O Grupo SolPanamby e a gestora Ekata Invest dividem um prédio impressionante para o caro e disputado solo paulistano. Erguido no início dos anos 1970, com ares modernistas, abrigava antes o restaurante do Centro Empresarial São Paulo (Cenesp), numa área de 250 mil m² na zona Sul da cidade, rodeado por muito verde, orquidário, tucanos e saguis.
Muitas salas do edifício, porém, estão vazias. É um reflexo da mudança conduzida no grupo nos últimos cinco anos, desde que Rodrigo Quercia, filho do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, morto em 2010, assumiu os negócios. E que resultaram na criação da gestora Ekata em 2022, após Rodrigo ter rodado, sem sucesso, o mercado atrás de soluções para o imóvel do Cenesp, que integra o patrimônio da família.
Rodrigo dividia seu tempo entre Washington e Honduras, quando foi requisitado em casa. Desde 2017, era diretor da NeWay Capital, criadora da primeira Zona Econômica Especial no país caribenho, a Próspera. É um projeto ambicioso que pretende erguer uma espécie de Cingapura latino-americana, uma região com benefícios tributários e certa autonomia política. Porém, há tempos a família via a necessidade de melhorar a gestão do Grupo SolPanamby.
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“Tínhamos uma empresa que cuidava operacionalmente do dia a dia dos negócios já existentes”, diz ele. “Mas nunca havíamos nos debruçado para entender se aquela era a alocação ideal para perpetuar o patrimônio da família.”
Assim, no mesmo mês em que o primeiro lockdown da pandemia foi decretado, em março de 2020, Rodrigo, hoje com 34 anos, assumiu o comando do grupo. Reportagens à época da morte do governador falavam que ele havia deixado uma fortuna de R$ 1,5 bilhão — sendo grande parte em imóveis. Rodrigo não confirma o valor. Entre os bens, havia terrenos, fazendas, lojas, hotel, incorporadora, participações em shoppings e centro empresarial, além de uma empresa de comunicação.

Carregar muitos imóveis no patrimônio é uma “dificuldade” comum às famílias endinheiradas brasileiras. “De modo geral, o fundador sabe ganhar dinheiro e comprar bens”, afirma Wagner Teixeira, sócio e CEO da Höft, uma das mais tradicionais empresas de planejamento de transição familiar do País. “Ele compra um imóvel, compra uma fazenda, compra um terreno para uma fábrica, conforme a oportunidade vai aparecendo, mas isso não quer dizer que esse patrimônio faça sentido para as futuras gerações.”
Era exatamente o caso dos Quercia. Ao procurar entre gestoras, bancos e family offices, Rodrigo não encontrou nenhuma empresa especializada em cuidar de grandes fortunas que trouxesse uma solução para os imóveis. “Existem gestoras que captam recursos para a compra de ativos imobiliários e aquelas que querem pegar algum imóvel no qual já têm experiência, como shoppings, para tocar adiante”, diz.
Não havia nenhuma (empresa) que cuidasse desse patrimônio de maneira integral, olhando o longo prazo de maneira a criar o maior de valor possível para a família
Rodrigo Quércia
O motivo: é difícil fazer dinheiro na velocidade que o mercado financeiro demanda, quando se tratam de imóveis. “Uma família que tem R$ 10 bilhões investidos em imóveis não encontra o mesmo atendimento numa gestora de fortunas que outra com R$ 50 milhões líquidos”, diz Yuri Kibel, sócio da Ekata, que foi dessa mesma área no BTG Pactual e esteve à frente Bluemacaw. “O gestor ganha um fee (comissão) em cima de cada transação e dificilmente faz gestão de patrimônio imobiliário, que é um negócio extremamente complexo.”
Preservar patrimônio comprando imóveis nem sempre dá certo
Isso porque leis mudam, impostos são majorados e retroagidos, áreas valorizadas entram em decadência, imóveis envelhecem e inventários podem levar anos para serem concluídos. “A ideia de preservar patrimônio comprando imóveis se torna um problema”, afirma Eduardo Pimenta Machado, outro sócio da Ekata, que foi fundador da Rio Bravo Investimentos e estruturou a área imobiliária do Banco Fibra e do fundo Carlyle.
