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Maior rede varejista de agronegócio na América do Sul mira 80 empresas para fusões e aquisições

Empresa criada pela gestora Pátria é resultado de 30 aquisições desde 2016; companhia fatura US$ 1,5 bilhão (R$ cerca de R$ 7,5 bi)

Foto do author Cristiane Barbieri
Por Cristiane Barbieri (Broadcast)
Atualização:

São Paulo - Há menos de uma década, os milhares de pequenos e médios produtores rurais brasileiros eram atendidos por literalmente milhares de outros pequenos e médios revendedores de insumos agrícolas espalhados pelo interior do País. Geralmente ex-vendedores de grandes indústrias, como Bayer, Basf e Syngenta, eles abriam lojas locais para vender agroquímicos e sementes, fertilizantes e outras especialidades.

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“O empreendedor típico do interior do País tem de duas a quatro lojas que ele fundou e ainda gere”, afirma Ruy Cunha, presidente da Lavoro Agro, a distribuidora de produtos agrícolas que o Pátria começou a formar em 2016 e hoje é a maior da América do Sul. O fundo de private equity (que compra participações em empresas) enxergou nessa pulverização uma oportunidade e começou a fazer aquisições para criar um competidor sul-americano da área.

Em agosto de 2017, comprou o colombiano Grupo Gral. Na sequência, foi a vez da mato-grossense Lavoro - de onde veio o nome do grupo. De lá para cá, foram mais de 30 aquisições, sendo a grande maioria distribuidoras e revendas. Assim, em vez das pequenas lojas locais, têm se tornado mais comuns nas maiores cidades do interior do País unidades padronizadas de redes como as da Lavoro.

Com receita de US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 7,5 bilhões pela cotação de terça, 24) nos primeiros nove meses deste ano, a Lavoro tem 215 revendas espalhadas no Brasil e na Colômbia e uma trading no Uruguai. Há outros fundos fazendo o mesmo movimento, como mostrou o Estadão/Broadcast.

Ruy Cunha, presidente da Lavoro Agro, na Nasdaq. Foto de Vanja Savic Foto: Vanja Savic

“Temos em torno de 80 empresas em algum ponto da nossa fila de fusões e aquisições”, afirma Cunha. “Temos olhado Peru, Chile e Paraguai, mercados que nos interessam eventualmente entrar com nosso modelo de negócios, e sermos líderes da América do Sul.”

Parte dessas aquisições foi feita com recursos de uma Spac, como são chamadas as “empresas cheque em branco”, criadas com o propósito de se fundirem e aportarem capital em companhias emergentes e com alto potencial de crescimento. Ao se unir com a Spac The Production Board (TPB), em março, a Lavoro abriu capital na bolsa Nasdaq. Foi avaliada em US$ 1,2 bilhão e captou US$ 225 milhões.

“A ideia inicial era fazer um IPO (oferta pública de ações, na sigla em inglês), mas no meio do caminho encontramos o time do TPB e criamos uma parceria estratégica”, afirma. “Eles são especialistas em agro, investem em empresas de tecnologia agrícola e testes de solo, que inclusive estamos trazendo para o Brasil.”

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A estrutura da Lavoro é um pouco diferente das concorrentes. Além da distribuição via lojas, que é o negócio principal, a empresa fabrica produtos de marca própria, que também vende para outros grandes clientes e empresas. “A fabricação de insumos está crescendo bastante dentro do grupo”, afirma Cunha.

Há uma linha de negócios, dentro da holding Crop Care controlada pela Lavoro Limited, que junta fabricantes de defensivos biológicos, fertilizantes especiais e adjuvantes, compostos que prometem aumentar a eficiência dos produtos. Entre elas, está uma empresa na área de defensivos biológicos, a Agrobiológica, na qual estão quadruplicando a capacidade de produção.

Atendimento local

A intenção, com toda a gama de produtos, é ter em mãos um arsenal para oferecer ao cliente em várias frentes. “O grande produtor, mais sofisticado, é atendido diretamente pela indústria”, afirma. “Já o pequeno e médio são bem capitalizados, jovens e têm um gap de tecnologia para suprir, o que os torna muito interessantes do ponto de vista dos negócios”.

Assim, apesar da oferta nas lojas, a venda é feita na fazenda - e a prestação de serviços está embutida no negócio. São mais de mil especialistas para 72 mil clientes. “Esses produtores precisam de alguém que dê recomendações técnicas e apoiem o crescimento”, afirma. “Mais do que vender o insumo, quero ser o conselheiro preferencial e fazer com que seja mais produtivo. Meu negócio não é ficar empurrando o produto, mas olhar, entender a operação e recomendar alguma coisa que vá fazer sentido pra ele.”

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Por isso, na hora das aquisições, a Lavoro busca empresas tradicionais em uma região, que já se relacionam e têm bom nome com o produtor. “Compramos uma posição majoritária, em geral 85% da empresa, e mantemos o dono como sócio”, afirma. “Em geral, ele fica na operação por um ou dois anos na área comercial, para a transição com o modelo Lavoro.” O nome original é mantido e mesmo quando a loja é transformada em Lavoro, ele permanece como uma submarca.

Na Nasdaq, a Lavoro tem sofrido desde a abertura de capital. Seus papéis caíram mais de 36% desde março. Entre os motivos, está o pouco volume negociado, bem como a variação no preço das commodities, que tem impactado o setor de maneira geral. “Faço negócio com grãos mas, para mim, é uma forma de vender insumos”, diz Cunha.

“O produtor que compra com a Lavoro para a próxima safra pode pagar à vista ou a prazo, com dinheiro ou grãos. Mas a posição é travada.” Outro motivo é a alta no preço dos fertilizantes, que impactou os produtores quando as commodities despencaram. Isso gerou inadimplência cíclica no setor.

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