Dêem-me os cansados, os pobres, os húngaros

Estou um pouco atrasado para comentar este relatório sobre a Hungria perdendo a paciência com a austeridade; o relatório deve ser lido junto com este excelente texto publicado algumas semanas atrás no site Fistful of Euros, intitulado Scenes from an internal devaluation (Cenas de uma desvalorização interna), que há tempos quero indicar aos leitores, mas nunca cheguei a fazê-lo.

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Por Paul Krugman (The New York Times)
Atualização:

Basicamente, a Hungria está implementando um rigoroso e aparentemente interminável programa de austeridade, ao mesmo tempo em que mantém os juros relativamente altos na tentativa de sustentar sua moeda. Isto, por sua vez, é considerado essencial porque a) a Hungria quer fazer parte da zona do euro, e b) teme-se que uma desvalorização do florim provocaria grandes problemas de endividamento, pois boa parte da dívida do setor privado húngaro é denominada em outras moedas - euros e até francos suíços.

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Em relação ao item a), minha pergunta é: a que preço? Quanto ao item b), existe uma grande falácia lógica em toda essa argumentação. Tentei demonstrar isso alguns meses atrás numa atualização do blog na qual falei sobre o caso da Letônia; nas minhas próprias palavras:

Hugh aponta, em particular, para um rombo na lógica daqueles que se opõem à desvalorização. Eles dizem que não podemos desvalorizar porque o setor privado da Letônia está preso a grandes dívidas em euros, e uma desvalorização dificultaria muito o pagamento dos encargos dessas dívidas. Como destaca Hugh, a proposta alternativa - agudos cortes nos salários e basicamente uma imensa deflação doméstica - também dificultaria muito o pagamento desses encargos. Na verdade, eu seria um pouco mais específico do que Hugh: mantidos constantes os demais fatores, uma desvalorização nominal e uma depreciação real obtidas por meio da deflação teriam exatamente este mesmo efeito sobre o pagamento dos encargos da dívida (a menos que parte da dívida seja denominada em lats, e não em euros; neste caso o estrago provocado pela desvalorização seria menor).

Me parece que os acontecimentos estão se repetindo, na primeira vez como tragédia e, na segunda, como outra tragédia.

Não me surpreende que a Hungria queira sair dessa.

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