Fifa suspira com êxito da Copa do Mundo dentro e fora de campo
Presidente da entidade, Gianni Infantino, pôde comemorar o sucesso do primeiro Mundial que organizou
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Por Jamil Chade
Em um país sem liberdade de imprensa, com protestos proibidos e gastos públicos inéditos, a Fifa respira aliviada diante de uma Copa do Mundo tecnicamente bem-sucedida, a primeira do presidente Gianni Infantino. Quem também comemora é o governo de Vladimir Putin, que aposta que o evento pode ter mudado a percepção internacional sobre o país e fortalecido sua popularidade em casa.
A Fifa vinha de uma série de situações de impactos negativos à sua reputação. Os problemas da Copa de 2014, no Brasil, foram seguidos pela crise motivada pela corrupção. As finanças desabaram, os patrocinadores fugiram e seu governo caiu.
Vladimir Putin e Gianni Infantino comemoram o sucesso da Copa do Mundo na Rússia Foto: Alexei Nikolsky/Kremlin/Reuters
A primeira Copa depois dessa fase seria um teste para Gianni Infantino, questionado por uma gestão que peca pela falta de transparência. Ele afastou os investigadores independentes da entidade e ainda tentou aprovar iniciativas como a de fechar acordos com fundos de investidores, sem revelar seus nomes aos demais dirigentes. Mas o sucesso da competição dentro de campo e em termos comerciais deu oxigênio para que o suíço declarasse que havia virado a página da crise. Sua esperança é de que o Mundial sem solavancos abra caminho para sua reeleição, em 2019. Em termos financeiros, a crise dos últimos três anos foi superada, ainda que os patrocinadores tenham vindo da China, e não mais do Ocidente. Apesar dos prognósticos negativos, a Fifa conseguiu fechar a Copa com uma receita recorde de US$ 6,2 bilhões, com 98% dos estádios lotados e um sentimento de festa.
Não por acaso, Infantino já comemorou os resultados da disputa. “Sinto-me numa loja de brinquedos”, declarou diante de Putin. O evento também foi comemorado no Kremlin, que começa a sair de um período de recessão e que, em apenas quatro anos, somou 8 milhões a mais de pobres no país. O governo russo adotou uma forte censura, impedindo até mesmo que boletins policiais fossem publicados durante o mês. Protestos foram impedidos e interrompidos. Desacreditada, a seleção russa surpreendeu e chegou às quartas de final, levando a população a uma euforia comparada ao dia da vitória na Segunda Guerra Mundial, de acordo com organizadores. Até a derrota foi usada como fator de união e patriotismo, com Putin classificando seus atletas de “heróis”. Foi sob a cortina da festa que ele aumentou impostos no dia de abertura da Copa e elevou a idade de aposentadoria. Ninguém pôde protestar. Mas o objetivo dos russos não era vencer a Copa. Respondendo ao Estado, o vice-primeiro-ministro do país, Arkady Dvorkovich, deixou claro que a maior conquista foi seu impacto político e o potencial de mostrar uma nova imagem. Para ele, a hospitalidade que a população mostrou não foi propaganda. “Somos assim”, garantiu. “Esperamos que isso mude a atitude em relação à Rússia e ajude a estabilidade internacional.”
