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Bastidores do mundo dos negócios

Empréstimo sem juro, doação de terreno e tatuagem no braço - o amor de Menin pelo Galo

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Por Circe Bonatelli (Broadcast)
Atualização:
Rubens Menin e a tatuagem do Galo  Foto: Reprodução/Instagram

O empresário Rubens Menin, controlador das empresas MRV (construtora), Inter (banco), Log (logística) e CNN (comunicação), interrompeu a agenda por um tempinho na última semana para pagar uma promessa. Se o Atlético-MG fosse campeão, ele faria uma tatuagem. Os amigos já estavam avisados antes mesmo de o Brasileirão começar.

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Eis que 50 anos após o primeiro título nacional, o Atlético-MG encerrou o jejum e se sagrou campeão brasileiro com uma vitória de virada sobre o Bahia, por 3 a 2, na casa do adversário. Foi a deixa para Menin receber várias mensagens de amigos cobrando a promessa.

Discreto, fez o desenho de um pequeno galo em seu braço esquerdo, numa altura em que a manga da camiseta consegue cobrir. A primeira tatuagem aos 65 anos de idade.

O envolvimento de Rubens Menin com o Atlético-MG vai além da pele e chega ao órgão mais sensível do corpo humano: o bolso. O empresário integra um pequeno grupo de endinheirados que injetou recursos no time para esta temporada e vem contribuindo com sua experiência empresarial.

Apelidados de 'Os Quatro Rs', o quadro tem Rubens e seu filho Rafael (copresidente da MRV), além de Ricardo Guimarães (Banco BMG) e Renato Salvador (Hospital Mater Dei). Juntos, eles emprestaram aproximadamente R$ 200 milhões ao Atlético-MG.

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Menin não revela a sua parte. Conta apenas que foi uma "parcela significativa" emprestada amigavelmente, sem juros, nem data de vencimento. Uma verdadeira demonstração de amor. No balanço do clube, esse financiamento é classificado como "não oneroso".

"Se foi emprestado é para devolver um dia. Mas não estou cobrando. É (para pagar) o dia que for possível", afirma, em entrevista ao Broadcast. Torcedor roxo, ele diz que "foi tudo feito de forma muito consciente. Eu estou bastante tranquilo em relação a isso".

Menin encara o aporte de retorno incerto como um "projeto social, um tipo de filantropia", segundo suas palavras, em prol de uma torcida de quase 8 milhões de atleticanos. O mesmo princípio guiou a doação de um terreno pessoal para a construção do futuro estádio de futebol do clube. O terreno é avaliado em R$ 55 milhões.

Por sua vez, a MRV desembolsou outros R$ 60 milhões para aquisição dos direitos de batizar o local - que vai se chamar Arena MRV - por dez anos. Mas aí foi uma visão de negócios da construtora, que utiliza o meio esportivo recorrentemente para divulgar a marca, defende.

O empresário rejeita a alcunha de "mecenas", como costuma ser representado na imprensa esportiva. Segundo ele, a injeção de recursos teve como objetivo dar sustentabilidade ao Atlético-MG e faz parte de um planejamento iniciado no começo da década para colocar o time entre os maiores do Brasil - similar ao que fizeram Flamengo, Palmeiras e Athlético Paranaense. Não coincidentemente são os maiores vencedores das últimas temporadas.

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O plano do Galo

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O projeto do clube mineiro engloba a construção do estádio próprio, o fortalecimento do time profissional e da base, a reestruturação das contas e o desenvolvimento de projetos sociais. A consultoria E&Y foi contratada para ajudar no planejamento.

Na parte financeira, a tarefa é delicada. O Atlético-MG começou o ano como o time com maior dívida nominal da série A, no valor de R$ 1,2 bilhão. Em seguida estão o rival Cruzeiro (R$ 963 milhões), Corinthians (R$ 949 milhões), Botafogo (R$ 946 milhões) e Vasco (R$ 831 milhões), conforme levantamento da E&Y.

A dívida do Atlético-MG representa 3,96 vezes o tamanho da sua receita anual, um patamar de endividamento alto para qualquer instituição, seja clube ou empresa. A reestruturação das finanças prevê baixar a dívida para R$ 341 milhões, ou 0,66 vezes o seu faturamento, até 2026.

As premissas da reestruturação envolvem o respeito a um teto para salário de jogadores, maior constância de receita média anual com venda de atletas, aproveitamento de jogadores da base e venda de ativos, como o shopping Diamond Mall, em Belo Horizonte. O clube já vendeu metade do empreendimento e pode se desfazer da outra metade em 2022. A compradora preferencial é a Multiplan.

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O diretor executivo de Esportes, Mídia e Entretenimento da EY, Pedro Daniel, considera o plano bastante factível. "Já estamos vendo um forte crescimento da receita, seja por premiações, seja por maior apelo junto a patrocinadores. E tem opção de venda do shopping", aponta. Uma crítica recorrente ao projeto está na suposta dependência do clube perante os quatro apoiadores. "Não vejo dependência. O clube tem um plano. O papel dos apoiadores é acelerar o processo", argumenta.

Mão de ferro

Menin acredita que não será preciso colocar mais dinheiro do próprio bolso no clube. "Neste ano pagamos dívidas, temos receitas de premiações e vamos precisar vender menos atletas que o imaginado. Ano que vem será mais tranquilo em fluxo de caixa. O Atlético vai estar mais bem condicionado. Mas é preciso ter mão de ferro".

Uma preocupação é que o plano se perca diante da tentação de futuros dirigentes em abrir os cofres em contratações espalhafatosas, sem resultados - algo muito comum no futebol local. "Queremos fazer mudanças no estatuto e levar para o conselho. A ideia é deixar o Atlético sustentável, com regras de gestão e governança, de modo que uma pessoa não possa chegar e desorganizar", afirma.

Questionado se pretende ser presidente do Atlético-MG um dia, a resposta é enfática: "Não posso. Não tenho tempo disponível para isso. Meu tempo para o Atlético é o meu tempo pessoal. No tempo do trabalho, tenho que trabalhar", diz.

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Esta reportagem foi publicada no Broadcast+ no dia 09/12/21, às 13h20.

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