Após apresentar o menor resultado anual em oito anos, o Santander Brasil reforçou a sinalização de que a retomada da rentabilidade será gradual. O presidente do banco, Mario Leão, desenhou, sem dar prazo, um cenário em que o banco subirá os degraus de retorno de modo progressivo.
Em 2023, o Santander teve lucro de R$ 9,383 bilhões, queda de 27,3% em relação aos números de 2022, que haviam ficado abaixo do recorde de 2021. Foi o menor resultado anual desde 2016, e também o primeiro lucro anual do conglomerado a ficar abaixo da casa dos R$ 10 bilhões desde o ano de 2017.
A queda veio com a depuração da carteira. Até 2021, o Santander viveu uma “arrancada” no mercado brasileiro, principalmente nos empréstimos a pessoas físicas de baixa renda, em produtos como cartão de crédito. A rentabilidade alta dos primeiros anos se reverteu em um custo de crédito alto quando a inflação e os juros subiram, em 2022.
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Em resposta, o Santander virou o leme rumo a empréstimos de menor risco, mas também de menor margem. O processo derrubou o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) dos 21,2% de 2021 para 11,8% no ano passado. Não há um objetivo formal, mas o banco ambiciona voltar aos 20%. “Primeiro, nós vamos buscar um ROE de cerca de 15%; depois, de 15% a 20%, e depois, podemos repensar a operação para chegarmos aos 20% de novo”, disse Leão, em coletiva de imprensa.
O executivo reiterou que a retomada será sobre bases distintas. Embora tenha soltado em parte as rédeas na emissão de cartões e em linhas como o financiamento de automóveis, o Santander deve continuar crescendo no crédito consignado e nas operações para o agronegócio, que são mais seguras.
“Continuamos consolidando a nossa carteira de crédito. Estamos diversificando o crédito em diferentes linhas e diferentes segmentos”, afirmou ele. Crescer a arrecadação em receitas de serviços, que não exigem alocação de capital, é outro objetivo.
Abaixo do esperado
O resultado do banco no quarto trimestre do ano passado, de R$ 2,204 bilhões, ficou 30,5% acima do mesmo período de 2022, em que o banco fez provisões para parte dos créditos que tinha a receber da Americanas. Ainda assim, veio 22,5% abaixo da estimativa do Prévias Broadcast, formada com oito casas de mercado. No começo da tarde, os papéis caíam 2%, outros bancos operavam em alta.
“Embora o Santander esteja fazendo esforços para ajustar seu perfil de risco e mostre um apetite maior, aparentemente as tendências para a qualidade dos ativos podem levar mais tempo do que o esperado para melhorar”, afirmou o analista Rafael Frade, do Citi, em relatório enviado a clientes.
Com base nos dados do Banco Central, o mercado esperava que os índices de inadimplência do Santander caíssem. Entretanto, os atrasos acima de 90 dias subiram 0,1 ponto porcentual em um trimestre, para 3,1%. Boa parte dos créditos que entraram em atraso no período já haviam sido renegociados pelo banco.
“Dentro de um contexto de retração da inadimplência esperada para a indústria, o avanço da inadimplência do Santander soa decepcionante — ainda que possamos estar sendo bastante criteriosos, já que a deterioração foi apenas marginal, e a inadimplência curta tenha melhorado”, escreveu Rafael Reis, do BB Investimentos.
O vice-presidente de Finanças do Santander, Gustavo Alejo, disse que o índice de atrasos pode passar por volatilidade diante do comportamento dos empréstimos renegociados. “A inadimplência vai cair. Pode existir volatilidade em algum crédito renegociado, mas nós sabemos a origem.”
Fidelização
Leão afirmou que o aumento da fidelidade dos clientes continua sendo central na estratégia do banco. Foi, inclusive, o mote da carta que o executivo enviou aos funcionários no final de 2023. “Lancei como objetivo estratégico sermos o banco principal dos nossos clientes.”
O Santander espera, com essa agenda, aumentar a receita que cada cliente gera, e também seus depósitos. Para tornar os custos de captação mais condizentes com os movimentos de mercado, o conglomerado quer aumentar a participação das pessoas físicas nas captações de recursos, hoje em 43%.
O presidente do banco admitiu que a fidelidade não necessariamente será exclusividade. Entretanto, de acordo com ele, com avanços como o Open Finance, podem fazer com que um banco ajude o cliente inclusive a movimentar dinheiro na concorrência. “Os aplicativos dos bancos têm de se transformar para serem plurais, multibanco.”