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‘Contratamos 3 mil funcionários desde o início da pandemia’, diz presidente global da JBS

Grupo controlado pela holding J&F, da família Batista, deve manter projeção de investir R$ 8 bilhões no Brasil; Gilberto Tomazoni participou da série de entrevistas ‘Economia na Quarentena’, do ‘Estadão’

Foto do author Fernando Scheller

Maior companhia processadora de carne no mundo, a brasileira JBS diz que assumiu o compromisso de manter os investimentos de R$ 8 bilhões que havia anunciado para os próximos cinco anos. Além disso, de acordo com o presidente global da companhia, Gilberto Tomazoni, a companhia continuou a contratar mesmo depois do início da pandemia de coronavírus. “Não só assumimos o compromisso de não demitir, mas também já contratamos mais 3 mil pessoas (nos últimos meses)”, disse o executivo, durante a série de entrevistas ao vivo Economia na Quarentena, do Estadão, nesta quinta-feira, 4.

Gilberto Tomazoni, presidente da JBS Foto: Foto Gladstone Campos / Realphotos.

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A JBS tem sofrido, especialmente no Rio Grande do Sul, questionamentos pelo alto índice de contaminação de funcionários por covid-19 – o Ministério Público do Trabalho (MPT) solicitou na quarta-feira, 3, o fechamento da unidade de Caxias do Sul. O executivo disse, no entanto, que a empresa vem tentando proteger seus trabalhadores. “Buscamos ajuda de especialistas para nos ajudar na questão dos protocolos no Brasil e no exterior e temos um comitê de gestão na crise, que se reúne três vezes por semana.”

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

A JBS é uma empresa global e a pandemia tem sido especialmente grave em seus dois principais mercados, Brasil e Estados Unidos. Como a empresa tem sido prejudicada por essa pandemia?

A pandemia fez com que nós aprendêssemos bastante, embora não tenhamos respostas para todas as coisas. Começamos sempre as reuniões da empresa com o (tema) segurança e saúde do trabalhador. A pandemia expandiu esse conceito de segurança. Buscamos ajuda de especialistas para nos ajudar na questão dos protocolos no Brasil e no exterior e temos um comitê de gestão na crise, que se reúne três vezes por semana. Isso tudo fez com que a companhia focasse na saúde e segurança do trabalhador e na missão de alimentar pessoas.

Como está a demanda por produtos do grupo?Houve migração de consumo? Alimentos industrializados ganharam mais peso?

O consumo teve uma mudança de canal. Mudou do food service  (fornecimento para restaurantes) para o varejo. O problema foi maior onde a empresa tinha maior presença no food service. Mas, é claro, que na soma a demanda ficou menor. Mas isso não muda os fundamentos do negócio. Até 2050, o mundo vai precisar de 70% a mais de proteína animal. Isso não vai mudar.

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Diante disso, as exportações de carne ganharam força na pandemia?

Em um primeiro momento, houve um aumento de demanda tanto no mercado interno quanto no externo. Não tinha como atender toda a demanda. No momento seguinte, cada um dos mercados começou a viver com suas características próprias. Na Europa, por exemplo, houve um problema muito grave com o food service por conta do turismo. Agora, que a economia vai voltar, vamos ver como restabelece a demanda.

Na quarta-feira, o Ministério Público do Trabalho pediu a interdição do fábrica da companhia em Caxias do Sul por conta do alto índice de coronavírus nesta unidade. Em Passo Fundo, tem mais de 60 contaminados. Houve falhas de segurança no Sul do País?

O assunto de segurança é muito importante para a companhia. Quando começou a pandemia, adotamos práticas de segurança adicionais. Contratamos o Hospital Albert Einstein e o infectologista Adauto Castelo para nos ajudar a avaliar os nossos protocolos. Os nossos protocolos em prática hoje são muito parecidos com os de UTIs. Estamos adotando todas as medidas possíveis para atender os nossos trabalhadores. Também temos compromisso com as comunidades. 

Como estão esses cuidados aqui e nos EUA?

