O homem que mais vestiu o manto

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MARCEL RIZZO Jornal da Tarde

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SÃO PAULO - Neco garantia a quem ousasse perguntar : ele só tirava a cinta, em campo, para arrumar o calção e não correr o risco de ficar de cueca nos momentos cruciais das partidas. Nas décadas de 10 e 20, os jogadores usavam cintos. Era prático. Só que até o ano de sua morte, em 1977, Neco jurava que não tentou intimidar um árbitro ou nem espancou um rival do Palestra Itália com o objeto.

"Ele dizia que as histórias dos cintos eram fantasiosas. Briguento ele era, mas porque gostava demais do Corinthians", conta Maria Regina Cardeal, neta de Manoel Nunes, nome de batismo do craque, eternizado no Parque São Jorge com um busto desde 1929. Foi o primeiro ídolo da torcida, o artilheiro da primeira década e segundo seu biógrafo, o conselheiro corintiano Antonio Roque Citadini, o mentor, mesmo inconsciente, da rivalidade entre Corinthians e Palestra/ Palmeiras .

"Ele arrumou diversas confusões em jogos contra o Palestra. Foi suspenso algumas vezes pelas ligas da época. A rivalidade começou daí." Em 1919, contava Neco, um italiano ofereceu a ele dinheiro para não marcar no Palestra. Ele pegou porque estava precisando, mas fez dois gols e o Corinthians venceu . "Gastamos parte do dinheiro em cerveja", se divertia.

Neco chegou ao clube por meio do irmão César Nunes. Com 15 anos, o garoto já jogava no segundo quadro e com 18 estreou no time principal. Fez um total de 296 partidas, com 235 gols. É o quarto maior artilheiro do clube, atrás apenas de Cláudio (305), Baltazar (266) e Teleco (251).

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"Ele respirava Corinthians", lembra Maria Odila Cardeal Nunes, sua única filha. Hoje com 83 anos, ela vive com o marido Pedro em um apartamento na Zona Norte de São Paulo. "Ele morreu poucos meses antes de o Corinthians sair da fila (três meses). Era uma tristeza para ele ver o time que amava sem títulos", conta Maria Regina.

SELEÇÃOEm 1919, o Brasil conquistou seu primeiro título importante no futebol, o Sul-Americano, disputado no Rio de Janeiro. Neco foi titular e teve papel fundamental na segunda partida decisiva contra o Uruguai, quando marcou os dois gols no empate por 2 a 2, que levou a disputa para um terceiro duelo.

"Poucos lembram disso porque o gol do título foi marcado pelo Friedenreich, que era o queridinho na época porque jogava no Paulistano, time de elite. Mas ele só fez o gol porque o Neco fez uma baita jogada e o goleiro deu rebote", contou Citadini. Neco parou em 1930, mas com uma marca até hoje imbatível: 17 anos defendendo o manto alvinegro.

O NÚMERO 235gols marcou Neco nos 17 anos em que defendeu o Corinthians. É o quarto maior artilheiro da história, atrás somente de Cláudio (305), Baltazar (266) e Teleco (251). Ele encerrou a carreira em 1930, um ano depois de ganhar busto no Parque São Jorge.

Texto publicado no 'Jornal da Tarde' de 27/11/2009, em caderno especial

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