNBC. Para ele, as taxas de 10 anos podem superar os 5%, o que vai afastar os investidores do mercado de bonds, uma má notícia para as empresas que querem captar lá fora.

Na sexta-feira, o mercado passou por novo dia de volatilidade, após dados bons do mercado de trabalho dos EUA, bem acima do esperado, sinalizarem que o Fed pode subir novamente os juros. Para os estrategistas do ING, os recentes dados da economia sinalizam que os juros de 10 anos podem ir para a casa dos 5%. Nesta sexta-feira, chegou a 4,853% na máxima.


Esta nota foi publicada no Broadcast no dia 06/10/23, às 16h42.

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