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Sem revisão do IPCA, governo eleito terá mais R$ 24 bilhões para gastar em 2023

Cálculo é do economista-chefe da XP, Caio Megale; segundo ele, Congresso deveria fazer o ajuste da inflação na votação da lei orçamentária, prevista para dezembro

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Por Adriana Fernandes

BRASÍLIA - O espaço para o aumento das despesas em 2023 do governo eleito poderá ficar R$ 24 bilhões ainda maior do que vem sendo negociado na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição.

O cálculo é do economista-chefe da XP, Caio Megale, que alerta em entrevista ao Estadão que o Congresso deveria fazer o ajuste da inflação já na votação da lei orçamentária, prevista para dezembro.

Isso porque o valor do limite para as despesas usado no Orçamento ficará com mais gordura ao se usar uma estimativa de inflação mais alta.

Essa defasagem aumenta, na prática, o valor do teto de gastos de 2023. Sem a correção, o espaço para gastar em 2023 se soma à licença de R$ 198 bilhões que o anteprojeto da PEC, encaminhado pelo PT, abre no Orçamento para novas despesas.

Geraldo Alckmin entrega anteprojeto de PEC da Transição para o presidente da Câmara, Arthur Lira/FOTO: Wilton Junior/Estadão - 16/11/2022 Foto: Wilton Junior/Estadão - 16/11/2022

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O teto de gastos é uma regra que controla o crescimento dos gastos fixando a cada ano um limite para as despesas corrigido pela inflação oficial, o IPCA. Sem a correção, o espaço para gastar em 2023 será maior.

Enquanto o projeto enviado de orçamento de 2023 foi feito com IPCA de 7,2%, a taxa esperada ao final deste ano ronda entre 5,8% e 6%. Uma diferença elevada que tem impacto relevante num orçamento de grande magnitude como o das despesas do governo federal.

O problema da correção do teto de gastos surgiu quando o governo Bolsonaro e o Congresso mudaram a forma de correção da regra fiscal na chamada PEC dos Precatórios para gastar mais em 2022, ano de eleições. O teto era corrigido pela inflação de 12 meses até junho. Com a PEC dos Precatórios, a regra passou a ser a inflação do ano cheio. Como o Orçamento costuma ser votado no ano anterior, o resultado da inflação anual ainda não está fechado.

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Para ajustar essa defasagem, o Ministério da Economia é obrigado a enviar à Comissão Mista de Orçamento (CMO) mensalmente as novas estimativas.

O Estadão apurou junto à CMO que o relator do Orçamento, senador Marcelo Castro (MDB-PI), não é obrigado a fazer o ajuste agora. Consultores do Congresso ouvidos pela reportagem afirmam que há dúvida se o ajuste deverá ser feito ao longo do exercício ou no ano seguinte.

Para os negociadores do governo de transição, no entanto, o texto é claro ao dizer que ajuste é feito no ano seguinte ao exercício do Orçamento. Isso significa que, em 2024, o limite teto de gastos ficaria R$ 24 bilhões menor, comprimindo novamente o espaço das despesas depois da alta prevista para 2023. Esse seria mais um incentivo, na avaliação dos consultores, para o governo não postergar a revisão do arcabouço fiscal.

Salário Mínimo

Megale, no entanto, não vê dessa forma. Ele alerta, inclusive, que poderá estar havendo dupla contagem. É que, com a inflação esperada mais baixa, o governo eleito não precisaria reservar na conta da PEC um espaço para garantir um ganho real do valor do salário mínimo, como negocia agora.

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No seu entendimento, os recursos previstos no projeto de Orçamento já seriam suficientes para dar o aumento real do salário mínimo, que é atrelado ao INPC. A reserva feita na PEC para dar o ganho do mínimo é de R$ 6,4 bilhões.

“A nossa suspeita é que não vão incorporar na última hora no Orçamento”, diz Megale. Segundo ele, a Constituição deixa uma brecha para que o IPCA de dezembro possa ser estimado pelo Congresso. “A minha impressão é de que podem estimar um IPCA alto”, completa.

O economista-chefe da XP pondera que poderá ocorrer com a PEC um gasto inicial muito maior do que o necessário. Um dos riscos, diz ele, com a retirada do Bolsa Família do teto é o de a mudança virar uma “arma política” no caso de o governo perder popularidade. “Com uma canetada, ele poderia subir de R$ 600 para R$ 1.000. Vira uma arma política muito forte com impacto”, diz.

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Megale avalia que os números da PEC estão opacos e cobra detalhes de para onde serão destinados os R$ 105 bilhões que a proposta abre a novos gastos com a retirada do Bolsa Família do teto de gastos.

“Não tem técnico do governo que faça uma tabela detalhando as despesas. Está tudo sem planejamento e números muito jogados”, critica.

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