A corrida do Palácio do Planalto para lançar o pacote de "bondades" a pouco dias para a votação no Senado que deve afastar a presidente Dilma Rousseff do cargo só elevou o clima de animosidade e embate que já marca a transição de governo.
A caneta da presidente está a mil com a decisão de divulgar medidas que elevam os gastos para um eventual governo do vice Michel Temer e trazem, por tabela, dor de cabeça para o futuro ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que assumirá com a missão de reverter o rombo que já chega a R$ 142 bilhões em 12 meses das contas do governo federal.
Se já está difícil para os aliados do vice-presidente encararem vespeiros necessários como a desvinculação das despesas da Previdência, suspensão de reajustes dos salários dos servidores e cortes nos programas sociais, mais complexo será retroceder em medidas já anunciadas por Dilma como o reajuste da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) em 5%.
Por mais que seja legítima a correção da tabela, que não cobre nem de longe a defasagem da inflação, o custo de R$ 5 bilhões não se ajusta ao quadro dramático das contas públicas que necessita de respostas duras no curto prazo para ser encaminhada uma solução no médio e longo prazos.
Essa ação de última hora de Dilma ainda será um teste de fidelidade do Congresso sob a gestão Temer. Até o momento, os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se mostraram alinhados com a agenda econômica indicada pelo vice. E agora?
A equipe de Temer promete um pente fino nas medidas e reversão daquelas que não estiverem de acordo com a política econômica traçada pela equipe liderada por Meirelles. Mas a comparação que hoje é feita pelos aliados do vice é de que Dilma, que não conseguiu aprovar as medidas econômicas encaminhadas ao Congresso, dá o troco ao eventual novo governo com pautas "bombas" que precisam ser desarmadas.
Isso vale também para as medidas de alta de tributos, que o governo pretende lançar nos próximos dias, e que vão na contramão da promessa de Temer de não aumentar impostos na largada da sua gestão. A armadilha está montada.