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Empresário expulso duas vezes da escola quer criar império de educação digital

Flávio Augusto da Silva, CEO da Wiser Educação, já comprou cinco edtechs e avalia mais 70 companhias com foco na educação digital; hoje, além de empresário, é professor em três MBA’s, apesar de não ter concluído a graduação

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara
Atualização:

Expulso da escola por duas vezes – do colégio militar e do jardim de infância –, o empresário Flávio Augusto da Silva, de 51 anos, fundador da escola de inglês Wise Up e hoje CEO da Wiser Educação, quer construir um império na educação digital. Desde 2021, já comprou cinco edtechs, empresas de educação conectadas com tecnologia, avaliadas em R$ 350 milhões.

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Além disso, avalia mais de 70 edtechs para futuras aquisições e finaliza a compra de duas empresas do setor de concursos, nas quais deve desembolsar cerca de R$ 50 milhões. Hoje o empresário tem no portfólio as empresas a Wise up Online e Number One, voltadas para ensino online de idiomas, a editora Buzz e meuSucesso.com, focados no ensino de empreendedorismo, e as escolas físicas da Wise Up, além das cinco edtechs nas áreas de preparação para concursos, vestibulares, Enem, exame de residência médica, marketing e vendas.

E, segundo ele, isso é só o começo. “Já nos tornamos a maior edtech e, quando o mercado for favorável, vamos estar prontos para um IPO (abertura de capital na Bolsa, na sigla em inglês)”, afirma o empresário. Em março de 2020, Silva já tinha tentado abrir o capital da empresa. Na época contratou cinco bancos para fazer a operação, marcada para junho daquele ano. A perspectiva era levantar no mercado entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões, mas a pandemia frustrou o planejamento.

Agora Silva espera o momento certo para retomar os planos. Com um perfil inquieto, típico de um empreendedor, ele tem uma história de muitas idas e vindas. Aos 13 anos, filho de um sargento do Exército e de uma professora, ele decidiu entrar em um Colégio Naval. Morador de Jabour, subúrbio carioca, Silva gastava cinco horas por dia para frequentar um curso preparatório para fazer o teste da escola. Egresso da escola pública, levou três anos para ser aprovado.

Aos 16 saiu de casa e foi para o Colégio Naval, que ficava em Angra dos Reis (RJ). “Logo no primeiro dia falei: esse negócio não é pra mim”, lembra, argumentando que a sua personalidade é criativa, questionadora e indisciplinada, traços que, segundo ele, são incompatíveis com a carreira militar. Mesmo assim, ficou lá por dois anos até ser expulso da escola por indisciplina. A saída do colégio militar foi um choque para a família e vizinhos. Na periferia, onde morava, passar num concurso para ser oficial era sinal de prestígio.

Apesar do revés, o colégio militar, que tinha um ensino muito bom, lhe abriu as portas do ensino superior. Ele diz que foi aprovado em todos os vestibulares que fez em universidades renomadas como Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal Fluminense (UFF). A sua escolha foi pelo curso de Tecnologia na UFF, pois não teria condições de se manter em outro Estado. Mas, também nesse caso, ele não concluiu a universidade.

Tudo isso, no entanto, acabou sendo aprendizado que Silva usou nos momentos mais complicados nos negócios, como foi durante a pandemia. Com a paralisação das atividades de um dia para o outro, as 420 escolas físicas de inglês, a maioria franquias, foram fechadas e o faturamento praticamente caiu a zero. Silva achava que pandemia levaria, no mínimo, um ano para passar. Como o tempo médio de permanência do aluno nos cursos é de 11 meses, concluiu que, se a escola permanecesse fechada por uma ano, o seu negócio acabaria. Isso exigiu novas estratégias.

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De uma rede de escola de inglês presencial, a empresa virou uma rede de empregabilidade online. O inglês passou a ser mais um curso oferecido, entre outros, para as pessoas se recolocarem no mercado de trabalho.

Meses antes da pandemia, a empresa já tinha lançado uma plataforma de cursos de inglês online. O que, segundo empresário, facilitou a transição para o digital, que foi aperfeiçoada com treinamento das equipes para trabalhar de casa e desenvolver novas técnicas de vendas.

De escola de inglês, grupo virou uma rede de empregabilidade com vários cursos online Foto: Elvis Freitas/Estadão

A abertura do foco do negócio deu bons resultados. Em 2019, a franqueadora, sem incluir as vendas de franqueados, faturava R$ 215 milhões, e atendia a 130 mil clientes. No ano passado, fechou com receita de R$ 501 milhões e 753 mil alunos virtuais.

