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É falso que receita com vinagre de álcool e carvão afaste o mosquito Aedes aegypti

Vídeo publicado no Facebook ensina mistura sem eficácia científica comprovada para combater o mosquito transmissor dos vírus da dengue, chikungunya e zika

Por Maria Eduarda Nascimento
Atualização:

O que estão compartilhando: que adicionar duas colheres de vinagre de álcool e um pedaço de carvão em uma vasilha com 250 ml de água, afasta o mosquito Aedes aegypti de residências.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Não há evidências científicas de que a mistura de vinagre de álcool, carvão e água seja eficaz para afastar o mosquito Aedes aegypti de residências. Especialistas consultados pelo Verifica explicaram que os componentes da receita não possuem eficácia no combate ao mosquito transmissor dos vírus da dengue, chikungunya e zika. Segundo o médico infectologista Geraldo Cunha Cury, professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a combinação pode causar efeito contrário e servir como um criadouro do mosquito.

Receita que supostamente afastaria o mosquito da dengue de residências foi ensinada em um vídeo que circula no Facebook Foto: Reprodução/Facebook

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Saiba mais: A receita que supostamente afastaria o mosquito da dengue de residências foi ensinada em um vídeo que circula no Facebook. Na gravação, o autor afirma que bastaria colocar a mistura de vinagre, carvão e água em um canto da casa para afastar o inseto. A prática, no entanto, não tem eficácia e pode oferecer risco caso o líquido esteja ao alcance de crianças e animais domésticos.

De acordo com o biólogo Ademir Martins, que é pesquisador do Laboratório de Biologia, Controle e Vigilância de Insetos Vetores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e especialista em Aedes aegypti, os mosquitos se orientam por meio de percepções sensoriais e o olfato é uma delas. “É assim, por exemplo, que eles percebem a presença de humanos, através de odores que exalamos, como o gás carbônico e ácido lático”, disse.

Segundo Martins, os mosquitos podem ser atraídos pelo vinagre, que é ácido acético. Ao se aproximarem, eles morrem intoxicados ou afogados, no entanto, isso não significa que a receita verificada aqui seja uma medida de combate. O biólogo destacou que o Aedes aegypti é um inseto doméstico que vive dentro e ao redor das residências. “Não adianta colocar uma vasilha com vinagre em um canto da casa, pois ele vai onde os habitantes forem, em todos os cômodos”.

Conforme explicou o infectologista Geraldo Cury, isoladamente o vinagre ou o carvão não possuem nenhuma eficácia contra o mosquito que transmite a dengue. “Essa receita inclusive representa um risco, porque você coloca uma água ácida na sua casa”, disse. O especialista comentou que estudos feitos por pesquisadores mostram que condições extremas de pH ácido, como o do vinagre, não impedem o criadouro do mosquito.

Combate ao mosquito

De acordo com o Ministério da Saúde, a melhor forma de combater o mosquito Aedes aegypti é impedindo o nascimento dele. Nesse sentido, a população deve manter a caixa d’água bem fechada; receber bem os agentes de saúde e de endemias; amarrar bem os sacos de lixo; colocar areia nos vasos de planta; guardar pneus em locais cobertos; limpar bem as calhas de casa; não acumular sucata ou entulho e esvaziar garrafas PET, potes e vasos.

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O biólogo e pesquisador Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) destacou que a melhor estratégia contra o mosquito é a verificação semanal de possíveis criadouros. “Com apenas 10 minutinhos por semana é possível andarmos pela casa e ao redor para verificar se há objetos que estão acumulando água e virando depósito de ovos do mosquito”, disse Martins.

Se cada um verificar os pontos de atenção da residência uma vez por semana, Martins explicou que a população consegue interferir no desenvolvimento do vetor, já que seu ciclo de vida, do ovo ao mosquito adulto, leva de 7 a 10 dias. “Com uma ação semanal, é possível impedir que ovos, larvas e pupas do mosquito cheguem à fase adulta, freando a transmissão dessas doenças”.

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