‘Estamos apreensivos’ sobre as taxações americanas, mas vemos oportunidades, diz presidente da Fiemg

Para Flávio Roscoe, apesar de trazer preocupações, as falas de Trump indicam disposição para negociar e o Brasil pode até se beneficiar se a guerra comercial ficar mais restrita aos EUA e à China

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Foto do author Carlos Eduardo Valim
Atualização:
Foto: Bárbara Dutra
Entrevista comFlávio Roscoepresidente da Federação das Indústrias do Estado de MInas Gerais (Fiemg)

O aumento das taxas de importação pelos Estados Unidos está trazendo preocupações para o setor industrial brasileiro, mas também pode ser uma oportunidade para o País. A opinião do presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, é de que haverá bastante negociação nos próximos tempos.

Esta semana os riscos de uma guerra comercial de grandes proporções aumentou, após uma série de declarações e anúncios de medidas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Na segunda-feira, 10, ele anunciou o aumento da taxação das importações do aço, e, na quinta-feira, assinou um memorando com o objetivo de taxar os produtos importados de todos os países com as mesmas tarifas que são cobradas dos exportadores americanos.

“Os EUA têm uma balança comercial favorável com o Brasil. Assim, existe uma vantagem do nosso lado para negociar”, diz. “Uma retaliação vai fazer mais mal do que bem para eles.”

Leia a entrevista com o empresário e presidente da federação mineira.

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Como o sr. está acompanhando as medidas do presidente americano, Donald Trump, de aumentar a taxação de importações, incluindo do Brasil?

Estamos muito apreensivos, mas acredito que vai haver o caminho do diálogo. Trump coloca uma posição de força para se posicionar na negociação. Por exemplo, as relações da siderurgia americana e brasileiro são complementares. Eles precisam dos produtos

Trump tem dito que pretende mudar as relações principalmente com países com os quais os EUA têm mais déficit comercial. Não é o caso do Brasil, certo?

Os EUA têm uma balança comercial favorável com o Brasil. Assim, existe uma vantagem do nosso lado para negociar. Somos um país que dá superávit para os americanos. Uma retaliação vai fazer mais mal do que bem para eles.

Até mesmo dentro do ciclo siderúrgico, nós importamos mais do que exportamos para eles?

Sim, se contarmos o carvão mineral que compramos dos EUA, para produzirmos aço. Carvão não é um produto siderúrgico, mas faz parte dessa cadeia de produção.

Qual indústria pode ser a mais afetada pela política de reciprocidade americana?

O maior impacto vai ser mesmo no setor siderúrgico. Pega em cheio aí. Em relação à indústria mineira, afeta um pouco as exportações da Usiminas, mas também a sede brasileira da ArcelorMittal está aqui, além da maior parte de suas usinas.

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'O governo brasileiro deveria fazer no aço o que o Trump está fazendo contra a gente', diz Roscoe Foto: Divulgação/Bárbara Dutra

Na ordem executiva de aumento das taxas para o aço, Trump justificou que o Brasil está exportando mais para os EUA porque o mercado interno aqui foi inundado por produtos chineses. O Brasil deveria adotar tarifas mais duras contra a China?

O governo brasileiro deveria fazer no aço o que o Trump está fazendo contra a gente. A China está praticando dumping pelo mundo. O movimento do Trump não está tão dissociado da realidade. Existe um dumping chinês no aço, por conta da queda do mercado de construção chinês. Então, as siderúrgicas do país passaram a exportar para o mercado internacional com preço mais baixo.

Mas não existe uma preocupação do governo brasileiro em não irritar a China? Afinal, o país asiático é hoje o maior parceiro comercial do Brasil. Não poderia haver represália deles em outros produtos, como soja ou minério de ferro?

Não acho que exista essa preocupação. Se fosse uma medida unilateral, sim. Mas, como já está apurado o dumping, podemos colocar em prática medidas antidumping. É uma regra internacional. Não seria uma atitude unilateral do Brasil. É muito difícil fazer retaliação nesses casos. Antidumping é algo visto com normalidade, para o país se defender. Precisamos apresentar dados e seguir as regras internacionais. Mas, se ficou comprovado que estão fazendo dumping, podemos atuar.

Toda essa guerra comercial pode prejudicar a atividade industrial este ano e afetar o PIB brasileiro?

Se a guerra ficar restrita aos EUA e a China, vejo uma oportunidade. O Brasil pode crescer vendendo para os dois mercados.