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Vozes da rua se fizeram presentes no encerramento no Maracanã

Manifestantes furam cerco da Fifa e protestam dentro do estádio da Copa das Confederações

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Atualização:

RIO - A Fifa bem que tentou, mas não conseguiu deixar os manifestantes do lado de fora do Maracanã. Na festa de encerramento da Copa das Confederações, três voluntários levaram para o gramado uma pequena mostra dos protestos que percorreram as cidades-sede e outros cantos do País durante todo o mês de junho. “As vozes da rua se fizeram presentes”, afirma a atriz Claudia Wer, que junto com o autônomo Elton Moraes levantou a faixa que pedia a “imediata anulação da privatização do Maracanã”. Os dois tiveram a companhia do professor de interpretação Alex Tietre, que fez um bem-humorado protesto em favor da causa gay.Para conseguir passar pelo forte esquema se segurança, Tietre colocou sua bandeira nas cores do arco-íris (“Ser gay é ‘mara’, aberração é o preconceito”) na altura da cintura, por baixo da roupa, presa pelo cinto. Já a faixa de Claudia e Elton estava dentro da mochila dele. Feita com o tecido TNT, leve e de pouco volume, ela não foi percebida pelos seguranças no detector de metais. Para entrar no gramado com a faixa, Elton colocou-a embaixo do macacão da fantasia e da camisa mais justa que usava.Quando se inscreveram para participar do evento, nenhum deles se conhecia nem pensava ainda em protestar. Mas Elton, que se voluntariou porque queria assistir ao jogo, viu que “o fervor das ruas já tinha começado”, e ficou sabendo nos ensaios que Cláudia estava à procura de um parceiro para a empreitada. “Entre as tantas necessidades que o Brasil tem, vimos que estávamos dentro do Maracanã e talvez aquela seria a última oportunidade de defender o Maraca lá dentro, enquanto ele é público”, diz Cláudia.Os dois foram os primeiros a protestar. Elton não ficou nem um pouco apreensivo. “Não tive medo hora nenhuma. O único medo foi de ela não levantar pra me ajudar com a faixa.” A manifestação durou poucos segundos, já que a faixa foi rapidamente arrancada pelo staff, mas a preparação foi demorada. Para não atrapalhar a coreografia, eles decidiram atuar no momento dos batuques e ensaiaram diversas vezes o deslocamento. Cláudia acredita que os recentes protestos têm surpreendido também os estrangeiros. “Nós somos historicamente muito passivos, sempre só sorrisos. O brasileiro agora tem mostrado uma outra face, e é uma face cidadã. Estamos nos preocupando sim com questões importantes no Brasil neste momento, e não vamos ficar calados”.Pouco tempo depois, pego de surpresa pela atitude dos colegas de dança, Tietre erguia sua bandeira. Ele esteve presente nas recentes manifestações, pediu sugestão de frases de impacto para amigos, e decidiu aproveitar o momento. “Já nos primeiros ensaios comecei a avaliar o porquê de eu estar ali. Comecei a pensar o quanto de dinheiro que rola nesses eventos, o quanto cada jogador ganha”.A ideia da frase veio um dia antes, em referência a uma recente declaração da ex-apresentadora infantil Mara Maravilha, que chamou a homossexualidade de “aberração”. “O que fiquei chateado foi que alguns disseram: ‘ah, se pelo menos você tivesse protestado contra a fome, a gente apoiava’. Mas não vou nem responder a isso, porque o meu recado já foi dado”.Os três acabaram deixando o gramado bem antes da final entre Brasil e Espanha. Mas eles não iam ver o jogo no estádio de qualquer jeito. Os voluntários do corpo de baile estavam lá só para a festa de encerramento. Não ganharam sequer convite como recompensa pelo trabalho prestado.

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