Temos visto muitas manifestações públicas sobre transição energética. Em sua maioria, são discursos eurocêntricos com conceitos equivocados e distantes da realidade brasileira. Transições são jornadas lentas e podem levar décadas. É um processo que impacta a vida das pessoas e demanda mudanças de modelos de produção e consumo da energia. Estamos falando de redução de dióxido de carbono (CO₂) e metano (CH4), que envolve a busca pela emissão zero.
A transição energética precisa ser justa, como definida no Acordo de Paris, em 2015. Para ser justa, precisa reduzir as emissões de gases do efeito estufa sem destruir o valor econômico e social. No Brasil, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 36,2 mil famílias dependem da indústria do carvão. Isso representa uma massa salarial de R$ 1,1 bilhão e uma arrecadação anual de R$ 1,6 bilhão. Até 2050, a manutenção dessa indústria significará uma receita de R$ 40 bilhões e uma movimentação de R$ 27,5 bilhões de salário e renda. Em 25 anos, o valor adicionado na economia brasileira será de R$ 107,5 bilhões.
Importante frisar que o compromisso assumido pelo Brasil na COP de Glasgow, em 2021, foi de neutralizar – e não de eliminar – suas emissões. Também é bom esclarecer que as usinas a carvão representam apenas 0,3% das emissões nacionais. Mais ainda: a média brasileira é de 7 milhões de toneladas anuais de CO₂, enquanto a média mundial é cerca de 40 bilhões de toneladas. Ou seja, o fim do carvão brasileiro não resultaria em grande ganho ambiental, mas causaria um enorme prejuízo econômico e social para o País.
Além disso, as cinzas do carvão, já utilizadas na indústria de cimento, em breve poderão ajudar na produção de fertilizantes. Lembremos ainda que em 2021 tivemos um período muito seco, o que demandou a operação de todo o parque térmico para garantir a segurança do sistema elétrico nacional. Mais recentemente, na maior enchente da história do Rio Grande do Sul, foi preciso acionar todo o parque térmico do Estado para impedir um apagão.
Por conta do baixo custo das térmicas de Candiota (25 vezes menor do que a energia importada), esse esforço resultou em uma economia na conta de luz. Com as mudanças no clima, teremos menos chuva, mais nuvens (menos energia solar), e isso vai exigir uma energia firme e despachável. Este mundo real demanda um olhar holístico dos problemas, sem discursos importados, ideologias ou demagogias. Em países em desenvolvimento, como o Brasil, não se pode importar modelos que em nada contribuem para políticas públicas, não atendem a sociedade e só servem para travar o crescimento.
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