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Inflação sobe 0,53% em janeiro, puxada pelos alimentos

Resultado acumulado em 12 meses é de 5,77%, segundo dados do IBGE; em dezembro, índice havia ficado em 0,62%

Por Vinicius Neder , Italo Bertão Filho e Daniel Tozzi Mendes
Atualização:

RIO E SÃO PAULO - A inflação começou o ano com um ligeiro alívio. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que baliza as metas perseguidas pelo Banco Central (BC), avançou 0,53% em janeiro, ritmo inferior ao 0,62% de dezembro do ano passado, mas o cenário da dinâmica de preços para 2023 ainda é preocupante, dizem analistas.

No acumulado em 12 meses, o índice ficou em 5,77%, acima da meta da inflação estipulada para este ano, que é de 3,25%, podendo chegar, no máximo, a 4,75%. Segundo economistas, os focos de preocupação para o cenário de inflação neste ano são, no curto prazo, os preços das mensalidades escolares e dos combustíveis e, ao longo do ano, os serviços.

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Isoladamente em janeiro, os alimentos e os preços de transportes puxaram a inflação, ainda que o custo com a alimentação tenha subido menos do que a janeiro. O grupo Alimentação e Bebidas subiu 0,59% em janeiro, abaixo do 0,66% de dezembro. Os alimentos consumidos em casa, que ficaram 0,60% mais caros, puxaram a alta. Os vilões, segundo o IBGE, foram os preços da batata-inglesa (14,14%), do tomate (3,89%), da cenoura (17,55%), das frutas (3,69%) e do arroz (3,13%). O quadro não foi pior porque ficaram mais baratos a cebola (-22,68%), o frango em pedaços (-1,63%) e as carnes (-0,47%).

Segundo Pedro Kislanov, gerente do IPCA do IBGE, os preços dos alimentos in natura subiram em janeiro pelos motivos sazonais de sempre: o excesso de chuvas em regiões produtoras atrapalhou as colheitas e reduziu a oferta, especialmente da batata e da cenoura.

Clientes fazem compras em supermercado Foto: JF Diório/Estadão

Combustíveis

O segundo grupo de bens e serviços com maior impacto na alta do IPCA de janeiro foi Transportes, puxado pelo aumento de 0,68% nos preços médios de combustíveis. A gasolina encareceu em 0,83%, enquanto o etanol ficou 0,72% mais caro em janeiro. Mesmo assim, a gasolina acumula uma queda de 24,30% nos 12 meses terminados em janeiro, ainda sob efeitos da redução dos impostos federais e estaduais sobre os combustíveis, medida adotada em meados do ano passado pelo então governo Jair Bolsonaro (PL) para enfrentar a escalada dos preços internacionais do petróleo.

O problema, alertaram economistas, é que parte dessa redução de tributos deverá ser revertida, enquanto novas rodadas de altas nas cotações do dólar e do petróleo poderão pressionar por mais reajustes nos preços nos postos de combustível. “Já começamos a ver uma aceleração, com alguma incorporação de ICMS subindo em alguns Estados e é o início de um movimento que deve se consolidar em fevereiro e março”, afirmou o economista-chefe do banco MUFG Brasil, Carlos Pedroso.

Serviços

Já a inflação de serviços voltou a acelerar em janeiro, após meses de desaceleração. Mês passado, o índice de serviços, no IPCA, subiu 0,60% em janeiro ante uma alta de 0,44% em dezembro de 2022. Com isso, a taxa acumulada em 12 meses até janeiro ficou em 7,80%, acima dos 7,58% verificados no fechamento de 2022. Conforme Kislanov, a aceleração de janeiro foi concentrada nos preços do grupo Comunicação, que avançou 2,09% – o preço do combo de telefonia, internet e TV por assinatura ficou 3,24% mais caro.

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A dinâmica de preços de serviços é importante porque eles tendem a ter menos vaivéns provocados por choques de oferta, como no caso dos alimentos, mas reagem, no médio e longo prazos, ao aquecimento e ao arrefecimento da demanda. Justamente um dos focos da política monetária conduzida pelo BC, que sobe os juros para esfriar a demanda e baixa para aquecê-la.

Luca Mercadante, economista da gestora Rio Bravo Investimentos, lembrou que, apesar do alívio, o IPCA de janeiro “não condiz com a meta do BC” para a inflação para 2023. “O que preocupa são os núcleos, ainda bastante pressionados”, afirmou Mercadante, referindo-se aos cálculos, feitos por economista e analistas, que procuram excluir dos índices de preços as variações mais intensas, tanto para baixo quanto para cima, justamente para avaliar a dinâmica da inflação como um todo, sem influências pontuais.

Para Mercadante, se há algum o processo de desaceleração da inflação, ele ainda é “muito tímido”. Dessa forma, o IPCA de janeiro sustentaria o discurso defendido pelo BC após a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) – que tem sido reiteradamente criticado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e parte da cúpula do PT.

“Corrobora a fala do BC, que há menos espaço para corte de juros em 2023. Ainda devemos ter inflação alta esse ano”, afirmou Mercadante.

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Kislanov, do IBGE, ponderou que, isoladamente, a aceleração da inflação de serviços em janeiro pode ser pouco para concluir que há pressões de demanda. A aceleração de janeiro no índice de serviços foi a primeira desde julho de 2022. Naquele mês, a inflação de serviços atingiu o pico do ano passado, com 8,87% no acumulado em 12 meses. De lá até dezembro, desacelerou mês a mês.

O pesquisador do IBGE reconheceu que houve melhora no emprego e na renda na segunda metade do ano passado, inclusive com avanço do rendimento real, mas não está claro se esse aumento da renda será revertido em maior demanda por serviços, ainda mais diante do fato de que a aceleração de janeiro foi marcada pelos preços do grupo Comunicação.

Eduardo Villarim, economista do Banco Original, lembrou ainda que os efeitos da elevação dos juros – a taxa básica Selic subiu de maio de 2021 até setembro do ano passado, quando estacionou em 13,75% ao ano – demora mesmo algum tempo para esfriar a demanda. “A tendência é que componentes ligados aos serviços comecem a desacelerar ao longo dos próximos meses, até pelo efeito do aperto da política monetária, que demora mais para exercer influência no setor em relação aos outros”, afirmou o economista.

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