Mesmo que o Brasil seja um país com uma geração energética relativamente menos nociva, por grande parte vir de hidrelétricas (cerca de 60%), Moana lembra que o potencial hidráulico do país está esgotado. As últimas usinas construídas, como a Belo Monte, não tem mais grandes lagos que armazenam a água (energia potencial) e têm funcionamento "a fio d'água" - consequentemente, ficam mais suscetíveis ao clima e períodos de estiagem.
Nesse contexto, as usinas termelétricas tem ganhado mais força no país - o que aumenta a pegada de carbono brasileira. O crescimento de fontes limpas como a eólica e solar representa um ganho para o país, mas dependem da disponibilidade de sol ou de vento e são suscetíveis a interrupções. Por isso, para o presidente da associação, um ponto-chave é atingir uma maior eficiência energética - ou seja, atuar para diminuir o desperdício.
"Hoje, fazer coleta de energia do sol ou vento é igual fazer captação de chuva em uma caixa d'água que tem um furo. Você gasta dinheiro para fabricar a caixa, para operar e pela infraestrutura a fim de alimentar esse lugar que está vazando. Então primeiro tem que estancar o vazamento. É isso que é a eficiência energética no Brasil", resume.
Modernização é a solução
Segundo o relatório da Abesco, grande parte do problema poderia ser resolvido com modernização de equipamentos industriais e fabricação de produtos com consumo mais eficiente. Outro item destacado por Moana é a tarifa binômia para os consumidores: ao invés de apenas considerar o consumo por watt/hora na conta, a tarifa leva também em consideração a potência usada no sistema. Ao ligar muitos eletrônicos com alta potência, por exemplo, o usuário acaba contribuindo para sobrecarregar a rede elétrica. Dessa forma, seria mais fácil diferenciar e beneficiar consumidores mais conscientes.
Em relação ao comércio e indústria, o especialista lembra ainda do grande potencial de redução de consumo em produtos relacionados a iluminação e refrigeração. De acordo com o especialista, a falta de exigências relacionadas à eficiência energética acaba atrapalhando nessa questão. "Se você torna o uso final e a tomada da residência mais eficiente, o benefício que você traz para toda a cadeia é o maior possível e supera todas as correções tecnológicas que poderíamos fazer no sistema de geração. Traz benefícios instantâneos", frisa.
Uma das grandes indústrias consumidoras de energia é o mercado de refrigeração, essencial para o comércio e para a vida doméstica. Geladeiras, freezers e ar-condicionados, por exemplo, têm um consumo energético elevado - justamente por isso, representam altos gastos para estabelecimentos. Supermercados, por exemplo, tem cerca de 60% de seu custo fixo comprometido para pagar essa conta.
Investir em tecnologia e produtos mais eficientes é primordial para reduzir esse gasto e também trabalhar a sustentabilidade. Um dos avanços do setor foi a substituição de refrigerantes - o fluido responsável por fazer a diferença de temperatura nos sistemas de refrigeração - sintéticos, que agridem a camada de ozônio (CFCs, HFC e HCFCs), por naturais, como o dióxido de carbono (CO2/R-744). O desenvolvimento dos refrigerantes naturais ocorreu de forma alinhada aos grandes protocolos e tratados globais ambientais, como os de Montreal (1989) e Kyoto (1997).
Até 30% menos energia
Para as empresas que trabalham com a área, essa foi uma mudança importante. Segundo Ernani Nunes, diretor de Novos Negócios da Embraco, a questão ambiental caminha de mãos dadas com o melhor uso da energia. "A medida que houve essa mudança [com o uso de substâncias naturais], o grande desafio é continuar com os programas de aumento de eficiência dos aparelhos", explica. O trabalho para aumentar a eficiência dos compressores - o coração do sistema de refrigeração - traz esse ganho. Com novas tecnologias, funcionamento mais eficiente e menos matéria-prima utilizada nos produtos, a economia de energia pode representar entre 10% a 30%, dependendo do aparelho e de sua especificidade.
O alto investimento em tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, de acordo com Raul Bosco, gerente sênior de Pesquisa e Desenvolvimento da Embraco, é um dos fatores essenciais para garantir a inovação da empresa. Entre 3% e 4% do faturamento da organização são destinados a essa área e 600 engenheiros trabalham constantemente na atuação da indústria. Detectar os problemas dos clientes é essencial para desenvolver soluções em conjunto: "o segredo para uma indústria é esse: estar atento às necessidades dos mercados, próximos ao cliente, e com isso endereçar a solução", alerta o executivo.