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Economista

Opinião|Conheça o esforço de uma mãe em busca de atendimento especializado para seu filho

Iraildes buscou atendimento na UBS, mas encontra uma pediatra que não apenas não quer encaminhá-la para um serviço especializado como tenta convencê-la a não vacinar Brian contra covid

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Foto do author Laura Karpuska
Atualização:

Quando Iraildes estava grávida de Brian, os médicos da sua UBS disseram que ela deveria continuar o pré-natal no Hospital das Clínicas em São Paulo. Brian poderia precisar de cirurgia no aparelho digestivo ao nascer. Iraildes fez o acompanhamento e o parto no HC. Felizmente, Brian não precisou do procedimento.

Anos depois, Brian começou a ganhar peso, ficando inchado. No Hospital Universitário da USP, foi diagnosticado com síndrome nefrótica. Brian foi encaminhado para o HC, onde fez todo seu tratamento, que durou três anos e incluiu sessões de quimioterapia.

Convênio com o governo do Estado foi encerrado para alguns serviços  Foto: Estadão

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O tratamento foi bem-sucedido. Brian é hoje um menino saudável. Mas, na escola, as coisas não caminhavam muito bem. Brian não estava conseguindo acompanhar as aulas. Seriam dificuldades pelas faltas que teve por conta do tratamento ou havia algo mais?

Iraildes buscou ajuda no próprio HC. Brian teve um acompanhamento parcial, focado na parte fonoaudiológica. Mas o número de sessões era limitado. Iraildes buscou novamente o HU e encontrou o mesmo problema: sessões limitadas e falta de diagnóstico completo. Uma vizinha, então, indicou o centro do Hospital Albert Einstein em Paraisópolis. Brian conseguiu apoio psicopedagógico e fonoaudiológico.

O convênio com o governo do Estado foi encerrado, ao menos para esses serviços, e Iraildes e Brian ficaram desassistidos mais uma vez. Iraildes parte novamente em busca de continuidade dos tratamentos. Ela encontra o projeto comunitário Cáritas, que poderia assistir Brian temporariamente com sessões de fonoaudiologia. No Cáritas, a fonoaudióloga indicou que Iraildes buscasse um dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), pois acreditava que Brian precisaria ser assistido de forma mais ampla.

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No Caps, eles nem chegaram a ser atendidos. O caso de Brian foi percebido, mesmo sem anamnese, como não grave. Iraildes buscou atendimento na sua UBS, mas encontra uma pediatra que não apenas não quer encaminhá-la para um serviço especializado como tenta convencê-la a não vacinar seu filho contra covid.

Iraildes vai a uma psiquiatra particular. Brian tem deficiência intelectual moderada. Com um laudo com diagnóstico apropriado, Iraildes conseguiu aulas de reforço para Brian na sua escola. Mas as aulas estão pausadas há meses, pois a professora está fazendo tratamento contra um câncer, e a escola estadual não tem nenhuma substituta.

Foram sete anos, cinco locais, muitos tratamentos parciais e temporários, dezenas de profissionais. Como pode ser tão difícil uma mãe ser acolhida e uma criança receber o tratamento necessário para seu desenvolvimento?

Opinião por Laura Karpuska

Professora do Insper, Ph.D. em Economia pela Universidade de Nova York em Stony Brook

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