Na iminência de ganhar o título brasileiro e a seis dias de enfrentar o River Plate na final da Libertadores, o Flamengo é o time do momento. Nas ruas do Rio de Janeiro, é possível ver alguém vestindo a camisa rubro-negra a cada quadra da cidade. O Maracanã, em jogos do time, sempre lota, e as rendas ajudam a encher os cofres do clube. O flamenguista vive um momento mágico, como há muito não se via. O time de Arrascaeta, Everton Ribeiro e Bruno Henrique está sobrando. Mas é outro jogador que hoje é a cara do Flamengo: Gabriel Barbosa ou simplesmente Gabigol.
Artilheiro do Brasileirão, Gabriel alcançou neste domingo um feito até então só registrado por Zico, o maior ídolo da história do Flamengo, ao marcar 21 gols numa mesma edição do campeonato. Eles estavam empatados no recorde, mas com o gol feito diante do Grêmio, de pênalti, Gabigol assumiu a dianteira nessa conta e agora tem 22 gols.
Os bons números, frutos de um futebol agudo e objetivo nas cercanias da grande área, fazem de Gabriel Barbosa o novo "Rei do Rio", título que mais recentemente pertenceu a outros dois jogadores de respeito: Romário e Renato Gaúcho. Os cartazes "Hoje tem gol do Gabigol" já são um clássico do Maracanã. Ocorre que eles estão se espalhando para fora do estádio, nas esquinas, botecos e dentros de ônibus. A comemoração característica, demonstrando força ao dobrar os dois braços, é sucesso entre a garotada. A vontade de imitar o ídolo é tanta que até o corte e a cor do cabelo do atacante está virando moda entre adultos e crianças. Os sósias se multiplicam pela cidade.
Mais recentemente, começaram a surgir sósias mirins. Com apenas oito anos, Vitor Bonini está ganhando fama nas redes sociais como o "Mini Gabigol". Com corte de cabelo parecido, maquiagem para desenhar a barba e até tatuagens – dessas que saem com a água, frise-se – espalhadas pelos braços e pescoço, o garoto deixou de ser mais um torcedor do Flamengo entre os 50 mil que tem ido ao Maracanã com frequência para ser um dos mais procurados para fazer foto.
"Quando o Gabigol faz gol, eu o imito", diz Vitor. Na quarta-feira passada, horas antes de o clássico com o Vasco começas, aquele do 4 a 4, o menino conversou com o Estado enquanto era maquiado pela mãe, a estudante Débora Nascimento. "Ainda não me encontrei com ele, mas esse é meu maior sonho. Queria ficar perto do Gabigol e tirar uma foto ao seu lado", disse o garoto.
Vitor joga em uma das escolinhas do Flamengo, em Seropédica, no Grande Rio. Ele atua na zaga ("é raçudo!", garante a mãe), mas às vezes é escalado no ataque, na mesma posição do ídolo. "Eu jogo onde o time precisa", assegura o Mini Gabigol.
Virar sósia mirim "do cara" do Flamengo no momento, porém, tem seus custos. "Todas as semanas ele tem de ir ao cabeleireiro retocar a pintura do cabelo clareado", ressalta a mãe. Outro gasto é com as tatuagens, que passaram a ser usadas mais recentemente. "A gente gasta uns R$ 50 por semana", diz Débora, que explica ainda que em geral a barba é pintada pelo pai, o bancário Thiago Bonini.
Segundo a mãe do garoto, a razão de transformar o filho no sósia mirim do atacante do Flamengo é simplesmente atender a um desejo do próprio filho. "A gente entrou na fantasia dele", explica. Ela criou um perfil no Instagram em que posta fotos de Vitor imitando o ídolo do clube. "Muita gente nos chama por lá para pedir para fazer foto com ele. O mais legal é que, até pouco tempo atrás, o Vitor não gostava de aparecer em fotos, mas agora está curtindo."
O fenômeno Gabigol também arrebata fãs mirins de outros Estados brasileiros. Na partida contra o Grêmio, domingo passado, o jogador foi cercado por garotos gremistas e bastante ovacionado. Ele chegou a dar uma camisa para um dos meninos.
Arthur Bottura Moreira, de 7, saiu de Londrina, no Paraná, na terça-feira para assistir com a mãe e a avó ao clássico com o Vasco, no dia seguinte. Na quarta pela manhã, com o cabelo devidamente pintando de loiro, ele foi até a frente do Maracanã buscar por uma camisa do atacante rubro-negro.
"Ele faz muito gol. É o jogador que mais quero conhecer no mundo", diz o menino. A mãe, Franciane, dá corda, mesmo sendo torcedora do Palmeiras - o único time ainda em condições de tirar o título da Gávea este ano. "Eu gosto dessa idolatria do Arthur. Futebol é um esporte e isso leva as crianças para o bem."
Por incrível que pareça, o grande momento de Gabriel Barbosa no Flamengo também é comemorado por alguns torcedores de seus maiores rivais. É o caso do vendedor ambulante Renan Moraes, que é torcedor do Fluminense e vende camisas com o nome do atacante rubro-negro em frente ao Maracanã. Preço popular. "Entre os turistas brasileiros, vende mais do que a camisa do Pelé", revela. "Vou falar o quê? Não vou vestir a camisa dele, mas tenho de trabalhar, né?"
Quando Romário e Renato Gaúcho foram eleitos extra-oficialmente "Reis do Rio", em momentos distintos, eles também foram aclamados pelos torcedores. No caso de Renato, quem fazia a festa era a torcida do Fluminense. A vez agora é de Gabigol, curiosamente um jogador que cresceu em São Paulo e fez fama no Santos ante de ganhar o mundo e o Rio de Janeiro.