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Poucos fãs visitam túmulo de Senna

Por Agencia Estado
Atualização:

Solange Lumertz não levou hoje a palha de aço que costuma carregar na bolsa todas as vezes em que sai do Itaim Paulista rumo ao Morumbi, caminho que desconhecia oito anos atrás. Apesar de não estar munida de sua arma contra a ferrugem, não deixou de pegar três ônibus logo cedo, em companhia da filha de 15 anos, para fazer o trajeto com destino ao Cemitério do Morumby. O programa do feriado da trabalhadora de 47 anos que, desempregada como metalúrgica, passou a fazer faxina em casa de família, era passar o dia ao lado de seu maior ídolo: Ayrton Senna. "Eu não sei bem por que faço isso. Só sei que quero ficar o mais perto possível dele", explicou a fã na tarde desta quarta-feira, ao lado do ipê rosa que, quando não afetado pelo outono, faz sombra no túmulo do piloto, morto no acidente do GP de San Marino em 1º de maio de 1994. A tristeza de Solange no oitavo ano da morte do tricampeão mundial de Fórmula 1 ganhou nesta quarta-feira um componente novo. "Eu não sei o que está acontecendo. Antes isso aqui ficava cheio direto. Agora é só esse tiquinho aí", apontava na direção das 13 pessoas que, por volta do meio-dia, olhavam para as centenas de flores que cercavam a lápide com o nome do piloto - a placa de metal ela mesma lustra, a cada dez dias. "É um pouquinho do que posso fazer para retribuir o que ele fazia pela gente." Sem ganhar nenhum centavo, Solange também cuida da lápide de Flávio Pereira Lalli, cunhado do piloto, marido de Viviane Senna: "Faço de coração." O funcionário público George Alexandre, que também visita o túmulo com freqüência, estava indignado com a escassez de visitantes: "Brasileiro tem memória curta. Eu também acho que talvez a família do Senna pudesse fazer algo para divulgar mais a imagem dele. Eu sei que a Viviane tem trabalho com o Instituto (Ayrton Senna, que cuida de menores carentes), mas ela podia delegar poderes para alguém cuidar disso." Foram de fato em número bem menor as visitas ao túmulo de Senna, em relação aos anos anteriores, de acordo com a administração do cemitério. Mas muita gente que foi até lá não se importava com isso. Queria prestar sua homenagem, como o chileno José Miguel Donoso. "E é muito emocionante. Primeiro porque foi um grande piloto. Ayrton Senna foi um exemplo como pessoa, um ser correto que sempre lutou pelo que queria", disse o gerente geral da Audi em Santiago. Dácio Gomes da Silva, atendente de supermercado, poderia ter ido de ônibus do Embu, onde vive, para o Morumbi. Mas quis ir de bicicleta só para carregar a bandeira do Brasil, como fazia o ídolo quando vencia uma corrida. Antônio Paulo Batista, 40 anos, também saiu de longe. Foram 18 horas de ônibus de Capão da Canoa, no Rio Grande do Sul, para chegar na manhã desta quarta-feira ao cemitério. Com um macacão parecido com o que Senna usava nos tempos da McLaren, o distribuidor de panfletos comerciais entoava letras compostas por ele mesmo mesclando composições de Roberto Carlos e Teixeirinha. "Ele entra no coração dos fãs", contava o auto-denominado clone do piloto. "Como eu ainda sou solteiro, só estou esperando a Xuxa ou a Adriane Galisteu, já que elas não casaram com ele...."

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