Tecnólogo ou bacharelado: conheça as vantagens e diferenças entre os dois tipos de curso

Na hora de definir a graduação, pode surgir a dúvida entre optar por um curso de curta ou de longa duração; veja o que analisar nesta situação

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Por Hellen Cerqueira
Atualização:

Todos conferem diploma de curso superior e habilitam para um curso de pós-graduação, mas, afinal, qual a diferença entre bacharelado, licenciatura e tecnólogo? A resposta mais simples é o tempo de duração do curso. Mas isso é só uma parte. Veja quais são as similaridades e diferenças entre essas modalidades de graduação.

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O bacharelado e a licenciatura são formações tradicionais de ensino superior. Ambas promovem uma visão mais abrangente da área de estudo escolhida, sem aprofundamento em temas específicos. Esse tipo de curso viabiliza que o estudante tenha ampla possibilidade de atuação profissional. A diferença entre eles é que os formados em licenciatura podem ministrar aulas na educação básica (no ensino fundamental e no médio).

Já o tecnólogo é menos abrangente e mais profundo: seleciona uma dimensão da área profissional desejada e destrincha todas as micros possibilidades dentro daquele segmento. Por causa dessa diferença de aprofundamento, o perfil dos alunos que escolhem um curso tecnológico ou um bacharelado pode ser bastante distinto.

Faculdades de Tecnologia (Fatecs) do Centro Paula Souza; cursos são uma boa opção para quem já estudou ou atua em alguma mais geral e deseja aprofundar os conhecimentos Foto: Gastão Guedes

O aluno do tecnólogo costuma ser mais velho, com alguma experiência de mercado ou até mesmo já ter realizado uma primeira graduação. Dados do Instituto Semesp relativos a 2021 mostram que 47,7% dos estudantes matriculados em cursos tecnológicos da rede pública possuem entre 25 e 59 anos. Por outro lado, os matriculados no bacharelado costumam ser oriundos diretos do ensino médio: aproximadamente 70% dos alunos matriculados em cursos de bacharelado da rede pública possuem até 24 anos.

Duração

O tempo de graduação é a principal diferença entre o tecnólogo e o bacharelado ou a licenciatura. Os cursos da primeira opção têm duração média de dois a três anos. Quanto ao bacharelado e a licenciatura, a duração varia entre quatro e seis anos.

Essa duração reduzida tem ganhado mais adeptos ao longo dos anos. De acordo com o Instituto Semesp, de 2016 a 2021 houve um crescimento de 6,6% nas matrículas de cursos tecnológicos presenciais da rede pública, e 24,4% nos cursos a distância.

Na rede privada, o crescimento é muito mais acentuado. O número de matrículas em cursos tecnológicos a distância aumentou 230% – um salto de 375 mil matrículas em 2016 para mais de 1,2 milhão em 2021.

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Fatec São Caetano; cursos tecnológicos facilitam a entrada no mercado de trabalho desde o início Foto: Roberto Sungi

Para quem é indicado os cursos tecnólogos?

Os cursos tecnológicos são uma boa opção para quem já estudou ou atua em alguma área profissional mais geral (exemplo: engenharia) e deseja aprofundar os conhecimentos em uma área específica (exemplo: hidráulica e saneamento ambiental) mas não pretende fazer uma pós-graduação no momento.

“Tenho aluno que fez administração ou psicologia e vem para o tecnólogo em RH, por exemplo. De acordo com o apontamento do relatório socioeconômico do segundo semestre de 2023, a porcentagem de alunos já graduados que cursam Fatec é de 15%”, explica Esmeralda Oliveira, coordenadora de currículos das Faculdades de Tecnologia (Fatecs) do Centro Paula Souza

Esse é o caso da Jéssica Ferreira Xavier, estudante do 6º período de Cosméticos na Fatec de Diadema. Após concluir a licenciatura em química e ingressar para o mercado de trabalho na área de cosméticos, percebeu que o amplo conhecimento que aprendeu durante a graduação não era suficiente para atuar na área.

