O pedido de demissão do ministro Sérgio Moro (Justiça), em meio a acusações graves contra o presidente Jair Bolsonaro, abriu nova crise política no governo e azedou de vez o humor do mercado financeiro, que já vinha de uma semana turbulenta e fechou ontem com economistas e analistas discutindo abertamente os cenários para economia com a possibilidade de mais um impeachment de presidente da República.
O dólar que já vinha num movimento de alta diária fechou cotado a R$ 5,66, valorização de 2,40%, o nono dia consecutivo de ganhos para a moeda dos EUA. No ano, o dólar acumula alta de 41,12% e o real é a moeda com pior desempenho, considerando os principais mercados, em ranking compilado pela Wagner Investimentos.
No mercado, já se fala em um dólar no patamar de R$ 6, com pouco espaço para um recuo abaixo R$ 5. A Bolsa também deve sofrer bastante com a volatilidade nos próximos dias, embora a visão geral é de que os ativos brasileiros já estão num nível próximo do piso. Tudo isso, no entanto, vai depender do tamanho da recessão brasileira em 2020, que, segundo as previsões, deve ser bem forte.
Segundo a economista Monica de Bolle, pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics, nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro está mais perto do que nunca de um impedimento, e esse cenário pode levar o País a uma queda recorde de Produto Interno Bruto (PIB). “Pode cair até 9% neste ano”, afirma. “A queda de Moro deixa Bolsonaro em uma situação muito difícil”, diz.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, também vê o impeachment do presidente no radar. A depender da duração da crise, estima, não dá para descartar uma queda de 7% a 8% do PIB este ano, assim como o dólar a R$ 6, especialmente se houver a saída de outros ministros. “Enquanto não tiver solução para a crise, podemos ver a economia sangrando, como foi com a Dilma (Rousseff, ex-presidente)”, afirma.
Para o diretor-geral do banco Indosuez, Fabio Passos, o cenário em Brasília tende a ser de baixa governabilidade e, nos próximos dias, o mercado deve monitorar de perto o desenrolar das negociações entre Bolsonaro e o bloco de deputados que compõe o chamado Centrão. “O que mais me chamou a atenção hoje foi a curva de juros. O Banco central fez oito leilões e tentou segurar um pouco o câmbio. A Bolsa acabou voltando um pouco. Mas os juros explodiram”, diz. O DI para janeiro de 2022 saltou 62 pontos-base, a 4,17%. /COM THAÍS BARCELOS E CÍCERO COTRIM