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Arte em casa: artistas fazem desenhos exclusivos sob encomenda

Grafites ou pinturas deixam a decoração com mais personalidade e podem virar o foco principal da sua decoração

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Foto do author João Abel
O artista plástico Giuliano Martinuzzo fez uma intervenção no pé-direito desta casa em Alphaville Foto: Zeca Wittner/Estadão

Em poucas cidades do mundo a presença do grafite se faz sentir com tanta intensidade quanto em São Paulo. Das vielas às fachadas dos grandes prédios, ele ilustra hoje os mais diversos espaços.  Não surpreende portanto que nos últimos tempos esta verdadeira ‘galeria’ à céu aberto venha conquistando também uma nova legião de admiradores: a dos moradores que pretendem incorporar pinturas murais à decoração de suas casas e apartamentos. “É como ter uma tatuagem na parede da sala”, define o artista Binho Ribeiro, que, grafita, em média, uma a duas residências por mês. “Os clientes gostam da ideia de ver a minha técnica adaptada ao tamanho e estilo de suas casas”diz.  Outro diferencial, segundo ele, é o maior envolvimento do morador com todas as fases do trabalho. “É possível moldar a obra para que ela converse com cada espaço. É muito mais pessoal e artístico que aplicar um papel de parede ou comprar uma pintura em tela”. Até por isso, todo o cuidado é pouco.  “Antes da aplicação, utilizo adesivos como molde. Só depois da aprovação, pinto a parte vazada com spray e aplico minhas técnicas de aerografia”, conta o grafiteiro Lucas Barbosa. Já o artista plástico Giuliano Martinuzzo chega a realizar projeções para que o cliente entenda como sua arte vai ocupar a parede. “Não faço nenhum tipo de traço com lápis antes de usar o pincel”, afirma ele, que realiza trabalhos apenas em paredes residenciais.  Três artistas, três modalidades de expressão, que você conhece nas próximas páginas.

Binho Ribeiro em ação fazendo arte na parede e no ar-condicionado Foto: Estúdio Binho Ribeiro

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Marca registrada

Com exposições realizadas em mais de 12 países, os grafites de Binho Ribeiro carregam características muito particulares. Cores vibrantes, animais e cenários surrealistas fazem parte do vocabulário expressivo do artista, que produz desde grandes painéis a obras mais intimistas. Ribeiro é um dos pioneiros do grafite no Brasil e teve seu primeiro contato com a arte ainda na adolescência. Mas as criações em ambientes internos vieram só mais tarde. “Antigamente, era um trabalho mais ocasional. Hoje em dia, a pintura indoor já é um ramo da arquitetura e decoração”, afirma. Segundo ele, a versatilidade não pode ser deixada de lado na hora de criar para interiores. “É preciso captar o que o proprietário quer em relação a cores, movimentos, figuras. Há todo um relacionamento entre os moradores e o artista. O resultado disso é a própria obra”, declara o paulistano, nascido e criado na cidade, que vê o grafite como uma forma de humanizar os ambientes.  “Eu já tive algumas experiências, por exemplo, onde as pessoas programaram tudo na casa com muito cinza, branco e preto. E mesmo espalhando vários vasos de flores, não se conseguia dar vida ao espaço. Nesse tipo de situação, o grafite pode criar um diferencial. Se transformar em algo que se encaixa perfeitamente ao lugar”, comenta. 

A 'fauna' de Binho Ribeiro toma conta do visual urbano do Vale do Anhangabaú Foto: Estúdio Binho Ribeiro

Para isso, no entanto, é fundamental contar com características construtivas específicas. “É difícil encontrar superfícies onde o grafite não se enquadre, mas o ideal é dispor de uma parede pouco texturizada, praticamente rústica, que recebeu uma base de tinta acrílica ou PVA. Paredes muito chapiscadas podem comprometer a qualidade do trabalho”, detalha. O custo das obras de Binho oscilam de acordo com cada projeto. Ainda assim, o valor médio varia entre R$5.000 a R$10.000 por m².