Veja as melhores imagens da Copa do Mundo na Rússia
1 / 39Veja as melhores imagens da Copa do Mundo na Rússia
Pós-Copa
Desembarque da seleção francesa no aeroporto, antes da carreata pela ruas de Paris Foto: Thomas Samson / AFP
Pós-Copa
Até a estátua deBan Jelacic, herói nacional croata, foi coberta com pano pela festa Foto: Antonio Bronic / Reuters
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Regra desrespeitada (parte1): A Fifa diz que apenas chefes de estado e campeões mundiais podem tocar na taça. As filhas de Lloris, entretanto, beiham ... Foto: Franck Fife / AFPMais
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Jogadores jogam o técnico Didier Deschamps para o alto; ele foi campeão como jogador em 1998 e agora como treinador Foto: Kai Pfaffenbach/Reuters
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Jan Vertonghen comemora vitória da Bélgica sobre a Inglaterra, na disputa pelo 3º lugar, com sua filha. Foto: Tolga Bozoglu/EFE
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Jovens russos jogam futebol na frente do Museu Hermitage, em São Petersburgo. O jeito é jogar por eles mesmos durante a espera pela final entre França... Foto: Sérgio Perez / ReutersMais
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Depois de se levantar, o fotógrafo recebeu abraços e beijos dos jogadores Mandzukic e Rakitic, entre outros Foto: Carl Recine / Reuters
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O zagueiro Vida comemora com o filho David a classificação histórica da Croácia à final da Copa do Mundo Foto: Carl Recine/Reuters
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Jogadores da Inglaterra choram depois da derrota na semifinal da Copa do Mundo para a Croácia Foto: Grigory Dukor/Reuters
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Mandzukic comemora o gol que colocou a Croácia em uma final de Copa do Mundo pela primeira vez na história Foto: Lavandeira Jr./EFE
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Thibaut Courtois consola sua filha Adriana depois da eliminação da Bélgica, do pai goleiro, diante da França na semifinal da Copa do Mundo Foto: Gabriel Bouys/AFP
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Harry Kane é tietado pelos torcedores da Inglaterra depois da classificação para a semifinal da Copa do Mundo Foto: Peter Powell/EFE
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Sósia do técnico da Gareth Southgate acompanha o jogo da Inglaterra diante da Suécia em Samara, pelas quartas de final da Copa Foto: Facundo Arrizabalaga/EFE
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Crianças posam ao lado de estátua do mascote da Copa, o lobo Zavivaka, perto do estádio Fisht, em Sochi Foto: Henry Romero / Reuters
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Homem assiste reprise da partida entre Rússia e Espanha enquanto se alista para o serviço militar obrigatório em Nizhny Novgorod. Será que ele está fe... Foto: Johannes Eisele / AFPMais
20º dia
Harry Kane 'pega' o goleiro Pickford pelo pescoço na comemoração da vitória da Inglaterra diante da Colômbia nos pênaltis Foto: Yuri Kochetkov/EFE
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Danny Rose, Uribe e Ospina observam finalização do inglês que passou muito perto da trave na prorrogação entre Inglaterra e Colômbia Foto: Kai Pfaffenbach/Reuters
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Sem reação: Yann Sommer observa a bola chutada por Forsberg e desviada por Akanji entrar mansamente na rede suíça. Foi o gol da classificação da Suéci... Foto: Martin Meissner / APMais
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Akanji, da Suíça,e Claesson, da Suécia, disputam a bola em jogo das oitavas de final. Se vê no rosto do jogador suíço o desespero pela redonda Foto: Gregorio Borgia / AP
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Neymar, Casemiro, Willian, Coutinho e Gabriel Jesus fazem referência ao jogo Counter Strike na comemoração do gol na vitória sobre o México por 2 a 0,... Foto: Wilton Júnior / EstadãoMais
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Ao lado de Mathias Jorgensen, Kasper Schmeichel, que pegou três pênaltis diante da Croácia,chora depois da queda da Dinamarca nas oitavas de final da ... Foto: Darren Staples/ReutersMais
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Campeão do mundo em 2010, na África do Sul, Iniesta confirmou sua aposentadoria da seleção da Espanha logo depois da eliminação para a Rússia nas oita... Foto: David Vincent/APMais
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Referência? Jogadores colombianos comemoram golde Mina como se tomassem choque em sequência. Será que lembraramdo seriado 'Chaves'? Foto: Gregorio Borgia / AP
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Japoneses recolhem o lixo deixado no estádio após a derrota (e classificação) da sua seleção no jogo com a Polônia. O hábito, conhecido como fujoshi, ... Foto: Toru Hanai / ReutersMais
