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Citrosuco quer levar suco de laranja à mesa chinesa e produto natural aos EUA e Europa

Maior exportadora do produto no mundo, empresa com sede em Matão (SP) aposta no potencial de consumo do país asiático devido ao tamanho de sua população

Foto do author Aline Bronzati
Por Aline Bronzati (Broadcast)

NOVA YORK - A Citrosuco, maior exportadora de suco de laranja do mundo, com sede em Matão (SP), vê no potencial chinês um dos seus motores de crescimento à frente. Embora ultrapasse os Estados Unidos e o Brasil como a maior produtora ao redor do globo, a China planta laranja para o consumo da fruta tal como ela é, in natura. Quando se trata de suco processado, porém, a bebida começa a aparecer com mais frequência nas refeições chinesas, tradicionalmente acompanhadas de água morna e chá.

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Estima-se que a China represente menos de 3% do mercado global de suco de laranja, de acordo com o presidente da Citrosuco, Marcelo Abud. “É um mercado muito incipiente. O suco de laranja é pouquíssimo consumido na China versus o consumo per capita em outros países, como Estados Unidos, o próprio Brasil e países da Europa”, diz o executivo, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, durante passagem por Nova York. A aposta na China veio a partir de uma provocação do Conselho de Administração da Citrosuco, controlada pelos Grupos Fischer e Votorantim.

Embora os chineses estejam começando a ter contato com o suco de laranja, além da fruta como alimento, o tamanho da população confirma o potencial à frente. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima em 1,425 bilhão o número de pessoas no país, atrás somente da Índia, que recentemente teria se tornado o país mais populoso do planeta, segundo a organização. Com esse tamanho e as refeições que não contam com a bebida, o ritmo de crescimento anual do mercado de suco de laranja processado na China tem sido de dois e, às vezes, chega a até três dígitos, afirma Abud.

Além disso, o suco de laranja chega com um “preço mais premium” na China, segundo o executivo. Mas há desafios pelo caminho. Se, de um lado, o preço maior beneficia as receitas, do outro, pesa um custo mais elevado por conta da logística de transporte entre o Brasil e a China, fora as exigências do padrão de qualidade chinês, que também são diferentes, diz.

Para Marcelo Abud, presidente da Citrosuco, apesar da piora do greening, doença que ataca as laranjas, não há um descontrole no Brasil Foto: Ricardo Teles/Divulgação/Citrosuco

“A China tem possibilidade de crescimento maior, mesmo que ela não chegue no consumo per capita dos Estados Unidos ou do Brasil. Mesmo que ela pare na metade, por exemplo”, projeta o CEO da Citrosuco. “A África está começando a aparecer”, acrescenta, lembrando que, por outro lado, outros países têm apresentado pequena queda no consumo do suco de laranja processado.

Greening

Mas o principal desafio do setor é controlar o crescimento do greening, doença mais temida pelos produtores de laranja mundo afora. No cinturão citrícola São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro, o maior do mundo, a praga avançou de forma preocupante, com a incidência passando de 24,42% em 2022 para 38,06% em 2023, de acordo com o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus). Na prática, significa que 77,22 milhões de árvores estão doentes de um total de 202,88 milhões de laranjeiras em todo o parque.

O greening foi detectado no Brasil em meados de 2004, quando também foi identificado nas laranjeiras dos EUA. O agravamento de casos no cinturão citrícola entre São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro foi, inclusive, o foco de reunião entre representantes da cadeia produtiva e da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado. Na agenda, medidas no combate à praga.

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Para Abud, apesar da piora, não há um descontrole da doença no Brasil. “Eu não acho que o Brasil vai chegar na situação da Flórida, pelo menos nos próximos 5 a 10 anos”, diz. Segundo ele, a principal razão foi o caminho escolhido pelo país para combater a doença. Enquanto o Brasil tratou de erradicá-la, eliminando as árvores contaminadas e apostando em novas áreas, a Flórida optou pelo controle do psilídeo, inseto que transmite o greening. Como consequência, a doença se espalhou, o que impacta no sabor do suco e no tamanho da produção, bem como no preço do produto final.

“A gente vai ter de ter mais cuidado para poder garantir um produto de qualidade”, alerta o CEO da Citrosuco. Segundo ele, o fato de o segmento ser consolidado, com três grandes produtores de suco de laranja (Citrosuco, Cutrale e Louis Dreyfus Company), ajuda no combate à doença. Sobre se isso significa ter mais pomares próprios do que de terceiros, ele diz que a principal missão das empresas é educar e dar suporte aos produtores para que eles possam investir e cuidar dos seus pomares.

O salto do greening mostra, porém, que esse trabalho tem deixado a desejar, admite Abud. “A doença não regride. Sempre vai piorar. E, obviamente, como qualquer tipo de doença, ela sempre vai ser mais grave no ano seguinte do que foi no anterior”, afirma, reforçando a necessidade de o setor sensibilizar, educar e fornecer recursos para que os pomares brasileiros sejam protegidos.

A doença compromete a produção de suco de laranja, que tem encolhido no Brasil e nos EUA. Os estoques brasileiros da bebida eram de 84.745 toneladas em junho último, uma queda superior a 40,7% ao mesmo período do ano passado, o menor nível em 12 anos, conforme levantamento de auditorias ligadas à Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR).

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A menor produção e o desafio do controle da doença, que se agrava, pressionam para cima os preços do setor. Na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), os preços do suco de laranja concentrado congelado estão perto das máximas em mais de 50 anos, em US$ 3,45 por libra-peso, e acumulam alta de cerca de 68% no ano. Para Abud, essa continuará sendo a tônica, mas, à frente, ele acredita que os preços podem se acomodar, a depender do comportamento da próxima safra. “Se vem uma safra muito pequena, você pode ainda ter essa barreira de resistência de preço mantida por um tempo maior”, avalia.

Produtos naturais

Para além do suco de laranja, a Citrosuco vê a diversificação de receitas como uma importante frente de crescimento no futuro. Sua principal aposta é a Evera, de produtos naturais. Criada há cerca de um ano, a empresa tem como foco a produção de ingredientes para diferentes indústrias, valendo-se de partes da laranja que até então eram subutilizadas, tais como bagaço, folhas, flores e sementes. “São ingredientes para a base de muitos produtos”, explica Abud.

A expectativa é de que a Evera represente algo em torno de 15% a 20% do faturamento da Citrosuco, conforme ele. Para este ano, o grupo espera faturar entre US$ 1,3 bilhão e US$ 1,4 bilhão. O objetivo é crescer em mercados mais maduros para ingredientes naturais como, por exemplo, os Estados Unidos e a Europa.

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“A gente sempre está buscando crescer. Mas a diversificação, sem dúvida nenhuma, é a nossa principal aposta no crescimento do futuro”, afirma Abud, acrescentando que a estratégia de crescimento da Citrosuco é orgânica, mas que os sócios também estão atentos a oportunidades de aquisições. “Se tiver uma oportunidade na África ou em algumas outras regiões da Ásia, a gente vai entrar”.

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