O guarda-corpo de vidro faz com que seja possível ver a arte de cima do mezanino Foto: Zeca Wittner/Estadão

Traços orgânicos

O artista plástico Giuliano Martinuzzo faz estudos e apresenta projeções para que o cliente entenda como a sua arte vai ocupar a parede da casa. Mas, é preciso saber que suas criações são totalmente intuitivas. “Eu não faço nenhum tipo de traço com lápis antes de usar o pincel. Crio sem nenhum esboço, chego e começo a desenhar à mão livre mesmo”, explica. Nessa casa em Alphaville, o pé-direito alto pareceu perfeito para acomodar uma de suas artes de estilo minimalista feitas com tinta preta e traços fluidos. Martinuzzo gosta que seus desenhos “abracem” os ambientes, por isso extrapola os limites do plano e leva a arte para pilares e outras estruturas da arquitetura da casa. “É como se a arte estivesse enraizada, crescendo dentro do ambiente. Nesse caso, cheguei a conclusão que para atingir esse objetivo o ideal seria que o desenho fosse feito a partir da lateral do duto da lareira”, explica.

Detalhe da arte feita por Giuliano Martinuzzo Foto: Zeca Wittner/Estadão

O resultado caiu bem para dar mais vida e complexidade ao estar da casa, toda decorada com tons de cinza e poucos pontos de cor. O guarda-corpo de vidro da escada faz com que seja possível apreciar a arte de mais ou menos 7 metros sem barreiras, inclusive de cima do mezanino, onde o proprietário deixa estacionada uma bicicleta.  Quem contrata Martinuzzo para fazer uma arte deve saber que o preço varia bastante de acordo com o tipo de superfície e tamanho do desenho a ser feito, é preciso se reunir com o artista, explicar o que quer, passar medidas, até chegar a um preço final. Mesmo especialista em projetos internos, paredes em áreas externas também podem receber suas intervenções. “Tenho algumas obras feitas ao ar livre, e mesmo com chuva e muita incidência de luz, a durabilidade é boa”, diz Martinuzzo. Sobre qual estilo de decoração combina mais com suas intervenções, o artista prefere estilos urbanos e industriais. “Considero um contraste legal, por eu ter um traço orgânico. Não consigo enxergar isso em uma casa muito clássica. Acho que não caberia.”

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Estilo urbano de Lucas Barbosa invadiu o apartamento no bairro do Morumbi Foto: Zeca Wittner/Estadão

Das ruas para casa

Expressão artística que surgiu nas camadas mais populares, o grafite sempre abriu espaço a novos nomes. O paulistano Lucas Barbosa, de 26 anos, é um deles. “Desde criança, me via desenhando e o grafite surgiu por eu morar na Vila Madalena, onde a gente respira essa atmosfera de perto”, ele conta. Mesclando cores fortes, caricaturas e traços bem delineados, Lucas busca estender a atmosfera da rua nas suas produções domésticas. “Eu tenho minha linha de criação, algo mais street art, que vem da minha vivência com o skate e com outros artistas. Tento introduzir isso sempre que é possível, mas sem esquecer de balancear com a leitura pretendida pelos moradores”, ressalta o artista. Para ele, o grafite também pode ser uma forma de preencher sentimentos ou filosofias de vida de cada cliente. “Já fiz trabalhos em uma casa onde o morador pediu que a obra remetesse à praia, para que ele pudesse relaxar. Outras vezes já me pediram desenhos mais clean, de linha minimalista. O ideal é ter uma ‘palheta’ de ideias variada”, afirma o grafiteiro, que cobra em média de R$ 300 a R$1 mil por m², em ambientes fechados.  “O valor depende muito do trabalho. Avalia-se o material que será utilizado, o processo criativo, o tempo gasto. Então geralmente eu faço um preço do conjunto todo do projeto”, diz. Apesar do estilo vibrante e alternativo, Lucas acredita que sua linguagem não atinge apenas os jovens. “Existem pessoas de mais idade que, de certa forma, querem trazer uma juventude para dentro de casa. Elas enxergam a arte sem preconceito, somente pela energia que o grafite traz”, comenta. “Já os jovens são normalmente aqueles que estão comprando o primeiro apartamento e querem imprimir sua marca logo de cara”. O essencial, segundo ele, é ambientar o grafite sem deixar que a obra se torne um corpo estranho à casa. “Criar algo que os donos não queiram apagar mesmo com o passar do tempo”, conclui.

*Estagiário sob supervisão do editor de suplementos Daniel Fernandes

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