“No bacharelado, dependemos muito dos estágios que conseguimos ao longo do curso para entendermos mais a fundo uma área específica. Eu não fiz estágio na área de cosméticos. Então, quando começaram a chegar demandas específicas da área, fiquei muito perdida”, desabafa.

Jéssica decidiu sair do emprego e se dedicar aos estudos voltados para esse segmento específico dentro da química, por meio do curso tecnólogo. E contrariando o estereótipo de que cursos tecnológicos limitam a área da pesquisa, em junho de 2023, Jéssica ficou em terceiro lugar no Congresso Brasileiro de Cosmetologia, com seu trabalho científico sobre “Análise microbiológica de produtos cosméticos orgânicos”.

Apesar de ter iniciado o tecnológico com objetivos profissionais, após a conquista inesperada, Jéssica pretende continuar avançando na área da pesquisa.

Segunda graduação

Se a ideia da segunda graduação for mudar totalmente de área, o bacharelado costuma ser o melhor caminho. Afinal, por ser um campo de conhecimento novo, pode ser importante começar com um curso mais amplo para, no futuro, segmentar a atuação.

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A pedagoga Amanda Mazoti terminou a licenciatura em pedagogia em 2020. Três anos depois, decidiu voltar para o ambiente acadêmico: agora, para cursar jornalismo na FAM. “Minha vontade sempre foi fazer jornalismo. Porém, não tinha condições financeiras para arcar com os valores das mensalidades, mesmo com os financiamentos de ProUni e Fies”, conta.

A saída foi estudar pedagogia para conseguir uma promoção na empresa que trabalha há mais de seis anos e, finalmente, poder seguir seu sonho. Como o foco é entender as diferentes possibilidades do jornalismo dentro da grande área da comunicação, Amanda optou por um bacharelado. Mas já está nos planos fazer uma pós-graduação em algo mais voltado para mídias digitais.

Enquanto alguns cursos de bacharelado não possibilitam que o estudante faça estágios no começo ou no meio da graduação, os tecnológicos facilitam a entrada no mercado de trabalho desde o início.

Nas instituições que pertencem ao Ecossistema Ânima, por exemplo, os tecnólogos possuem até mesmo certificações intermediárias, “o que promove o ingresso no mundo profissional mais rápido. O tecnólogo é mais direcionado para quem já sabe o que quer”, comenta Denise Campos, vice-presidente de Estratégias Acadêmicas do Ecossistema Ânima.

Para Lívia da Silva Ferreira Adate, estudante do 6º período do curso de Eventos na Fatec de Barueri, a decisão de fazer tecnólogo foi ter conhecimento teórico da área em que atua desde 2007. “Aprendi muito na prática. Mas aí, chega um momento em que a gente percebe que precisa ampliar a visão de mercado”.

Esta é a primeira graduação de Lívia. Aos 41 anos, mãe de uma menina de 10 anos e de um menino de oito, o curso de curta duração foi a opção mais viável para Lívia, que recebe apoio contínuo dos professores e da instituição para conseguir conciliar família e estudos.

Mesmo trabalhando com eventos há mais de 10 anos, foi no tecnólogo que a estudante descobriu uma nova paixão dentro da área: mestre de cerimônia. “A cada semestre, desenvolvemos alguns trabalhos integradores na faculdade, e foi assim que descobri a profissão de mestre de cerimônias. No fim, o trabalho foi bem elogiado e eu comecei a estudar mais sobre a área”.

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Quem faz tecnólogo pode fazer pós?

Para os estudantes que pretendem emendar uma pós-graduação, stricto sensu ou lato sensu, tanto o tecnólogo quanto o bacharelado são opções viáveis. O bacharelado pode encaminhar para mestrados mais acadêmicos, e os tecnológicos para mestrados mais profissionais – mas isso não é uma regra.

“O importante é que o aluno interessado procure informações sobre cada curso, seja tecnólogo seja bacharelado. Ambos são importantíssimos para o país, e necessitamos de mais tecnólogos e mais bacharéis para que possamos ter mais jovens com formação superior de qualidade e que atenda aos objetivos e aos anseios de cada um”, finaliza Lúcia Teixeira, presidente do Semesp.

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