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Artigo: Brasil não pode se atrasar para pegar o 'bonde' do 5G

Implementação do 5G será uma das decisões estratégicas mais importantes a serem adotadas e atraso no leilão trará prejuízos ao País

Por Cláudia Trevisan
Atualização:

WASHINGTON - Principal aliada dos EUA, a Inglaterra impôs na terça, 28, uma derrota avassaladora aos esforços da gestão Donald Trump de impedir o uso de equipamentos da Huawei nas redes 5G em grande parte do mundo. O governo britânico anunciou que os produtos chineses estarão presentes nas áreas não sensíveis e terão um limite de 35% do mercado. A decisão pavimenta o caminho para a Alemanha e outros países europeus darem o sinal verde para a empresa que se transformou no principal símbolo da disputa tecnológica entre as duas maiores economias do mundo.

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O 5G é muito mais que uma evolução no padrão de telefonia e sua implementação será uma das decisões estratégicas mais importantes a serem tomadas pelo Brasil. Sua adoção vai revolucionar a maneira como o mundo produz, ao permitir uma conexão sem precedentes entre máquinas e uma resposta imediata a comandos, o viabilizará aplicações como carro autônomo e cirurgias à distância. A transformação irá além das fábricas e do setor de serviços e será crucial para a agropecuária. 

Quem embarcar tarde nesse bonde perderá a chance de turbinar sua economia com ganhos de produtividade e atrair investimentos não só para a construção da infraestrutura do 5G, mas em setores que ganharão impulso com a nova tecnologia. Os britânicos decidiram autorizar a presença da Huawei para evitar atrasos na implementação da rede. Autoridades europeias avaliam que a dianteira na adoção do 4G deu aos EUA a liderança na criação das gigantescas plataformas de internet que estão entre as empresas mais valiosas do mundo, como Google, Amazon e Facebook. Agora, não querem ficar para trás no novo padrão.

Presença já massiva da Huawei no Reino Unido impediu País de excluir a chinesa da rede 5g. Foto: Tolga Akmen/AFP - 29/4/2019

Planejado originalmente para o primeiro semestre de 2020, o leilão do 5G no Brasil foi adiado pelo governo Jair Bolsonaro, que parece não ter pressa em sua realização. Sob pressão dos EUA para barrar a Huawei, Brasília parece ter decidido que o melhor caminho é esperar, na expectativa de que os americanos consigam desenvolver uma alternativa capaz de competir com a empresa chinesa. Segundo reportagem publicada pelo Wall Street Journal no dia 24 de janeiro, os EUA estudam dar apoio a empresas para desenvolvimento de uma concorrente da Huawei no prazo de 18 meses, o que cairia em meados de 2021. 

Não há nenhuma garantia de que o esforço, se realizado, será bem-sucedido. Além disso, o 5G já é uma realidade, e vários países do mundo se movimentam para implementá-lo. Na Coreia do Sul, por exemplo, 4 milhões de pessoas são assinantes da nova tecnologia.  Para começar a conversa, é bom estabelecer algumas premissas: o Brasil não vai escolher entre um padrão chinês, sueco ou norueguês de 5G. O padrão é um só, global. Quem participará do leilão de 5G no Brasil são as operadoras de telefonia, como Vivo, TIM, Claro e Oi, e não Huawei, Ericsson ou Nokia. Essas são fabricantes de equipamentos, que serão contratadas pelos vencedores do leilão. As três atuam no Brasil há anos e seus produtos estão presentes na maior parte da infraestrutura de 2G, 3G e 4G do país. A Ericsson tem a liderança, com 52%, seguida pela Huawei (35%) e Nokia. 

A demora na realização do leilão trará custos para o país, na forma de perda de investimentos, arrecadação e competitividade. Estudo da Ericsson avalia que só em receita tributária, o Brasil deixaria de arrecadar R$ 25 bilhões anuais, em um cenário de atraso de um ano na implementação do 5G. Para a empresa, o cronograma ideal seria a realização do leilão até o fim de 2020, para início das operações em 2021. Em entrevista ao UOL, no dia 12 de janeiro, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, afirmou que o começo da implementação de “um piloto” do 5G poderia ocorrer apenas entre o fim de 2021 e início de 2022.

Tiago Machado, diretor de Relações Governamentais da Ericsson, diz que os R$ 25 bilhões não incluem o que deixaria de ser investido na criação da infraestrutura 5G, na produção e venda de smartphones e em fábricas e serviços que dependem da nova tecnologia. 

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O executivo defende a necessidade de padrões rigorosos de segurança cibernética e de um elevado grau de confiança na rede móvel. Mas ele vê com apreensão a ideia de um divórcio ou um “decoupling” tecnológico entre Ocidente, liderado pelos EUA, e Oriente, representado pela China. “Nós temos tecnologias globais e o celular é a tecnologia mais global que existe. Uma separação não seria benéfica.”

* JORNALISTA E PESQUISADORA NÃO-RESIDENTE DO INSTITUTO DEPOLÍTICA EXTERNA DA ESCOLA DEESTUDOS INTERNACIONAIS AVANÇADOS DA UNIVERSIDADE JOHNS HOPKINS

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