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(Viramundo) Esportes daqui e dali

Situação enjoada

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A situação de Dunga anda enjoada. A maré baixou pro técnico da seleção, ao mesmo tempo em que recrudesce a onda em favor de Tite para herdar o cargo. O nome do corintiano desponta de novo na boca do povo, o que faz sentido: em pouco tempo, remontou grupo escangalhado por saída de titulares e não perde a linha nem nos momentos mais encruados. Além de competente, é um lorde.

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O retrospecto nas Eliminatórias joga contra o trabalho de Dunga: em seis jogos, ou um terço do total, o Brasil ganhou dois, empatou três e perdeu um. Até setembro, quando for retomada a etapa de classificação para o Mundial de 2018, amargará o sexto lugar, que não lhe valeria nem o respiro da repescagem. Na região, passam os quatro primeiros e resta ao quinto a chance de buscar a vaga adicional contra representante da Oceania.

Mais que resultados precários, e a perspectiva de saltar uma Copa pela primeira vez na história, preocupa o desempenho. Até agora se viu uma equipe capenga, sem plano de jogo, com variações tradicionais, que às vezes evita o pior na base da raça, como nos 2 a 2 diante do Paraguai. Os jogadores não são ruins ou cabeças de bagre, vários atuam em clubes de ponta da Europa. Mas não surgiu a liga que os transforma em time vencedor.

Dunga alega que Eliminatórias são torneio especial, com dificuldades clássicas. Relembra, em seu favor, do esforço nacional para carimbar passaporte em edições passadas, como as de 94, 2002, 2006 e até 2010, embora nessa, sob o comando dele, tenha terminado em primeiro lugar. Por isso, alega que nem sempre prevalecem a técnica e a arte; a estas deve juntar-se coração.

Dedicação e empenho são compromissos que se espera de qualquer profissional, não são requisitos particulares de jogadores de futebol. Obstáculos na trajetória para um Mundial existem, e cada vez mais, pois vizinhos cresceram – aí estão Equador, Paraguai, Chile, Colômbia a frequentar com regularidade a fase final do campeonato.

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Por outro lado, o Brasil caiu e já não é o bicho-papão de outrora. Também nunca havia disputado Eliminatórias depois de passar por vexame inesquecível como os 7 a 1 para a Alemanha na Copa realizada em casa. Não há “cartinha de dona Lúcia” que apague a vergonha daquele episódio, não há conversa fiada que trate de explicar a surra como acidente de percurso. Por isso, a seleção tem obrigação de convencer, esse o desafio colocado para Dunga, ou para Tite se vier a sucedê-lo (e merece). Não adianta vir com objeções de praxe, como falta de tempo para reunir os atletas, as viagens, os adversários. Ao assumir, sabia o que iria enfrentar.

A propósito de calendário. Seleções têm cada vez menos dias para preparar-se e toda brecha precisa ser aproveitada. Por que Neymar e David Luiz foram dispensados após levarem amarelo no jogo com o Uruguai? Por que não ficaram com o grupo, como previsto? Mesmo suspensos, participariam de treinos, necessários para acelerar a busca de conjunto. Não teriam cabeça? Ora, são ou não profissionais?

Questiona-se também a capacidade Dunga para a função, aspecto que merece reflexão. Releve-se o temperamento: não se trata de achá-lo bacana, gentil, afável ou antipático e grosso. Importa pouco. Interessa o trabalho. Dunga como técnico foi invenção daquele presidente da CBF que se escafedeu. Em 2006, buscava disciplinador, após a zorra na Alemanha. Pensou no capitão do tetra, por ser sério. E disso ninguém duvida. Mas só seriedade não é suficiente.

A experiência foi dentro da média até a queda em 2010. Voltou em 2014, pelas mãos de José Maria Marin, com o pensamento do antecessor: era necessária sisudez. Os resultados são insatisfatórios. Temos de parar com papo furado de linha-dura. Treinador de seleção brasileira tem de chamar os melhores, lidar com humores e estrelismos deles; arrancar-lhes o máximo. E saber que a cobrança é brava. Quer menos pressão, grana boa e sumir de holofotes? Vá treinar na Arábia ou na China.

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