Pesquisas sobre países emergentes crescem na USP e em universidades federais; veja como participar

Mais de dois terços das dissertações e teses que tiveram como tema o Brics foram publicadas depois de 2017

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Por Raisa Toledo

As oportunidades de negócios e o amplo leque de possibilidades de pesquisa oferecidos pelo crescimento de países em desenvolvimento têm interessado cada vez mais a estudantes e executivos. O Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por exemplo, indica que 68,7% das dissertações e teses que tiveram como tema de pesquisa o Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – foram publicadas depois de 2017.

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Em universidades de diferentes regiões do País, as cinco nações emergentes consideradas ganharam grupos de estudos e pesquisas específicos. É o caso da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).

O Grupo de Estudos Sobre os Brics (Gebrics), da Faculdade de Direito da USP, tem em seus quadros estudantes de graduação, pós-graduação e quem já finalizou mestrado e doutorado. “Temos integrantes de diferentes instituições e nosso processo seletivo é de alta competitividade”, diz o professor universitário Cássio Zen, que é pesquisador do grupo e diretor do think tank Forum for Global Studies, de Nova Délhi, na Índia.

Os participantes são voluntários, de áreas como Direito, Relações Internacionais, Sociologia, Geografia e Pedagogia, e atendem a encontros e atividades presenciais e virtuais. Em colaboração com instituições de outros países do bloco, o grupo promove eventos, publicações em parceria e, anualmente, a Jornada dos Brics, que reúne diplomatas, pesquisadores e professores de todos os países-membros.

NuBRICS da UFF foi o primeiro grupo criado por universidade federal; disciplinas abertas atraem interessados em política internacional Foto: NUBRICS/ARQUIVO

No caso de Cássio, sua participação no grupo impulsionou outras parcerias na temática das economias emergentes. “O Gebrics foi convidado para participar de um evento na Índia e as amizades que fiz naquele congresso proporcionaram a criação, futura, do think tank de que faço parte.”

Na Universidade Federal Fluminense (UFF), o Núcleo de Estudos dos Países Brics (NuBRICS) atua de forma semelhante e conta com pesquisadores de outras instituições do Estado do Rio. “O NuBRICS foi o primeiro criado por uma universidade federal, estruturado a partir de 2016. O Brics, então, ganhava importância no cenário nacional e internacional com suas reuniões anuais e declarações de cúpula”, afirma Eduardo Gomes, professor do Departamento de Ciência Política da UFF e coordenador do núcleo.

Com participantes que vêm de Relações Internacionais, Direito, Economia, Ciência Política, Medicina e Serviço Social, as pesquisas produzidas têm temáticas variadas. O grupo deve se debruçar sobre a ampliação do Brics, que terá como membros a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Irã, com a participação de um pesquisador de questões relacionadas ao Oriente Médio.

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Os professores e pesquisadores do NuBRICS ministram disciplinas abertas sobre o bloco, que, segundo Gomes, costumam interessar também a estudantes que não o têm como objeto específico de estudo. Um dos matriculados foi Pablo dos Santos Martins, doutorando em Ciência Política. Ele estuda a agenda da indústria brasileira na Organização Mundial do Comércio (OMC) e sua atuação na América do Sul, e se interessou pela trajetória do Brics relacionada ao desenvolvimento do sul global.

“É a iniciativa da política brasileira que tem mais possibilidades econômicas e políticas”, diz sobre o bloco dos países emergentes. Na disciplina, foram abordadas iniciativas de cooperação em saúde, energia e qualificação de mão de obra entre os países; os desafios do Brics diante da geopolítica global e iniciativas do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD).”Não foi somente sobre o aspecto político ou econômico, e acho esse universo expandido interessante para pensar as possibilidades do Brasil na atual ordem mundial.”

Para quem busca entender as economias emergentes em seus efeitos mais práticos, o tema também vem ganhando relevância em MBAs e cursos voltados ao mundo do business. Na pós-graduação em Negócios e Marketing de Luxo Contemporâneo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), a disciplina Mercados Emergentes e Internacionalização tem como foco capacitar os alunos para analisarem e selecionarem mercados internacionais para seus negócios. Para isso, as aulas trazem estudos de caso e dados de ambiente econômico, político e social.

Segundo Silvana Scheffel Gomes, que ministra a disciplina, os mercados emergentes têm crescido mais do que as economias de países desenvolvidos, o que configura uma oportunidade para as marcas de luxo. “Eles são caracterizados pelo aumento da classe média, que passa a ter acesso ao consumo de itens de maior valor agregado, um consumidor ávido por inovações e pela experimentação de novos produtos”, afirma.

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Países como os do Brics representam ainda, de acordo com ela, uma possibilidade de expansão mercadológica mais certeira. “Para empresas em processo de internacionalização, é mais fácil planejar estratégias de entrada em um mercado em crescimento, com novos consumidores, do que em mercados maduros, com marcas tradicionais que competem por um consumo que não apresenta aumento significativo.”

Outras opções são os MBAs em Digital Finance e Finanças e Mercado de Capitais da Trevisan Escola de Negócios, que insere os países emergentes nas reflexões sobre os agentes econômicos globais. Em exercícios e debates promovidos em sala, países integrantes do Brics são usados como base para discutir os conceitos de macroeconomia e geopolítica.

“A Rússia, até pela questão do conflito com a Ucrânia, também faz parte das pautas de discussões, porque eles são grandes agentes econômicos que têm expressiva representatividade no comércio global”, diz Acilio Marinello, coordenador do curso de Digital Finance.

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Programas híbridos e EAD para público diverso

Gebrics - USP: Grupo de estudos que aceita participantes de diferentes instituições e áreas do conhecimento. Realiza atividades virtuais e presenciais e programas de colaboração com instituições de outros países do Brics. Tem no mínimo uma reunião mensal e a entrada se dá mediante processo seletivo anual.

NuBRICS - UFF: Núcleo de estudos com várias frentes de pesquisa relacionadas ao Brics. Realiza eventos, intercâmbios e leciona disciplinas dentro de cursos de pós-graduação.

Nebrics - UFRGS: Núcleo de estudos aberto a pesquisadores com interesse ou pesquisas na área, sem restrição de campo de formação. A maioria dos integrantes é do curso de Relações Internacionais, principalmente docentes e pós-graduandos.

Observatório dos Brics - Unila: Projeto de pesquisa e extensão ligado ao Núcleo de Estudos Estratégicos, Geopolítica e Integração Regional (Neegi) da universidade. Restrito à participação de alunos, realiza a transmissão de eventos e lives com convidados internacionais.

Brics Policy Center/Centro de Estudos e Pesquisas Brics - PUC-Rio: Think tank da PUC-Rio. Aceita estudantes de Relações Internacionais da universidade ou pesquisadores de outras instituições, nacionais e internacionais, mediante aplicação para fellowship.

Negócios e Marketing de Luxo Contemporâneo - ESPM: Curso híbrido, com aulas ao vivo presenciais ou on-line; carga horária de 390 horas e investimento de 35X R$ 1.462,58 (com taxa de inscrição de R$ 100 para o processo seletivo)

MBA em Digital Finance - Trevisan Escola de Negócios: Curso híbrido, com aulas remotas ao vivo e disciplinas EAD; carga horária de 472 horas e investimento de 24 parcelas de R$ 527,74 (com descontos para pagamentos à vista ou em menos parcelas)

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MBA em Finanças e Mercado de Capitais - Trevisan Escola de Negócios: Curso EAD; carga horária de 366 horas e investimento de 24 parcelas de R$ R$ 261,28 (descontos para pagamentos à vista ou em menos parcelas)

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