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Criador de gado de corte prova que é possível unir floresta, pasto e lucro

Fazenda em Paragominas (PA), de Mauro Lúcio Costa, adota práticas como bem-estar animal e adubação de piquetes

Foto do author Sandy Oliveira
Por Sandy Oliveira

Práticas de manejo que valorizam a sustentabilidade e o bem-estar animal, resultando, por consequência, em maior lucro têm sido cada vez mais adotadas por pecuaristas do País. Um dos exemplos é o criador Mauro Lúcio Costa, da Fazenda Marupiara, em Paragominas (PA).

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Desde 2002, Costa passou a “trabalhar de maneira diferente” da tradicional em uma propriedade de 2.200 hectares, dos quais 60% cobertos de mata nativa. Em 2021, ele produziu cerca de 33 arrobas por hectare ou 980 quilos de carne bovina por hectare. “Esse volume vem aumentando gradativamente. Eu trabalho para dar escala nesta produção e é por isso que nunca tive tempo para pensar em derrubar mais mata”, resume.

Atualmente, é proprietário de 2,3 mil bovinos das raças nelore e aberdeen.

Para alcançar tal produtividade, Costa adotou práticas adequadas de manejo, com sal mineral disponível aos animais em local enxuto, além do bem-estar, com o gado sendo tratado com conforto, com fartura de área sombreada e água limpa. “Plantamos árvores frutíferas, essências nativas, formando bosques separados e fechados”, diz ele, justificando que as espécies nativas têm crescimento mais lento.

Bem-estar animal

A plantação em formato de bosques é feita em cerca de 40% das áreas disponíveis para a produção agropecuária, e tem o intuito de melhorar a qualidade de vida dos bovinos, que podem usufruir de um local sombreado, já que ficam em torno dos piquetes quadriculados disponíveis para alimentação dos animais.

Na Marupiara, os bezerros chegam desmamados, são identificados, recebem brinco de identificação (que indicam raça, idade, procedência, peso) e encaminhados para os piquetes, onde permanecem até os 10 meses. O rebanho é alimentado essencialmente no pasto, informa Costa.

O produtor utiliza o pastejo rotacionado, com os animais se deslocando a cada três dias para um piquete diferente, com descanso de quase um mês para o pasto consumido. São utilizados oito piquetes, de tamanhos diversos, agrupados em 34 módulos. “O boi fica em um sistema de rodízio, o que fez a taxa de lotação aumentar bastante.”

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Comida farta

Ele aponta que, na propriedade, os animais se deslocam para se alimentar de um bom capim. “Nossos pastos ficam melhores (nesse sistema) e os animais são nossas colheitadeiras”, compara.

No período de seca, quando o pasto perde capacidade de suporte, Costa coloca os animais no sistema de confinamento que possui, com 100 m², onde o piso é de grama e parecido com o pasto. “Ficam lá por no máximo três meses.” O pecuarista acrescenta que o “segredo” para intensificar a produção é a fertilidade do solo. “Quanto mais eu melhoro a fertilidade, mais consigo aumentar a lotação dos pastos”, diz.

Desbravador

No início do processo para tornar sua fazenda um local com práticas sustentáveis, Costa foi chamado de “louco”, quando se opôs a abrir novas áreas de floresta em sua propriedade. “Em 2002, comecei minhas primeiras adubações nos pastos já abertos. Eu não entendia nada do que estava fazendo, mas, em 2005, 2006, percebi que estava no caminho certo, quando vi a produtividade aumentar”, lembra.

Agora, em 2022, o pecuarista contabiliza um rebanho médio de 2.300 cabeças de gado, de recria e engorda, que foram criadas em uma área de aproximadamente 520 hectares. Além da pecuária, ele destina 360 hectares da fazenda para a agricultura, com plantação de soja e milho.

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O pecuarista enfatiza que, com o trabalho que faz em sua propriedade, a reforma de pasto não se faz necessária, pois, como cultura perene, a área é bem cuidada o ano todo. “Eu não degrado. Não trabalho com pecuária para desmatar”, argumenta ele, acrescentando que a derrubada de mata nativa resulta em uma “riqueza egoísta” e em um “extrativismo descontrolado”. “Todos nós vamos ficar pobres porque a natureza vai se degradar e não vamos conseguir tirar mais nada dela”, observa.

O produtor garante que tem sido “muito feliz” com a maneira como produz carne bovina e acredita que a sustentabilidade na atividade no País avançará à medida que “as pessoas ganharem dinheiro (com as boas práticas)”.

Fase difícil

Por um curto período, Costa reconhece que não fez todo o dever de casa, quando comprou bois de procedência desconhecida – que poderiam ter vindo de áreas de desmate ilegal, por exemplo. “Em 2019 teve um apagão de bezerro (falta de oferta). Tive dificuldades para comprar (de fornecedores diretos). Comprei de todo mundo que tinha para vender”, relembra.

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Mauro Lúcio Costa; ele adota práticas de manejo que valorizam a sustentabilidade e o bem-estar animal.  Foto: Arquivo pessoal

Mas, hoje em dia, ele afirma que 100% da sua cadeia produtiva é monitorada e que só compra de vendedores com procedência, sem ligação com áreas desmatadas, terras indígenas ou trabalho análogo à escravidão. “Até por isso entrei, agora, no negócio de cria, comprando algumas fêmeas. Fiz isso para ter garantia (da origem do animal)”, diz.

Influencer do campo

Sabendo da importância da adoção de medidas para uma produção sustentável, Costa decidiu que era o momento adequado para compartilhar seus conhecimentos pelas redes sociais. “Apesar das dificuldades para gravar vídeos, eu vi que poderia transmitir ensinamentos pela minha conta no Instagram”, diz. “Levar um conteúdo de qualidade, com aquilo que acredito sobre a melhoria de produtividade”, comenta.

Na rede social, o usuário @maurolucio.marupiara já soma mais de 6 mil seguidores. Na conta, ele faz vídeos e fala sobre práticas que adota na propriedade, com explicações e dicas, mas também responde às dúvidas de pequenos produtores que querem saber mais do trabalho que ele fez em relação à produtividade. Sobre o assunto, acredita que ainda faltam informações. “Os pequenos lidam com dificuldades para tornar a atividade rentável.”

“Remunera pouco porque produz pouco. Acabam produzindo de maneira errada, indo para a parte de extrativismo da terra. O problema é que começou errado e ninguém nunca mudou”, segue.

Olhando para a frente, Costa tem projetos pontuais com os pequenos pecuaristas, com o intuito de passar seu conhecimento na prática e tornar os produtores “donos de suas próprias cabeças de gado”.

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