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Aquecimento global aumentará gasto do COB em Olimpíada de Paris: entenda o porquê

Comitê brasileiro investiu R$ 52 milhões em todo o ciclo olímpico, incluindo R$ 270 mil para a instalação de aparelhos de ar-condicionado nos quartos dos atletas

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Por Ricardo Magatti

A previsão de altas temperaturas na capital francesa durante os Jogos Olímpicos, entre 26 de julho e 11 de agosto, fez o Comitê Olímpico do Brasil (COB) aumentar seus gastos com a Missão Paris. O COB vai gastar cerca de R$ 270 mil para instalar aparelhos de ar-condicionado nos quartos dos atletas brasileiros na Vila Olímpica e aliviar a onda de calor, efeito direto do aquecimento global.

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O Comitê Organizador citou a questão da sustentabilidade e da justiça ambiental e decidiu não instalar aparelhos de ar-condicionado nos quartos da Vila Olímpica, o que foi motivo de críticas dos comitês olímpicos nacionais, já que, nos últimos Jogos Olímpicos, os dormitórios da Vila Olímpica eram climatizados.

“Tem de haver uma temperatura saudável para os atletas. Isso traz um ônus a mais para os comitês olímpicos nacionais”, constata Ney Wilson, diretor de Alto Rendimento do COB, em entrevista ao Estadão.

Depois de reuniões, Paris liberou a instalação de módulos temporários na Vila Olímpica, que custam 300 euros cada (cerca de R$ 1,5 mil), desde que cada comitê banque esse custo, e boa parte dos países, incluindo Estados Unidos, Holanda, Canadá e Brasil, aderiu. O ano de 2023 foi o mais quente já registrado, segundo relatório do Observatório europeu Copernicus, e a capital francesa registrou ondas de calor com 40ºC no verão passado.

“Uma boa noite de sono pode fazer a diferença no resultado e, como Paris 2024 será disputada sob forte calor, o COB não pensou duas vezes e decidiu que é um investimento que precisará ser feito”, afirma o ex-judoca Rogério Sampaio, atualmente diretor-geral do COB.

Vista da Torre Eiffel, cartão postal de Paris, onde serão realizados os Jogos Olímpicos de 2024 Foto: Gonzalo Fuentes/Reuters

Custo da Missão Paris

Em todo o ciclo olímpico, o mais curto da história, o COB investiu cerca de R$ 52 milhões. Wilson aponta “distorções grandes”, na sua avaliação, na organização dos Jogos de Paris em comparação com edições anteriores da Olimpíada, uma vez que alguns serviços antes oferecidos pelo Comitê Organizador passaram a estar sob responsabilidade dos comitês nacionais, que tiveram, portanto, de aumentar seus gastos.

“Em Paris, vão ceder transporte em número menor do que foi em Londres, Rio e Tóquio. Além disso, sem motorista. Então você tem que contratar o serviço de motorista. A lei da oferta e da procura coloca os preços lá em cima”, exemplifica o dirigente do COB.

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“Outro ponto em que deixaram de investir é nos cavalos. Antes, chegavam os cavalos e dali pra frente eles cuidavam da logística. Agora, toda parte de logística é de responsabilidade de cada comitê nacional. É um ônus grande”, acrescenta. O COB, como outros comitês nacionais, também teve de investir em segurança privada, por orientação do Comitê Olímpico Internacional (COI).

A complexa operação inclui, em 47 dias, emissão de 700 passagens internacionais, dez contêineres em deslocamento para Paris, 50 mil peças de uniformes, parte delas enviados da China para a capital francesa, 23 barcos, sete países com movimentação de cargas, 70 bicicletas e 17 automóveis, entre outros. O maior investimento do COB foi direcionado para a preparação dos atletas. Todas as vagas ainda não foram definidas, mas a estimativa é de que a delegação brasileira tenha entre 270 e 300 atletas.

Base do Time Brasil

Ney Wilson e Rogério Sampaio foram dois dos diretores do COB que estiveram na França para a última visita operacional da entidade antes da Olimpíada. Na semana passada, eles visitaram Saint-Ouen, cidade com aproximadamente 50 mil habitantes e a pouco mais de seis quilômetros do centro da capital francesa que será a base do Time Brasil na França.

“A gente está fazendo o refino. Estamos na fase de detalhamento. Sempre digo que a gente deve se preparar da mesma forma que os atletas. São os detalhes que fazem a diferença”, comenta Wilson, segundo o qual o planejamento para Paris-2024 começou ainda antes de Tóquio-2020, em 2019.

Em Saint-Ouen, o COB terá três instalações à disposição: o Château Saint-Ouen, o Ginásio das Docas e Serra Wangari. Cada um desses locais oferecerá serviços específicos no período dos Jogos.

Monumento histórico e símbolo da cidade, o Château Saint-Ouen pode acomodar serviços médicos, preparação mental, áreas operacionais e alimentação brasileira, além de ser o ponto de encontro dos atletas com seus amigos e familiares. Os atletas brasileiros estarão a cinco minutos a pé do castelo, que foi construído em 1823. Nenhuma outra delegação terá uma base tão próxima da Vila Olímpica.

Paulo Wanderley, presidente do COB, em frente ao Chateau de Saint-Ouen Foto: Camila Dantas/COB

O Ginásio das Docas oferece um local estratégico para as equipes de voleibol, modalidades de lutas e esgrima poderem treinar a menos de 10 minutos da Vila Olímpica, sem restrição de horário. Também será montada uma estrutura de força e condicionamento para os atletas.

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O COB contou com a ajuda da prefeitura de Saint-Ouen para dividir os custos. O investimento na base do Brasil na França gira em torno de 400 mil euros, sendo 50% desse valor bancado pelo comitê brasileiro e 50% pela administração local.

“Estamos bastantes seguros com o relacionamento com a cidade de Saint-Ouen. A gente fez reunião com a gerência de cada uma das instalações. A cidade tem sido muito solícita e o prefeito tem se mostrado muito simpático ao Brasil”, diz Ney Wilson.

O prefeito Karim Bouamrane, de fato, estabeleceu uma conexão com os brasileiros. Na semana passada, ele homenageou Sócrates ao inaugurar uma rua em Saint-Ouen, dentro da Vila Olímpica, com o nome do ídolo do Corinthians. A homenagem teve a presença de Raí, irmão de Sócrates, e de outras personalidades e autoridades.

“Trabalhar com o Brasil tem sido prazeroso. Espero que a parceria com o COB continue depois dos Jogos e que a boa relação se mantenha em projetos futuros”, disse Bouamrane.

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