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Itaú quer usar computação quântica para fidelizar clientes e sugerir investimentos

Banco brasileiro é o primeiro da América Latina a aderir à rede global da IBM; objetivo também é testar soluções para precificar derivativos e buscar carteira de investimento para usuários

Foto do author Matheus Piovesana

O Itaú Unibanco é a primeira empresa brasileira e o primeiro banco da América Latina a entrar em uma rede global da IBM voltada à computação quântica, tecnologia que promete romper paradigmas de processamento de informações em vários setores da economia, mas que ainda esbarra na falta de escala. Com a adesão à rede, o banco deve testar soluções para a precificação de derivativos e para a busca de carteiras de investimento para os clientes, já de olho nas possibilidades de aplicá-las no futuro em modo comercial.

A computação quântica utiliza os preceitos da física quântica nos computadores, o que eleva de forma exponencial a capacidade de processamento. A grosso modo, torna muito mais rápida a solução de problemas pelas máquinas. E tempo é dinheiro, em especial no setor bancário.

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O Itaú investe no ramo desde 2019. No ano passado, em parceria com a empresa de software e serviços quânticos QC Ware, criou métodos para prever de modo antecipado quais clientes tendiam a deixar o banco nos meses seguintes. Mesmo em computadores clássicos, ou seja, de menor velocidade, os modelos melhoraram a retenção de clientes em 2%, o que vem a calhar num momento em que fidelização é o mantra do conglomerado e dos rivais.

“Estamos investindo (na área) porque temos, dentro do setor financeiro, um grande campo de oportunidades e de problemas que podem ser resolvidos com inteligência artificial, modelagem avançada e computação quântica”, diz Moisés Nascimento, diretor de Tecnologia e líder da área de dados e analytics do Itaú. Neste ano, o banco quadruplicou o investimento em computação quântica, mas não revela volumes.

Executivo da IBM diz que existe um universo de problemas que não se consegue resolver nem com os maiores computadores na computação clássica, e na quântica é possível resolver em tempo real Foto: Sergio Perez / Reuters

Com a entrada na IBM Quantum Network, o Itaú poderá utilizar o computador quântico mais avançado da empresa americana, com 433 qubits (o “bit” do computador quântico) de capacidade, e discutirá ideias e projetos com mais de 250 empresas e universidades globais que estão no grupo. Há nomes como o Goldman Sachs, a EY e a Capgemini.

“Existe um universo de problemas que não se consegue resolver nem com os maiores computadores na computação clássica, e na quântica é possível resolver em tempo real”, diz Wagner Arnaut, executivo chefe de tecnologia da IBM Brasil.

Ainda no futuro

Os qubits são os “bits” da computação quântica. Eles se comportam de maneira fisicamente diversa dos bits tradicionais, que têm dois estados possíveis (0 e 1), mas não estão em ambos ao mesmo tempo; já os qubits podem estar nos dois estados ao mesmo tempo. Em outras palavras, tornam o computador quântico mais rápido que o clássico.

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Entretanto, os computadores quânticos demandam uma série de cuidados, da produção ao armazenamento, o que encarece a tecnologia e dificulta o desenvolvimento de máquinas em escala comercial. Críticos da tecnologia afirmam que ela dificilmente teria viabilidade, mas grandes empresas do setor, como o Google e a própria IBM, têm apostado nela.

“A nossa principal barreira é de hardware (equipamento), ainda não rompemos a barreira dos 1000 qubits”, afirma Arnaut, da IBM. “A expectativa é de que nos próximos cinco anos, tenhamos casos de uso (no mundo real).” Os computadores quânticos da IBM ficam fora do País, e o banco os acessará pela computação em nuvem.

Nascimento, do Itaú, afirma que a computação quântica pode ajudar, no futuro, a encaixar uma peça ambiciosa no quebra-cabeça dos bancos: a análise e aprovação de crédito em tempo real. “A resposta é sim, mas ainda estamos a alguns anos dela”, diz ele. “Não falamos só do poder computacional, mas da disponibilidade dessas máquinas. Voltamos, em termos de tamanho de servidor, ao mesmo lugar em que estávamos com o mainframe (computadores tradicionais de grande porte).”

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