Uma das famílias que a Ekata atende, por exemplo, tinha boa parte do patrimônio investido em escritórios no centro do Rio e de São Paulo — verdadeiras joias quando foram comprados. “Passados 30 anos, restou muito pouco do valor do capital”, afirma Rodrigo.
Outro cliente havia adquirido um imóvel, cujo vendedor morreu, e a Ekata tomou à frente dos procedimentos legais. “Num espólio, se não há mobilização, levam-se anos para resolver as pendências”, afirma Machado. “É preciso cobrar e ficar em cima de cada processo, o que é uma gestão muito diferente da feita na Faria Lima.”
SolPanamby passou por reestruturação
O serviço que a Ekata presta aos clientes segue o trabalho feito dentro do SolPanamby. Ao assumir o grupo, Rodrigo preocupou-se em reestruturar todo o negócio, incluindo enxugar a equipe que cuidava do dia a dia das operações. Em relação aos negócios, num primeiro momento, o grupo saiu da área de comunicação. A rádio Nova Brasil FM e três retransmissoras de TV foram vendidas, ainda em 2020, ao empresário Chaim Zaher, dono do grupo educacional SEB, por valores não revelados.
Remodelaram também o Shopping Jaraguá Araraquara que, segundo ele, dobrou de valor em três anos. Em dezembro, uma fatia de 25% do centro comercial foi vendida à Hedge Investimentos por R$ 63 milhões.
O processo continua. Há um projeto de revitalização do Cenesp, que já abrigou sedes de grandes empresas. O grupo tem participação 33% do empreendimento, ao lado de BTG e do family office Nova Milano, da família Grendene.
Também devem anunciar o que será feito do Octavio Café, que, por anos, foi um dos pontos mais nobres da Faria Lima. Bem como a exploração de condomínios em áreas nobres de Campinas. A O’Coffe, em Pedregulho (SP), continuará como uma das maiores produtoras de cafés especiais do País, voltada à exportação. “Quando se trata de imóveis, é preciso olhar o longo prazo”, diz ele.
Ekata cuida da gestão de fortunas
Do mesmo modo, a Ekata entra nos grupos familiares para entender objetivos e a gestão da operação. Cortados custos não essenciais, há o reposicionamento e o planejamento em relação aos ativos imobiliários. Em relação aos ativos líquidos, a gestora tem feito parcerias com bancos de investimentos, sobretudo o Itaú BBA. A Ekata tem hoje R$ 1,5 bilhão sob gestão e não abre quanto, desse total, é proveniente do SolPanamby.
Segundo ele, a venda de ativos imobiliários da base de clientes superou os R$ 300 milhões, mesmo num cenário adverso para o setor, como aconteceu nos últimos anos. Entre 2022 e 2024, a valorização do portfólio da Ekata foi de 46%, enquanto o IFIX, fundo de índices imobiliários, teve alta de 12% no período.
A remuneração da Ekata se dá pelo desempenho em cada uma das categorias de ativos. Também há ganho por transações, já que com as vendas, há redução nos ativos sob gestão.
Além da Ekata, Rodrigo continua como conselheiro da NeWay. Apaixonado por matemática, faz aulas particulares avançadas e vai em breve participar de um campeonato de muay thai na Tailândia. Também tem uma banda de rock, a Brachyura (uma espécie de caranguejo) e puxou o nome Ekata de uma empresa criada por seu pai. A palavra vem do sânscrito e significa união, harmonia e força no coletivo. O pai, aliás, está presente por toda sede da SolPanamby, em fotos ao lado de Fidel Castro, do papa João Paulo II e outras personalidades históricas.
Apesar de tê-lo acompanhado em comícios e reuniões partidárias quando era menino, Rodrigo jamais pensou em seguir carreira política. “Nunca foi algo que me prendeu”, diz. “Não descarto um algum envolvimento eventualmente no futuro, mas por enquanto, acho que sou mais útil na atividade empresarial.”