Em discurso para uma plateia de cerca de 700 dirigentes empresariais ligados à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) pregou nesta terça-feira, 26, “diálogo” e pediu “confiança” nos líderes do governo. Depois de ressaltar que sua presença na reunião atendia orientação do presidente Jair Bolsonaro, disse que o bom senso tem de “sobreviver”.
“Temos de dialogar com eles (parlamentares) e não fugir ao diálogo. Vai levar pedrada? Vai, faz parte da vida política e todos aqui sabem muito bem que minha experiência política é baixíssima. Mas o bom senso tem de sobreviver nessas horas”, afirmou Mourão.
Sua fala teve como pano de fundo os confrontos dos últimos dias entre Bolsonaro e o Congresso em torno da reforma da Previdência. Os parlamentares cobram maior diálogo do governo para apoiar o projeto, enquanto o Planalto responde que não irá negociar com base na “velha política”, sem indicar uma alternativa. A reforma da Previdência é tida como essencial pelo setor empresarial como forma de equilibrar as contas do governo.
Este não foi o único compromisso, na terça-feira, de Mourão com uma plateia formada por empresários. À noite, ele participou de um jantar oferecido pelo próprio presidente da Fiesp, Paulo Skaf, em sua residência, no bairro do Morumbi. A lista de convidados contou com nomes de peso do empresariado do País, como Flávio Rocha (Riachuelo), Josué Gomes (Coteminas), Fábio Coelho (Google) e David Fefer (Suzano). Do setor financeiro, estava, entre outros, Luiz Carlos Trabuco (Bradesco). Também participaram os ex-ministros Henrique Meirelles e Nelson Jobim.
Ao chegar ao jantar, Flávio Rocha, que é presidente do Conselho de Administração da Riachuelo, disse que o governo precisa trocar o “chip da campanha” pelo “de governar”. “É preciso trocar o chip da campanha, de acirramento, do inimigo comum, para o chip de governar e em torno de um propósito comum, e esse propósito maior é a nova Previdência”, disse ele.
O empresário avaliou que os atritos entre Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), serviram como um “estremecimento” para alertar governo e Congresso sobre a urgência da reforma. Até a conclusão desta edição, o encontro não havia terminado.
A participação de Mourão em eventos com empresários e políticos já rendeu críticas de colegas do próprio governo, que veem no movimento do vice uma tentativa de esvaziar a influência de Bolsonaro e assumir um papel de protagonista no governo. Mourão já foi criticado, por exemplo, por Carlos Bolsonaro e também pelo escritor Olavo de Carvalho, considerado guru dos bolsonaristas, que chamou Mourão de “idiota”.
Lotação
O evento com o vice-presidente seria realizado inicialmente em um auditório no 15.° andar da sede da Fiesp, na Avenida Paulista, com capacidade para 300 pessoas. Como a demanda foi maior que o esperado, o encontro teve de ser transferido para o Teatro do Sesi, no subsolo do prédio, onde cabem 450 pessoas sentadas. Quem não conseguiu entrar, pode acompanhar o discurso por um telão do lado de fora do teatro.
Em uma rápida declaração à imprensa antes da reunião na Fiesp, o vice-presidente disse que é preciso conduzir reformas que interessam ao País e declarou saber das “angústias e dúvidas” que estão sendo levantadas sobre a proposta do governo para o sistema de aposentadoria. Depois do evento, ele não deu mais entrevistas.
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