Para este ano, a perspectiva é atingir receita de R$ 600 milhões e ampliar em 10% o número de alunos. “Saímos de uma tempestade, reinventamos o negócio e nos tornamos duas vezes e meia maior em três anos, sem contrair dívidas”, diz Silva.

Início como vendedor

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Foi com esse pensamento de se reinventar que ele largou a faculdade e passou a trabalhar como vendedor. No início da universidade, aos 18 anos, Silva começou a namorar a sua esposa, que na época tinha 15 anos. Eles queriam se casar. Então, ele arranjou um emprego numa escola para vender cursos de inglês, justamente uma das suas piores matérias e sem saber falar a língua.

Em pouco tempo, se destacou em vendas. Aos 19 anos virou gerente comercial da escola de inglês e aos 22 diretor comercial, com um salário que na época equivalia a US$ 7 mil. E foi assim que ele abandonou a escola. Trancou a matrícula da faculdade para ser vendedor, que tinha melhores perspectivas na época do que a área de tecnologia. Isso poderia acelerar os planos do casamento.

Quando estava no auge como diretor de vendas, já casado, pediu demissão do emprego para abrir a sua própria escola de inglês. “Vi que havia uma oportunidade”, lembra. O ano era de 1995 e muitas privatizações estavam em curso na área de telecomunicações, com a chegada de companhias estrangeiras. Movimento semelhante ocorria no setor de petróleo, com a quebra do monopólio. “Na região de Macaé (RJ), muitas companhias estrangeiras vieram para o Brasil e o inglês se tornou um requisito básico.”

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A Wise Up começou em 1995, com investimento inicial de R$ 20 mil, crédito obtido no cheque especial, com juros na época de 12% ao mês. “Sabia que se acertasse aquele negócio a minha vida mudaria completamente.”

No terceiro mês de funcionamento o investimento se pagou. Nove meses depois de abrir a primeira escola, foi inaugurada a segunda em São Paulo, na Avenida Paulista, na época, o centro financeiro do País. No primeiro ano de funcionamento, ele conta que vendeu 1.500 matrículas.

A partir daí o negócio foi só crescendo e chegou a 24 escolas próprias em três anos nas principais capitais. Nos anos 2000, começou a transição para o sistema de franquias. Em 2013, a empresa foi vendida para Abril Educação por R$ 939 milhões, oferta considerada pelo empresário como excelente para um negócio que começou com investimento de R$ 20 mil.

Dois anos depois, em 2015, Silva recomprou a Wise Up de um fundo que havia adquirido a escola de inglês da Abril Educação. O negócio saiu por R$ 380 milhões, menos da metade do valor que ele havia vendido.

Nessa fase, iniciada em 2016, trouxe como sócios minoritários o principal concorrente, Carlos Wizard, e o Itaú, por meio do fundo Kinea. “Com a venda dessas participações recuperei o investimento na recompra da companhia.”. A partir daí, foi formada a holding Wiser Educação.

Críticas ao sistema tradicional

Depois 28 anos de experiência no setor, de ter sido expulso duas vezes da escola e abandonado a faculdade, o empresário é defensor da educação, mas é um crítico do formato tradicional. “Educação é importante para evoluir, mas não necessariamente no formato tradicional, que é insuficiente e precisa ser complementado.”

Ele cita como exemplo os cursos de inglês, frisando que ninguém aprende inglês na escola. “A Wise Up só existe porque a escola é incompetente”, afirma.

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Na opinião do empresário, o sistema educacional não pode querer padronizar o aluno. “Eu estudo muito, mas não pelas vias formais”, afirma, enfatizando que é professor em três MBAs, da PUC do Rio Grande do Sul, da Conquer Business School e do Grupo Primo, sem ter concluído a graduação. “Todo mundo sabe disso, mas eu me tornei um dos maiores especialistas em vendas do Brasil.”

Flávio Augusto da Silva, CEO da Wiser Educação, não concluiu graduação e é professor em três cursos de MBAs Foto: Alex Silva/Estadão

Além de professor, ele tem 9 milhões de seguidores nas redes sociais. “Cada dia que passa, mais pessoas não se encaixam na escola, não se encaixam na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), e vão fazer o que na vida, virar traficante?”, questiona.

Na sua opinião, as pessoas têm de se encontrar, empreender, ser atleta, artista, sacerdote, existem muitas opções fora do padrão. Silva acredita que trabalhar com educação é tocar a vida das pessoas dessa forma. “Por isso, estou nas redes sociais e acho que sou um educador.”

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