Temos um comitê global, com as pessoas de todo mundo discutindo as práticas. Temos 100 fábricas no Brasil. Não são todos os locais que têm casos. Estamos seguindo os protocolos locais. Aqui, a regra é usar máscara. Na Austrália, por exemplo, a máscara não é exigida.

Os casos de contaminação em frigoríficos são altos em todo o País – no Mato Grosso do Sul, Estado relativamente pouco afetado pela covid-19, o setor é visto com preocupação. As empresas do setor estão trabalhando juntas nesse sentido?

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Eu acho que tem muitas questões que a ciência ainda não respondeu e temos um processo de aprendizado coletivo. Vimos agora a Suécia fazendo mea culpa (por não ter adotado o isolamento social). Nos EUA, os casos chegaram primeiro na indústria de bovinos e por último na do frango. Aqui no Brasil, começou primeiro na indústria do frango. Não existe uma correlação direta que nós conhecemos (entre o ambiente refrigerado e a proliferação dos casos de coronavírus). Afastamos todos os grupos de risco, mesmo nos EUA, onde isso era uma recomendação bem leve. Na entrada das fábricas, não só medimos a temperatura, mas também fazemos um questionário com as pessoas. 

A pandemia atingiu vários setores de diferentes formas – e agora há segmentos pedindo ajuda do governo. A JBS foi uma das campeãs nacionais, uma estratégia muito criticada no passado. O setor de carnes vai precisar de ajuda?

Fizemos um trabalho nos últimos anos de reforço da liquidez e redução de endividamento. Terminamos o ano com um dos melhores balanços da nossa história e uma dívida controlada. Temos R$ 24 bilhões em caixa. Mesmo que a gente não gerar caixa, não precisamos de dinheiro novo para pagar nossas dívidas. Entramos nessa crise com baixa alavancagem e liquidez muito forte. A gente foca nas coisas que a gente controlar: proteger os nossos trabalhadores e focar em produzir alimento, porque todo mundo precisa de alimento.

A JBS reduziu contratos e jornada de trabalho? Houve demissões?

Quando a pandemia começou, a gente falou que não ia demitir ninguém. Desde então, nós contratamos 3 mil novos colaboradores. Assumimos o compromisso de manter o quadro de trabalho. O emprego é fundamental para a retomada da economia. Vamos manter os investimentos de R$ 8 bilhões no Brasil pela JBS e mais R$ 5 bilhões pelos nossos parceiros. Um total de R$ 13 bilhões. 

Como a JBS avalia que deve ser a retomada da economia?

Estamos integrados com as autoridades locais. Fizemos uma doação de R$ 400 milhões para combate ao coronavírus, sendo R$ 330 milhões para os sistemas de saúde pública, R$ 50 milhões para a ciência e a pesquisa e R$ 20 milhões para ONGs locais. Estamos em cem municípios no Brasil e queremos atingir 162 cidades em 17 Estados brasileiros. E a aplicação está sendo definida com a ajuda de comitês, de grupos de especialistas, como o hospital Albert Einstein e o infectologista Adauto Castelo . Somos 130 mil pessoas na JBS, no Brasil. Para o mercado externo, estamos doando mais R$ 300 milhões.

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As decisões do governo federal em relação ao meio ambiente causaram polêmica no agronegócio. As associações se posicionaram contra declarações do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Qual é a visão da JBS sobre esse tema?

Temos uma política de zero desmatamento. Nós temos um monitoramento dessa política por georreferenciamento por satélite. Nós monitoramos uma área maior do que a Alemanha. Nós temos 35 mil produtores cadastrados – e 9 mil que foram descredenciadas. Esses produtos são auditados por uma empresa externa. 

Uma decisão do STJ voltou a permitir que Wesley e Joesley Batista possam exercer cargos executivos no grupo J&F. Eles podem voltar para a JBS?

Essa é uma pergunta que tem de ser feita a eles, não tenho como responder. É uma decisão da J&F. A JBS é uma empresa de capital aberto, que está funcionando normalmente. É isso o que posso responder.

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