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Guerra diminuiu apetite por risco de investidores de startup

Empresas munidas de apresentação bem feita e discurso de jargões receberam milhões sem apresentar resultado

colunista convidado
Por Emanuel Pessoa

Desde a crise financeira de 2008, os países desenvolvidos, principalmente os Estados Unidos, injetam grandes volumes de dinheiro na economia. Isso aumentou fortemente a quantidade de capital disponível nos mercados, com mais dinheiro em circulação nos últimos 14 anos.

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Um dos efeitos colaterais foi o inchaço do valor de mercado das empresas de tecnologia e o aumento descomunal no número de startups investidas. Com dinheiro a preço extremamente baixo se comparado ao período pré-2008, os investidores viram seu apetite por risco crescer e se sentiram mais confortáveis tanto para aportar mais valores quanto para diversificar seus investimentos.

Isso permitiu que muitas startups munidas unicamente de uma apresentação bem feita e de um discurso recheado de jargões recebessem milhões em recursos sem apresentar resultado que justificasse o investimento.

Os investidores tinham dinheiro em excesso e aportaram em empresas de mérito duvidoso. Só no Brasil, as startups receberam US$ 9,4 bilhões em 2021, segundo levantamento da plataforma Distrito.

Contudo, essa tendência apresenta desgaste. O ponto de inflexão pode ser a guerra da Ucrânia. Nos últimos meses, muitos investidores já demonstraram a necessidade de verem resultados concretos de suas investidas. No entanto, a maior parte deles ainda os ignorava diante de um discurso megalomaníaco por parte dos fundadores do próximo Uber disso ou do novo Facebook daquilo.

Sede da startup de inteligência artificial Yitu, em Xangai; no Brasil, startups receberam US$ 9,4 bilhões em 2021, segundo levantamento da plataforma Distrito Foto: Gilles Sabrié/The New York Times

O conflito provocou um aumento fortíssimo no preço das commodities, já que as sanções contra a Rússia e o receio de uma escalada na disputa armada levaram os investidores a anteciparem uma subida futura de preços, a comprarem mais para estocar e a aportarem capital em várias delas (sendo o ouro um exemplo) para proteger seu dinheiro.

Assim, o apetite por risco diminuiu de modo que as startups agora precisam comprovar uma relação de probabilidade entre risco e retorno, muito superior ao período precedente à guerra, para receberem os mesmos investimentos.

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Embora o capital barato tenha incentivado o crescimento de startups, esse tipo de montante também mascarava ineficiências que levaram à destruição imensa de valor, como aconteceu no caso do WeWork.

Por mais que seja desejável a realização de investimentos em empresas de inovação, ele deve se guiar por regras que prestigiem startups que fazem seu dever de casa, cortando ineficiências e crescendo de forma escalável, sob pena de que o capital abundante oferecido pelo mundo seja desperdiçado em investimentos indevidos.

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