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Professor da PUC-Rio e economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo escreve quinzenalmente

Opinião | Metáfora do sapo na água fervente explica sinais ruins da economia brasileira

Declarações de que governo estaria preparando medidas para controlar déficit primário têm sido recebidas com desconforto

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O comportamento dos preços dos ativos financeiros na economia brasileira é preocupante. As taxas de juros dos títulos longos se aproximam dos 13% ao ano em todos os vencimentos; os títulos indexados à inflação estão pagando IPCA + 6,5% ao ano; o dólar voltou a furar o nível de R$ 5,80 (apesar do superávit da balança comercial próximo a US$ 90 bilhões, reservas internacionais de US$ 300 bilhões e diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos de sete pontos de porcentagem); e o Ibovespa tem tido grande dificuldade para ultrapassar os 130 mil pontos.

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As projeções para a inflação da pesquisa Focus para 2024 sinalizam o rompimento do teto do intervalo de metas, e as expectativas para todos os anos no cenário de referência da política monetária (2025, 2026 e 2027) continuam acima das respectivas metas, o que forçou o Banco Central a retomar o processo de aumento da taxa básica de juros (Selic).

A tentativa do ministro Fernando Haddad de reonerar a folha de pagamentos de 17 setores de atividade e das prefeituras das cidades pequenas e médias e acabar com o programa de apoio ao setor de serviços (Perse) gerou forte reação do Congresso e tornou impossível a continuidade da política de aumentar impostos para financiar aumentos de gastos já contratados pelo governo com a aprovação da PEC da Transição no fim de 2022.

Com isto se criou um impasse: os gastos já foram contratados, mas os aumentos de impostos necessários para financiar esses gastos não foram aprovados. Para driblar este impasse, o governo passou a utilizar créditos extraordinários fora do Orçamento para cumprir as metas de superávit primário.

Ministério da Fazenda tentou acabar com desoneração da folha de pagamentos e com o Perse Foto: André Dusek / Estadão

A utilização de créditos extraordinários, que já atingiu R$ 55,4 bilhões em 2024, tornou o cumprimento da meta de superávit primário irrelevante como um sinalizador da busca de equilíbrio fiscal e deslocou a atenção dos investidores para a relação dívida/PIB que já se aproxima do nível de 80%.

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As declarações de que o governo estaria preparando medidas para controlar o déficit primário têm sido recebidas com desconforto pelos investidores, mostrando a total perda de credibilidade da equipe econômica.

Nas reuniões paralelas às do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial em Washington na última semana, os investidores questionaram diretores e o presidente do Banco Central do Brasil quanto à possibilidade de que o País esteja entrando em um regime de dominância fiscal, no qual a política monetária se torna incapaz de controlar a taxa de inflação. A água está fervendo.

Opinião por José Márcio de Camargo

Professor aposentado do Departamento de Economia da PUC-Rio, é economista-chefe da Genial Investimentos

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