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Opinião|A transição energética justa no mundo real

Este mundo demanda um olhar holístico dos problemas, sem discursos importados, ideologias ou demagogias

Por Fernando Luiz Zancan

Temos visto muitas manifestações públicas sobre transição energética. Em sua maioria, são discursos eurocêntricos com conceitos equivocados e distantes da realidade brasileira. Transições são jornadas lentas e podem levar décadas. É um processo que impacta a vida das pessoas e demanda mudanças de modelos de produção e consumo da energia. Estamos falando de redução de dióxido de carbono (CO₂) e metano (CH4), que envolve a busca pela emissão zero.

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A transição energética precisa ser justa, como definida no Acordo de Paris, em 2015. Para ser justa, precisa reduzir as emissões de gases do efeito estufa sem destruir o valor econômico e social. No Brasil, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 36,2 mil famílias dependem da indústria do carvão. Isso representa uma massa salarial de R$ 1,1 bilhão e uma arrecadação anual de R$ 1,6 bilhão. Até 2050, a manutenção dessa indústria significará uma receita de R$ 40 bilhões e uma movimentação de R$ 27,5 bilhões de salário e renda. Em 25 anos, o valor adicionado na economia brasileira será de R$ 107,5 bilhões.

Importante frisar que o compromisso assumido pelo Brasil na COP de Glasgow, em 2021, foi de neutralizar – e não de eliminar – suas emissões. Também é bom esclarecer que as usinas a carvão representam apenas 0,3% das emissões nacionais. Mais ainda: a média brasileira é de 7 milhões de toneladas anuais de CO₂, enquanto a média mundial é cerca de 40 bilhões de toneladas. Ou seja, o fim do carvão brasileiro não resultaria em grande ganho ambiental, mas causaria um enorme prejuízo econômico e social para o País.

O baixo custo das térmicas de Candiota (25 vezes menor do que a energia importada) resultou em uma economia na conta de luz Foto: CGT Eletrosul

Além disso, as cinzas do carvão, já utilizadas na indústria de cimento, em breve poderão ajudar na produção de fertilizantes. Lembremos ainda que em 2021 tivemos um período muito seco, o que demandou a operação de todo o parque térmico para garantir a segurança do sistema elétrico nacional. Mais recentemente, na maior enchente da história do Rio Grande do Sul, foi preciso acionar todo o parque térmico do Estado para impedir um apagão.

Por conta do baixo custo das térmicas de Candiota (25 vezes menor do que a energia importada), esse esforço resultou em uma economia na conta de luz. Com as mudanças no clima, teremos menos chuva, mais nuvens (menos energia solar), e isso vai exigir uma energia firme e despachável. Este mundo real demanda um olhar holístico dos problemas, sem discursos importados, ideologias ou demagogias. Em países em desenvolvimento, como o Brasil, não se pode importar modelos que em nada contribuem para políticas públicas, não atendem a sociedade e só servem para travar o crescimento.

Opinião por Fernando Luiz Zancan

Presidente da Associação Brasileira do Carbono Sustentável (ABCS)

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