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Campanha de Trump dispara uma enxurrada de anúncios negativos contra Kamala. Vai funcionar?

Trump inicialmente pareceu fora de forma ao lidar com sua nova oponente, mas, conforme a campanha chega à fase final, seus conselheiros e aliados estabeleceram uma estratégia clara

Por The Economist

A corrida presidencial foi virada de cabeça para baixo nos dois meses mais recentes, mas um comício de Donald Trump ainda é um comício de Donald Trump. Milhares de apoiadores se aglomeraram para vê-lo em um comício recente no sudoeste da Pensilvânia. Como de costume, os comerciantes venderam uma variedade de mercadorias em constante evolução para satisfazer todos os tipos de fãs do movimento MAGA (“Se você não estiver usando um boné do Trump, pode ser confundido com um democrata”, alertou um vendedor, piscando).

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Um dançarino de break com uma máscara de Trump se apresentou para quem estava em uma fila que se dobrava uma esquina e subia a colina. Os participantes zombaram ou ignoraram o punhado de manifestantes anti-Trump do lado de fora. E Trump foi bem fiel a si mesmo, gabando-se para fãs encantados de como ele havia dominado “a trama”. Ele explicou: “Eu falo de nove coisas diferentes, e todas elas se juntam brilhantemente, e é como se meus amigos que são, tipo, professores de inglês, dissessem: ‘É a coisa mais brilhante que já vi’”.

Trump deixou a Convenção Nacional Republicana em julho como um claro favorito contra Joe Biden. O surgimento de Kamala Harris fez a disputa reiniciar. Trump inicialmente pareceu fora de forma ao lidar com sua nova oponente, mas, conforme a campanha chega à fase final, seus conselheiros e aliados estabeleceram uma estratégia clara.

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa de um compromisso de campanha em Nova York, Estados Unidos  Foto: Alex Brandon/AP

Eles estão apostando pesadamente em anúncios de ataque que pintam Kamala como uma esquerdista desatualizada que é branda demais com o crime e a imigração. Um objetivo é persuadir os eleitores de que Kamala — que quer que a eleição seja um referendo sobre seu rival — deve ser responsabilizada como a segunda maior autoridade em um “governo fraco e patético”.Talvez a abordagem esteja funcionando: a coalizão vencedora de Biden em 2020 desmoronou durante sua tentativa de reeleição, e Kamala a reconstruiu apenas parcialmente, apesar do progresso que ela fez nas pesquisas em um curto espaço de tempo.

Seu apoio entre os eleitores com menos de 30 anos caiu 12 pontos abaixo do resultado que Biden obteve em 2020, de acordo com a pesquisa do Wall Street Journal. Ela está dez pontos atrás entre os eleitores negros e o apoio hispânico caiu seis pontos. Essas lacunas podem ser decisivas, dado que Biden ganhou a presidência há quatro anos por uma margem de apenas 44.000 votos em três estados indecisos. Atualmente, 53% dos americanos veem Trump desfavoravelmente, de acordo com a FiveThirtyEight, uma empresa de jornalismo de dados. Isso importava menos quando Trump estava concorrendo contra Biden, de quem os eleitores desgostavam ainda mais.

Mas Kamala agora obtém avaliações favoráveis de 46% dos americanos, quase a mesma parcela que a vê desfavoravelmente. Com os números de Trump aparentemente inalterados, será difícil para ele vencer, a menos que derrube Kamala, como fez em sua disputa contra Hillary Clinton.

O ex-presidente americano e candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa de um debate com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em Atlanta, Estados Unidos  Foto: Gerald Herbert/AP

A campanha e os grupos aliados estão investindo pesadamente nessa estratégia. Na semana que antecedeu o comício de Trump em Johnstown, 57% dos gastos com televisão vieram da campanha de Trump e dos super PACs aliados. Tudo isso foi canalizado para anúncios de ataque contra a Kamala, de acordo com a AdImpact, uma empresa de rastreamento de mídia.

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A campanha de Kamala e seus aliados anunciaram menos durante esse período e adotaram uma abordagem menos negativa. Menos de um quinto dos anúncios de Kamala foram dedicados exclusivamente a atacar Trump; o restante promoveu Kamala ou a comparou favoravelmente com Trump.

A candidata presidencial democrata e vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, participa de um comício em North Hapton, New Hampshire  Foto: Steven Senne/AP

Clima para um passeio de barco

Chris LaCivita, um conselheiro sênior da campanha de Trump, certamente sabe como derrubar um adversário. Durante a corrida presidencial de 2004, o veterano republicano e veterano do Corpo de Fuzileiros Navais desempenhou um papel fundamental entre os Swift Boat Veterans for Truth.

A organização de advocacia política transformou o serviço militar de John Kerry, o candidato democrata, em um ponto fraco com uma série de anúncios questionando seu histórico durante a guerra do Vietnã. Kerry estava liderando a corrida contra George Bush durante o verão, mas viu sua vantagem diminuir conforme os anúncios foram ao ar. As evidências da eficácia dos anúncios de campanha são mistas, mas pesquisadores da Universidade Northwestern descobriram que anúncios negativos suprimem o voto mais do que anúncios positivos o incentivam. Os anúncios negativos de Trump a respeito de Kamala se concentram na imigração e no crime.

Um deles lista vários imigrantes ilegais que foram presos por cometer crimes violentos e depois libertados: “Quem libertou todos eles? A promotora liberal Kamala Harris. O sangue das vítimas está em suas mãos.” Outro deles alerta que Kamala quer fornecer “anistia para os 10 milhões de imigrantes ilegais que ela permitiu entrar como czar da fronteira”, o que eventualmente “levará a cortes nos benefícios da Previdência Social para os americanos”.

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Ninguém jamais acusou Trump de sutileza. No entanto, a negatividade implacável está deixando os fãs de Trump nervosos. “Eu realmente gostaria que ele se ativesse mais à política do que aos xingamentos”, disse Doug Feathers, um homem de 46 anos de Hollidaysburg, Pensilvânia. “Eu não discordo dos xingamentos dele. Eu realmente gosto do entretenimento. Mas atenha-se à política em nome dos eleitores que ainda estão indecisos.”

Enquanto Trump gastou mais do que Kamala na última semana de agosto, ela investiu muito mais em publicidade nos últimos dias da campanha. A campanha de Kamala atualmente investiu US$ 52,4 milhões, em comparação com US$ 14,1 milhões da equipe de Trump para a semana de 22 de outubro.

E, até agora, Trump só lidera em gastos totais na Geórgia. Os democratas investiram mais dinheiro em todos os outros estados indecisos. Tendo investido cedo em anúncios que promovem a biografia de Kamala e seu emprego de verão no McDonalds durante a juventude, os estrategistas democratas ainda podem decidir igualar os ataques brutais de Trump conforme o dia da eleição se aproxima. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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