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Professor da PUC-Rio e economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo escreve quinzenalmente

Opinião|O conceito de conservador na redução da taxa de juros

Se o corte de 0,5 p.p. na Selic é conservador, o de 0,75 p.p. deve ser considerado neutro, e não expansionista

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O Banco Central do Brasil (BCB) divulgou nesta semana a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do dia 2 de agosto de 2023. Nessa reunião, o Copom iniciou o processo de queda da taxa Selic com 0,5 ponto de porcentagem (p.p.), com placar dividido em cinco votos a favor de 0,5 p.p. e quatro votos por 0,25 p.p. O voto de desempate foi dado pelo presidente do BCB, Roberto Campos Neto.

A redução de 0,5 p.p. surpreendeu parte dos analistas. A expectativa era que o Copom iniciasse o processo com um movimento menos forte, queda de -0,25 p.p. Além disso, o fato de o voto de desempate ter sido dado pelo presidente da instituição surpreendeu. Para muitos investidores, o sinal é que, ao iniciar com uma queda “agressiva”, a probabilidade de que as quedas sejam aceleradas para 0,75 p.p. aumentou significativamente.

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Para evitar que a decisão gerasse otimismo “excessivo” quanto à trajetória de queda da Selic, o que dificultaria a tarefa de levar a inflação para a meta, o comunicado que se seguiu à reunião, assim como a ata, mostraram um tom mais duro, tentando convencer os investidores de que -0,5 p.p. por reunião é a velocidade mais provável.

Para atingir esse objetivo, comunicado e ata repetiram a frase na qual anunciam que, por unanimidade, os membros do Comitê de Política Monetária decidiram que os próximos passos serão de mesma magnitude (-0,5 p.p.), e que somente se houver “surpresas positivas substanciais” o processo seria acelerado.

Integrantes do Copom na reunião em que decidiram por corte de 0,5 ponto percentual na taxa de juros Foto: Raphael Ribeiro / BCB

Dois pontos chamaram a atenção. Primeiro, o normal na comunicação do BCB é se referir ao “horizonte relevante da política monetária”. Porém, no parágrafo 22, foi excluída a “política monetária”, mantendo apenas “horizonte relevante”. Como nas comunicações do BCB cada palavra tem seu significado, é difícil acreditar que a retirada não tenha sido intencional.

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Segundo, de acordo com a ata, qualquer que fosse a decisão, “um cenário com expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial, núcleos de inflação ainda acima da meta, inflação de serviços acima do patamar compatível com a meta e atividade econômica resiliente requer uma postura mais conservadora ao longo do ciclo de flexibilização da política monetária”. E o Copom decidiu iniciar o processo com -0,5 p.p. A pergunta é se isso significa que, para o BCB, -0,5 p.p. é conservador. Nesse caso 0,75 p.p. deve ser considerado neutro, e não expansionista.

Opinião por José Márcio de Camargo

Professor aposentado do Departamento de Economia da PUC-Rio, é economista-chefe da Genial Investimentos

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