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Artilheiros da vitória do Brasil sobre a Sérvia por 2 a 0, Thiago Silva e Paulinho se abraçam após o fim do jogo que colocou a seleção brasileira nas ... Foto: Eduardo Nicolau/EstadãoMais
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Um estádio inteiro em festa: suecos celebraram a vitória sobre o México, e mexicanos celebraram a vitória da Coreia sobre a Alemanha. Com resultado, t... Foto: Andrew Couldridge / ReutersMais
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Jogadores alemães lamentam derrota para a Coreia, o que leva à eliminação precoce e aúltima posição do grupo. Coreano comemora a vitória, apesar da el... Foto: Lee Jin-man / APMais
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Rojo carrega Messi e toda a Argentina nas costas ao marcar o gol da vitória diante da Nigéria que colocou os argentinos nas oitavas de final da Copa d... Foto: Henry Romero/ReutersMais
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Recordista: O goleiro El-Hadary, de 45 anos, tornou-se o jogador mais velho a atuar em uma partida de Copa do Mundo. O egípcio bateu a marca, que ante... Foto: Ueslei Marcelino / ReutersMais
Décimo dia
Imagem aérea deixa claro que o goleiro Robin Olsen não teve nenhuma chance na finalização perfeita de Kroos na vitória da Alemanha diante da Suécia Foto: Jewel Samad/AFP
Oitavo dia
Desde bebê: mãe peruana cuida do filho antes do jogo da seleção contra a França Foto: Damir Sagolj / Reuters
Oitavo dia
Exposição em São Petersburgo mostra jogadores como heróis do passado. Messi, Totti, Maradona, Griezmann e Cristiano Ronaldo estão representados,entre ... Foto: Anatoly Maltsev / EFEMais
Sexto dia
Cansaço ou tédio? Dupla de poloneses dormem antes da partida entre sua seleção eSenegal Foto: Maxim Shemetov / Reuters
Sexto dia
Torcedores do Japão comemoram vitória de sua seleção na estreia diante da Colômbia Foto: Jason Cairnduff/Reuters
Quarto dia
Torcedor alemão com chapéu de "mariachi" decepcionado com a derrota para o México por 1 a 0. Foto: Carl Recine/Reuters
Primeiro dia
Torcedora com o rosto pintado no estádio Lujniki, antes da partida de abertura da Copa Foto: Christian Hartmann / Reuters
Pré-Copa (de 2026)
Em congresso realizado na manhã de 13 de junho, a Fifa anunciou que México, Canadá e Estados Unidos sediarão a Copa de 2026. Os três países concorriam... Foto: Kena Betancur / AFPMais
Pré-Copa
Na Alemanha, um zoológico tenta encontrar um novo animal oráculo. Os funcionários jogaram bolas com as bandeiras de Alemanha e México para uma foca, e... Foto: Bernd Wuesteneck / AFPMais
Pré-Copa
10 de junho: aArábia Saudita foi a primeira seleção a chegar à Rússia para a Copa, e treinou no estádio Petrovsky, em São Petersburgo, com o apoio da ... Foto: Anton Vaganov / ReutersMais
Putin insiste que também alcançou outra meta: acabar com os estereótipos no Ocidente sobre a Rússia. Segundo ele, quem levaria essa nova imagem seriam os “torcedores-jornalistas”, e não a imprensa ocidental que, segundo ele, fazia campanha contra Moscou. Os torcedores e cidadãos, porém, viveram uma Copa sem informações. O governo russo não concedeu uma só coletiva de imprensa durante o evento e raramente respondeu a questões de jornalistas estrangeiros. Já a imprensa local se limitou a ecoar a mensagem de patriotismo vinda do Kremlin. Na Fifa, a tradição de realizar uma coletiva de imprensa por dia foi abolida e comunicados foram publicados durante a madrugada. Questionada pelo Estado se poderia falar sobre a Copa, a secretária-geral da Fifa, Fatma Samoura, rejeitou fazer qualquer declaração. “Não falo durante a Copa do Mundo”, disse a africana, enquanto uma assistente apontava que ela tinha uma agenda muito cheia. Sem ter de prestar contas, a Rússia realizou o evento mais caro da história do futebol, destinando US$ 11 bilhões – R$ 49 bilhões. Consultorias e economistas admitem que dificilmente o impacto será de longo prazo. Oficialmente, US$ 3,5 bilhões foram destinados aos estádios, alguns dos mais caros do mundo, e pelo menos quatro deles correm risco de se transformarem em elefantes brancos. Mas a Copa serviu para Moscou usar megaeventos como instrumentos de propaganda. Até agora, US$ 70 bilhões foram gastos em torneios, campeonatos mundiais e Olimpíada de Inverno. E, em 2019, a Universíade será na Rússia. Já em 2020, São Petersburgo recebe jogos da Eurocopa. O êxito do Mundial ainda abre as portas para uma candidatura russa à Olimpíada de 2032. No domingo, Moscou deve receber pela primeira vez, desde a crise do doping em 2015, o presidente do COI, Thomas Bach, para reatar laços. “Vamos avaliar uma eventual candidatura aos Jogos Olímpicos”, disse o vice-primeiro-ministro. “Mas isso depende do chefe de Estado.” O mandato de Putin termina em 2024. Em Moscou, ninguém imagina hoje uma alternativa ao czar, principalmente depois desta Copa.